Fã de Putin e populista: quem é Robert Fico, o primeiro-ministro baleado na Eslováquia

15 mai, 17:31
Robert Fico (Denes Erdos/AP)

Gosta de culturismo, futebol e carros potentes. Embora tenha conduzido a Eslováquia à União Europeia, é agora crítico de uma visão ocidental, aproximando-se antes de Putin e de Orbán. Tem sido, por múltiplas vezes, acusado de corrupção. Está agora entre a vida e a morte

Robert Fico, o primeiro-ministro que foi esta quarta-feira baleado na Eslováquia, é uma figura que divide opiniões. À custa das suas próprias opiniões, que têm variado em função das suas necessidades políticas. Está agora no seu terceiro mandato como líder do governo.

Com 59 anos, Fico é um confesso admirador de Vladimir Putin, tendo já dito que não permitiria a prisão do presidente russo, no âmbito do mandado de captura de que é alvo, caso este fosse à Eslováquia. Também aprecia um outro nome ligado a Putin, Viktor Orbán, afirmando que o húngaro “defende os interesses do seu país e do seu povo”.

Fico está à frente do partido de centro-esquerda Smer-SD, que criou em 1999, depois de ter sido recusado para um cargo ministerial pela força política herdeira dos comunistas, a quem estava ligado. Com três décadas de carreira, Fico é conhecido pelas suas táticas políticas bem como pela volatilidade das suas posições, em função da opinião pública ou da realidade política.

Opiniões à boleia dos interesses

Tem variado entre o apoio à integração da Eslováquia na União Europeia a uma forte visão nacionalista, com duras críticas ao ocidente. São acusações destinadas, sobretudo, ao consumo doméstico. Fico tem alegado que tem apenas os interesses eslovacos como prioridade e explorado o sentimento interno pró-russo para criticar os rivais e ganhar destaque.

No que respeita à Ucrânia, foi a sua coligação que suspendeu os envios de armas eslovacas para a Ucrânia, alegando a influência ocidental no conflito.

Um argumento forte para a sua vitória em 2016 foi a sua posição anti-imigração. Fico rejeita a existência de uma “comunidade muçulmana distinta na Eslováquia”. É crítico também do casamento homosseuxal e descreveu a adoção por casais do mesmo sexo como “perversão”.

Durante a pandemia de covid-19 foi a voz mais sonante na Eslováquia contra as máscaras, contra os confinamentos e contra as vacinas. 

Críticas internas

Muitas têm sido as vozes críticas à aproximação ao estilo de Putin ou Orbán, em detrimento do caminho levado a cabo pela Eslováquia de alinhamento com o Ocidente. Os protestos nas ruas do país têm-se multiplicado.

Mas há outros sinais de preocupação: recentemente, os deputados aprovaram regras que permitem eliminar o gabinete do procurador que lidava com casos de corrupção ao mais alto nível, reduzir as penas pelos crimes financeiros e os prazos de prescrição para violações.

Há também críticas de tentativas de controlo da televisão e da rádio públicas do país, depois de o governo ter aprovado uma proposta para abolir o atual emissor, substituindo-o por um novo organismo.

A isto junta-se a vitória de Peter Pellegrini, aliado de Fico e cético quanto à independência da Ucrânia, nas eleições presidenciais no país. Substituirá no cargo Zuzana Čaputová, a primeira mulher como chefe de Estado do país, defensora da Ucrânia.

Advogado de profissão, Robert Fico nasceu numa família de classe média a 15 de setembro de 1964. É apreciador de culturismo, futebol e carros potentes.

Em 2018, a sua governação foi fortemente afetada quando o jornalista Ján Kuciak, que investigava um caso de corrupção ao mais alto nível, e a namorada foram mortos por um assassino contratado.

Enquanto governante tem sido, por diversas ocasiões, acusado de corrupção - algo que sempre negou.

A carreira política de Fico arrancou no Partido Comunista, antes da Revolução de Veludo de 1989, que levou á divisão da antiga Checoslováquia. De 1994 a 2000, representou a Eslováquia no Tribunal Europeu para os Direitos Humanos.

Depois do ataque desta quarta-feira, está agora entre a vida e a morte.

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