Salta o pequeno-almoço todos os dias? O sistema imunitário é que paga

4 mar 2023, 11:00
Pequeno-almoço (Pexels)

É um tema controverso, com estudos a apontar benefícios e riscos. O mais recente alerta para o impacto que jejuar pode ter no combate a infeções

O jejum intermitente tem conquistado adeptos nos últimos anos pelas promessas de perda de peso (embora dependam da qualidade e da quantidade ingerida na primeira refeição depois de jejuar) e de benefícios para casos concretos, como baixar o colesterol ou os níveis de açúcar no sangue, mas saltar o pequeno-almoço pode não ser a melhor opção para o sistema imunitário, sugere um recente estudo.

De acordo com a investigação da Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai, nos Estados Unidos, o jejum pode comprometer a capacidade de o sistema imunitário combater infeções, o que, por seu turno, pode levar a um aumento do risco de doenças cardíacas ou até cancro.

A conclusão, publicada na revista Immunity, chegou depois de ter sido analisado o impacto do jejum em ratos de laboratório, fosse ele de apenas algumas horas (como acontece com a janela de tempo entre o jantar e o pequeno-almoço) ou de um dia inteiro. 

Para esta avaliação, foram comparados dois grupos de ratos através de colheitas de sangue feitas em jejum e quatro e oito horas depois da primeira refeição do dia. Os animais foram divididos num grupo que tomava o pequeno-almoço assim que acordava e noutro que saltava esta primeira refeição do dia, fazendo do almoço o início do dia alimentar ou somente tomava o pequeno-almoço no dia seguinte. 

Comparados os dados, os cientistas notaram diferenças a nível de monócitos nos ratos que jejuavam. Os monócitos são o maior tipo de leucócitos com a capacidade de combater infeções e algumas doenças, como as cardíacas e o cancro. 

Estes glóbulos brancos caem a pique (mais de 90%) à medida que as horas sem comer passam, além de que a produção de novos fica também reduzida, concluem os cientistas. 

Mas há mais, diz o estudo: quando o jejum é de 24 horas, a primeira refeição do dia apresenta um efeito inflamatório. Perante este jejum prolongado, os poucos monócitos que restam vão ‘hibernar’ para a medula óssea e, quando se volta a comer, regressam à corrente sanguínea em poucas horas. No entanto, lê-se na publicação da universidade, “este aumento levou a um nível elevado de inflamação” nos ratos analisados, pois, “em vez de proteger contra a infeção, esses monócitos alterados eram mais inflamatórios, tornando o corpo menos resistente ao combate à infeção”.

Os autores deste estudo são cautelosos ao dizer que o jejum é prejudicial para todas as pessoas, uma vez que foram já levadas a cabo outras investigações que mostram potenciais benefícios, mas defendem uma maior consciencialização e até acompanhamento na hora de mudar o regime alimentar. Sabe-se, por exemplo, que nem todas as pessoas com diabetes deve jejuar.

“Há uma consciência crescente de que o jejum é saudável e, de facto, há evidências abundantes dos benefícios do jejum. O nosso estudo fornece uma palavra de cautela, pois sugere que também pode haver um custo que acarreta um risco à saúde”, diz o principal autor do estudo, o investigador Filip Swirski.

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