Na ONU, Zelensky acusa Rússia de “genocídio” e manda recado aos “países amigos” que estão a ajudar Moscovo

19 set 2023, 20:34
Volodymyr Zelensky na ONU. EPA/LUSA

O presidente ucraniano disse, indiretamente, que países como a Polónia e a Eslováquia estão a "preparar o terreno para Moscovo". Volodymyr Zelensky abordou, também, a segurança nuclear e Yevgeny Prigozhin

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky teceu esta terça-feira novas acusações fortes contra a Rússia, durante o discurso na 78.ª Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque.

Após uma forte ovação, o líder ucraniano começou a sua intervenção pela questão da segurança nuclear.

"Após o colapso da União Soviética, a Ucrânia foi forçada a abdicar das suas armas nucleares, e o mundo decidiu que a Rússia deveria manter as suas. O tempo veio provar que a Rússia era quem merecia mais o desarmamento, e continua a merecê-lo. Os terroristas não têm o direito de ter armas nucleares", começou por dizer Zelensky, que também lembrou os ataques russos à central nuclear de Zaporizhzhia.

O discurso do chefe de Estado virou-se, depois, para a segurança alimentar, ao dizer que o Kremlin “utiliza os alimentos como arma”.

"Desde o início da sua agressão em grande escala, a Rússia bloqueou os nossos portos marítimos do Mar Negro e de Azov. Os nossos portos no Danúbio continuam a ser alvo dos seus mísseis e drones. A Rússia está a tentar utilizar a escassez de alimentos no mercado mundial como uma arma em troca do reconhecimento da ocupação de alguns - se não de todos - dos territórios que tomou. A Rússia está a utilizar os preços dos alimentos como uma arma."

Neste âmbito, Zelensky mandou um recado a países como a Polónia e a Eslováquia, que continuam a bloquear as importações de cereais ucranianos. "Lançámos um corredor de exportação temporário no Mar Negro. Estamos a trabalhar para preservar as rotas terrestres. É perturbador ver como, nesta altura, alguns na Europa, países amigos, estão a minar a solidariedade e a encenar teatro político, fazendo dos cereais um thriller. Pode parecer que estão a desempenhar o seu próprio papel, mas, em vez disso, estão a ajudar a preparar o terreno para Moscovo”, acusou Zelensky, numa guerra de palavras que promete escalar nos próximos dias.

Horas antes, o presidente da Polónia deixou um alerta para a Ucrânia, que esta segunda-feira processou a Polónia e outros dois países na Organização Mundial do Comércio relativamente à proibição de importação dos cereais ucranianos: "É bom que a Ucrânia se lembre que recebe ajuda nossa e que somos também um país de trânsito para a Ucrânia", disse Andrzej Duda, citado pela Reuters.

Numa das bocas mais fortes do discurso, o presidente ucraniano acusou a Rússia de genocídio devido ao rapto de crianças ucranianas.

"Infelizmente, vários grupos terroristas já raptaram crianças antes, mas nunca antes os raptos em massa e as deportações se tinham tornado parte da política do Estado. Até agora. As crianças ucranianas raptadas na Rússia são ensinadas a odiar a Ucrânia e todos os laços com as suas famílias são cortados. Isto é genocídio."

Numa das notas finais, Zelensky lembrou Yevgeny Prigozhin, líder do Grupo Wagner morto na queda de um avião a 23 de agosto deste ano.

"Estou ciente das tentativas de alguns em fazer negócios obscuros nos bastidores. Não se pode confiar no mal. Perguntem a Prigozhin se devemos confiar nas promessas de Putin. Por favor, ouçam-me. Deixem a unidade decidir tudo abertamente", pediu.

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