Oito horas de solidão podem ser tão negativas como ficar sem comer

CNN Portugal , DCT
23 abr 2023, 21:00
Solidão (Pexels)

Cientistas acreditam que o isolamento a longo prazo pode ter um impacto ainda mais negativo na saúde

Estar privado de contactos sociais causa um cansaço físico igual ao de um jejum de oito horas, conclui um estudo das Universidades de Viena, na Áustria, e de Cambridge, no Reino Unido.

“O isolamento social levou a uma menor excitação energética autorreferida e a um aumento da fadiga, comparável à privação de alimentos”, lê-se no estudo, publicado na revista Psychological Science.

Para chegarem a esta conclusão, os cientistas investigaram os efeitos de oito horas de isolamento social em variáveis ​​psicológicas e fisiológicas e compararam esses mesmos efeitos com oito horas de privação de alimentos. 

Para tal, os cientistas realizaram um estudo de laboratório e um estudo de campo. No estudo controlado de laboratório, analisaram 30 voluntários durante três períodos de oito horas ao longo de três dias: num dia os participantes foram privados de contacto social durante essas horas, no outro foram privados de alimentos e no terceiro foram privados de ambos. No final de cada uma destas experiências, os participantes relataram os níveis de stress, humor e cansaço, tendo ainda sido medidos os níveis de cortisol e a tensão arterial.

Já o estudo de campo decorreu durante o primeiro confinamento da covid-19 (abril e maio de 2020), tendo participado 87 pessoas da Alemanha, Áustria e Itália, que se submeteram a oito horas de isolamento total e responderam, através de uma aplicação móvel, a questões sobre os níveis de stress, humor e cansaço.

“No estudo de laboratório, encontrámos semelhanças impressionantes entre o isolamento social e a privação de alimentos”, os psicólogos Ana Stijovic e Paul Forbes, da Universidade de Viena, na Áustria. Segundo estes dois autores do estudo, “ambos os estados induziram a uma diminuição da energia e a um aumento da fadiga, o que é surpreendente, visto que a privação de alimentos faz-nos, literalmente, perder energia, enquanto o isolamento social não”.

“O isolamento social de curto prazo aumentou a solidão momentânea e o desejo de contacto social”, dizem os autores, defendendo que estas duas experiências, e a redução do nível de energia que as pessoas relataram após estarem em isolamento social durante apenas oito horas, leva a crer que o impacto a longo prazo pode ser ainda mais nocivo para a saúde física e mental.

“Mudanças na energia e na fadiga após o isolamento social agudo podem ser um precursor dos efeitos mais prejudiciais do isolamento de longo prazo. A solidão mostra uma forte relação bidirecional com sentimentos de energia e o isolamento social percebido momentaneamente está relacionado com a maior sonolência, fadiga e menor energia no dia seguinte”, concluem.

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