Zelensky na ONU para pedir mais apoios para a guerra da Ucrânia (ou para não perdê-los)

CNN Portugal , MJC
19 set 2023, 08:00

Será a segunda vez que o presidente ucraniano discursa para a Assembleia Geral da ONU, mas a primeira em que estará presente fisicamente na sede em Nova Iorque. Zelensky irá manter vários encontros bilaterais e visitará Joe Biden na Casa Branca

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, está em Nova Iorque, EUA, para participar esta terça-feira no encontro anual de líderes mundiais das Nações Unidos. Esta será a primeira presença de Zelensky na Assembleia Geral da ONU depois de, no ano passado, ter tido autorização para fazer uma intervenção por videoconferência.

As Nações Unidas são um palco desejado por qualquer líder mundial. Aqui, Zelensky poderá apresentar a sua posição em público, à mesma mesa que um representante russo – o que é uma situação inédita. Zelensky deverá ser o 12.º líder a discursar no primeiro dia do debate geral da 78.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas. A Rússia será representada pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, que deverá discursar na manhã de sábado.

O líder ucraniano terá dois objetivos táticos nesta intervenção: por um lado, quer reunir apoio para a proposta de paz de dez pontos que a sua administração tem vindo a promover em todo o mundo desde o outono passado; além disso, procura encontrar soluções para a crise de fornecimento alimentar desencadeada pela invasão da Rússia. Essa crise aprofundou-se nas últimas semanas porque Moscovo abandonou a acordo dos cereais do Mar Negro, que permitia que produtos agrícolas ucranianos saíssem de certos portos, muitas vezes destinados a países vulneráveis no Médio Oriente e em África.

Não são conhecidos muitos mais pormenores sobre o programa da visita ou a comitiva do presidente ucraniano. Sabe-se, no entanto, que Zelensky tentará manter reuniões bilaterais de alto nível com o objetivo de persuadir os membros da ONU a apoiarem Kiev na sua luta contra a Rússia. Duas resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas condenando a invasão russa obtiveram votos de mais de 140 países. Mas alguns países não estão dispostos a ir além da retórica para punir a Rússia. Muitas nações do hemisfério sul - de África, Ásia e América Latina - evitaram tomar partido e não aderiram às sanções nem cortaram laços comerciais, empresariais e diplomáticos com Moscovo por receios de que isso fosse contrário aos seus interesses nacionais. 

Ainda assim, o presidente ucraniano irá defender a sua posição. A viagem de Zelensky faz parte de uma estratégia mais ampla na diplomacia ucraniana que coincide com a contraofensiva militar de Kiev. “Para garantir uma paz abrangente e duradoura, precisamos de mais do que o apoio político ocidental”, disse um alto funcionário ucraniano, citado pelo Politico. A Ucrânia percebeu que esta será uma guerra longa e que não pode dispensar nenhum apoio. “Temos de ter muitos países connosco, inclusive do Sul Global, porque as suas vozes são importantes.” 

Durante a sua visita, Zelensky deverá ainda encontrar-se com representantes do Congresso dos EUA, e visitará Joe Biden na Casa Branca. Esta será a segunda viagem de Zelensky a Washington desde o início da guerra.

Biden e Zelensky encontraram-se pela última vez em julho, à margem da cimeira da NATO na Lituânia. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, esteve em Kiev na semana passada com a oferta de um pacote de assistência no valor de quase 500 milhões de dólares para financiamento militar, ajuda humanitária e aplicação da lei em território recapturado da Rússia. O Departamento de Estado dos EUA disse que o pacote visa demonstrar o “compromisso inabalável dos Estados Unidos com a soberania, integridade territorial e democracia da Ucrânia, especialmente face à agressão da Rússia”. No entanto, é sabido que o Congresso está cada vez mais dividido sobre financiamento adicional e, por isso, Zelensky deverá também estar preocupado em assegurar o apoio dos EUA, explicando como a vitória da Ucrânia é fundamental para a manutenção da paz no mundo e dos interesses americanos na Europa. 

“Se a Ucrânia fracassar, Putin ficará com mais poder, o que terá profundos efeitos económicos e de segurança para os Estados Unidos e para os cidadãos americanos”, disse um funcionário do gabinete do presidente ao New York Times.

Espera-se ainda que na quarta-feira Zelensky participe numa sessão especial do Conselho de Segurança da ONU para discutir a guerra na Ucrânia. No entanto, a probabilidade de obter resultados tangíveis é pequena – até porque o presidente russo, Vladimir Putin, não estará presente na cimeira, enviando em sua representação o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov.

Outros grandes líderes mundiais já disseram que, por vários motivos, não estarão em Nova Iorque este ano, entre os quais o presidente francês Emmanuel Macron, o presidente chinês Xi Jinping, o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi.

A presença do presidente ucraniano na ONU poderá não ser muito bem recebida por todos os líderes, uma vez que irá desviará todas as atenções, dentro e fora do hemiciclo, para a guerra da Ucrânia. Em teoria, o foco principal da reunião deste ano serão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os países mais pobres queriam aproveitar esta sessão da Assembleia para concentrar a atenção internacional nos seus problemas, como o crescente peso da dívida.Também as reformas das instituições financeiras internacionais e uma política de ação em matéria de assistência socioeconómica e sobre-endividamento serão prioridades refletidas nos discursos dos países em desenvolvimento. Mas a presença de Zelensky irá provavelmente dominar grande parte dos debates e ao mesmo tempo concentrar a atenção dos jornalistas.

Marcelo tambem discursa esta terça-feira na ONU

Como habitualmente, caberá ao Brasil a abertura dos discursos de alto nível na Assembleia-Geral, através do Presidente, Lula da Silva, na manhã de hoje. Já Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos - país anfitrião do evento -, cumprirá a tradição e apresentar-se-á em segundo lugar.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, irá intervir também no primeiro dia de debate geral da 78.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas (UNGA 78, sigla em inglês). O chefe de Estado disse que na sua intervenção irá "tentar tratar todos os temas da atualidade" nos 15 minutos que tem disponíveis, colocando "um acento tónico muito forte na Ucrânia" e nos efeitos globais da guerra provocada pela invasão russa de 24 de fevereiro de 2022.

"Mas depois não ignorando outros problemas que existem, e que são fundamentais, como é o problema do clima, do ambiente, dos direitos das mulheres em muitos pontos do mundo, o problema dos jovens que estão a ser deixados para trás, das minorias, das migrações", acrescentou, numa antevisão do seu discurso feita aos jornalistas no domingo.

Será a sua 5.ª intervenção em representação de Portugal no debate geral anual entre chefes de Estado e de Governo dos 193 Estados-membros da ONU, em que também participou em 2016, 2018, 2019 e 2021.

Os discursos no Debate Geral irão prologar-se até ao próximo dia 26.

A Assembleia-Geral é o órgão onde os 193 Estados-membros da ONU se sentam em pé de igualdade e tem uma função exclusivamente representativa, uma vez que o verdadeiro poder é exercido pelo Conselho de Segurança, onde são membros permanente os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Reino Unido e a França, que têm o direito de veto.

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