Uma médica e especialista em bem-estar da CNN Internacional destaca a importância de compreender os impactos do stress na saúde física e mental
Não há dúvida de que o stress faz parte da vida quotidiana, mas em excesso pode ter impactos prejudiciais na saúde física e mental das pessoas.
Quis aprofundar os impactos do stress na saúde durante o mês de sensibilização para o stress. O que é que o stress faz ao corpo? Quando é que se torna um problema e quais são as formas de lidar com ele? E o que é que as pessoas podem fazer com fatores de stress como um emprego difícil ou responsabilidades de prestação de cuidados que não podem simplesmente desaparecer?
Para nos ajudar a responder a estas perguntas, conversei com a especialista em bem-estar da CNN, Leana Wen, médica de urgência e professora adjunta na Universidade George Washington, nos Estados Unidos. Trabalhou anteriormente como comissária de saúde de Baltimore.
O que é que o stress faz ao corpo de uma pessoa?
Quando as pessoas pertencem uma aparente ameaça, são libertadas várias hormonas que fazem o coração bater mais depressa e aumentam a tensão arterial e o açúcar no sangue. Estas hormonas também desviam energia de outras partes do corpo, como o sistema imunitário e o sistema digestivo. Trata-se de adaptações evolutivas que, em tempos, ajudaram as pessoas a reagir a situações como a perseguição de predadores. Estas reacções de "luta ou fuga" são normais e podem ser úteis na vida moderna. Por exemplo, podem ajudar um atleta a ter um desempenho mais rápido ou um estudante a manter-se acordado para estudar para um exame.
O problema surge quando a resposta do corpo ao stress é contínua. Um estado perpétuo de "luta ou fuga" pode levar a muitos problemas crónicos. Os indivíduos podem sofrer de ansiedade e depressão, bem como de outras doenças mentais. Podem também ter dores de cabeça, tensão muscular, dores abdominais, perturbações do sono, diminuição da imunidade a infecções e problemas de memória e concentração. O stress crónico também tem sido associado a uma maior probabilidade de hipertensão arterial, diabetes, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral.
Todas as pessoas sofrem de stress, mas quando é que este se torna um problema?
É natural que as pessoas sofram de stress devido a acontecimentos importantes (aqueles que têm um impacto claro, como o nascimento de um filho, o início de um novo emprego, um divórcio ou a morte de um ente querido) que acontecem nas suas vidas. O problema é quando o stress se torna um estado crónico.
Os sinais de alerta a que se deve estar atento incluem indícios ou sintomas de problemas de saúde mental ou manifestações físicas de stress - por exemplo, se alguém começar a ter novas palpitações cardíacas, dores abdominais ou dores de cabeça. Além disso, algumas pessoas podem tentar lidar com o stress através do consumo de álcool ou drogas. Uma mudança no consumo de substâncias pode ser um sinal de alerta para procurar fatores de stress subjacentes.
Além disso, algumas pessoas podem tentar lidar com o stress através do consumo de álcool ou drogas. Uma mudança no consumo de substâncias pode ser um sinal de alerta para procurar fatores de stress subjacentes.
As pessoas devem também perguntar a si próprias se o stress está a afetar negativamente o seu funcionamento em casa, no trabalho e com os amigos. Uma pessoa que se encontra invulgarmente irritável e que reage os seus entes queridos e colegas pode também estar a fazê-lo devido a stress excessivo.
Por que razão devemos estar conscientes do stress excessivo e tentar reduzi-lo como uma prioridade de saúde?
Podemos pensar no stress como algo nas nossas vidas que é modificável, tal como a tensão arterial elevada ou o açúcar elevado no sangue. O stress em si pode não ser passível de ser alterado, tal como não podemos alterar a nossa predisposição genética para a hipertensão ou a diabetes. No entanto, a nossa reação ao stress está sob o nosso controlo. E é a nossa reação que determina os nossos resultados em termos de saúde. Se o stress tem efeitos prejudiciais para a nossa saúde, tal como a hipertensão e a diabetes, então podemos e devemos procurar formas de reduzir esses efeitos.
Quais são algumas das formas de lidar com o stress?
Em primeiro lugar, é importante esclarecer que existem boas e más formas de lidar com o stress. Algumas pessoas podem recorrer a estas formas menos boas porque podem ajudá-las a sentirem-se melhor a curto prazo, mas existem riscos reais. Mencionei o consumo de álcool e de drogas - obviamente, estas não são estratégias saudáveis para lidar com o stress. Nem comer em excesso ou fumar.
Penso que é muito importante ter consciência de si próprio. Seja honesto consigo próprio: Quando enfrentou situações de stress no passado, recorreu a estas formas pouco saudáveis de lidar com a situação? Em caso afirmativo, esteja atento e trabalhe para evitar esses comportamentos em momentos de stress.
Além disso, tente antecipar as situações de stress. Está a aproximar-se um prazo importante no trabalho? Uma reunião familiar suscetível de provocar emoções negativas? Uma conversa difícil com um ente querido? Saber que pode ocorrer um acontecimento stressante pode ajudá-lo a antecipar a sua reação e a planear em conformidade.
Aconselho também as pessoas a fazerem uma lista das técnicas de alívio do stress que funcionaram com elas no passado. E experimentar novas técnicas. Os exercícios de respiração profunda são algo que todos podem experimentar e que ajuda tanto no momento do stress como depois, por exemplo, tal como a meditação consciente.
Sou também uma grande adepta do exercício físico. Existem excelentes provas científicas de que o exercício é muito eficaz na gestão do stress. O exercício reduz as hormonas do stress e aumenta as endorfinas, que são neurotransmissores de "bem-estar" que podem relaxar o corpo e melhorar o humor.
Qual é o seu conselho para as pessoas que têm fatores de stress nas suas vidas - como um emprego difícil ou responsabilidades de prestação de cuidados - que não desaparecem facilmente?
Isto é muito difícil, porque é claro que o ideal seria tratar dos fatores de stress. Mas muitas pessoas têm situações stressantes que não podem mudar.
Ajuda ser honesto sobre isso e reconhecer que mudar a situação não está sob o seu controlo. O que está no seu controlo, no entanto, é a sua reação à situação.
É aqui que a autoconsciência e o autocuidado são tão importantes. Aprenda a reconhecer quando se está a sentir especialmente stressado. Talvez sinta tensão nos músculos do pescoço e das costas, ou tenha cãibras abdominais ou nervosismo. Estes são os momentos para praticar a respiração profunda, a meditação e outros exercícios que o ajudam a curto prazo.
Para benefício a curto e a longo prazo, é essencial reservar tempo para autocuidados. Com isto, refiro-me a actividades de que gosta e que o podem distrair das situações stressantes da vida. Estas podem incluir dar um passeio com um bom amigo, trabalhar no jardim, brincar com os seus animais de estimação, ler um bom livro ou participar em actividades de que gosta. Pense no tempo que está a reservar para si próprio como uma espécie de terapia; o stress pode torná-lo pouco saudável, pelo que esta é a sua forma de se dar a si próprio um "tratamento" para compensar esse stress.
Nesse sentido, saber que o stress é um fator que pode afetar o seu bem-estar, trabalhe para maximizar os outros aspectos que contribuem para a saúde geral. Tente ter um sono adequado e tranquilo. Procure comer alimentos saudáveis e integrais e reduza o consumo de produtos ultraprocessados. Certifique-se de que outras doenças crónicas, como a pressão arterial elevada, estão a ser tratadas. E não espere para procurar ajuda junto do seu médico ou psicólogo se o stress que está a sentir estiver a provocar problemas físicos ou de saúde mental contínuos.
