“Eles estão a atacar com tudo o que têm". O que se passa na Ucrânia enquanto o mundo está de olhos postos em Gaza?

CNN Portugal , BCE
15 out 2023, 13:24
Guerra na Ucrânia (AP Photo)

Combates "particularmente intensos" em Avdiivka, a visita surpresa de Zelensky a Bruxelas e a ameaça da Rússia de revogar o tratado que proíbe testes nucleares. Eis o que se passou esta semana na Ucrânia

Numa altura em que todas as atenções se viraram para o conflito no Médio Oriente, a Rússia intensificou os combates em Avdiivka, cidade situada a cerca de 20 quilómetros a oeste de Donetsk e que vive debaixo de fogo há seis dias consecutivos.

Numa declaração televisiva, o autarca de Avdiivka, Vitalii Barabash, adiantou que a Rússia está a mobilizar forças adicionais para cercar a cidade, onde os bombardeamentos têm sido tão intensos que as equipas de emergência não conseguem resgatar os corpos das vítimas entre os escombros dos edifícios.  “Eles estão a atacar com tudo o que têm. Tiroteios, artilharia, múltiplos lançadores de rockets, morteiros e várias aeronaves”, disse Vitalii Barabash, citado pelo The Guardian.

A dimensão populacional de Avdiivka é hoje muito diferente da que era antes da invasão russa, em fevereiro de 2022. De acordo com o autarca, cerca de 1.600 civis permanecem na cidade, em contraste com os 31.000 registados antes da guerra. A cidade tornou-se um símbolo da resistência ucraniana desde 2014, quando os separatistas pró-Rússia tomaram as cidades do leste da Ucrânia.

Mais a norte, os combates ao longo da frente leste da Ucrânia “pioraram significativamente” nos últimos dias, revelou o general Oleksandr Syrskyi, comandante das forças terrestres da Ucrânia, numa publicação divulgada nas redes sociais. O general visitou as tropas no teatro de operações e verificou que as forças russas se reagruparam após as perdas das últimas semanas, estando agora a lançar ataques ao redor da vila de Makiivka e a avançar em direção à cidade de Kupiansk, com o objetivo de cercar a cidade e chegar ao rio Oskil.

Reconhecendo as dificuldades no terreno, o presidente Volodymyr Zelensky garantiu no início desta semana que as forças ucranianas estão a manter as forças russas afastadas e a "manter a posição". Na sual habitual declaração à nação, o chefe de Estado ucraniano quis deixar uma mensagem de agradecimento a "todos aqueles que se mantêm nas suas posições" nas zonas onde os combates estão a ser "particularmente intensos", referindo-se a Avdiivka, Maryinka e outras zonas na região de Donetsk.

Já este domingo, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a contraofensiva de Kiev falhou e que as forças russas estão a "melhorar as suas posições" em quase toda a linha da frente, nomeadamente nas frentes de Kupiansk, Zaporizhzhia e Avdiivka. "O que está a acontecer agora na linha de contacto chama-se 'defesa ativa'. As nossas tropas estão a melhorar as suas posições em quase toda esta área, num espaço bastante grande", informou Putin, numa entrevista à televisão estatal russa.

"Trata-se de uma defesa ativa, com uma melhoria das posições em determinadas zonas", concretizou.

A visita surpresa de Zelensky a Bruxelas

O presidente ucraniano surpreendeu os jornalistas que faziam a cobertura da cimeira de ministros da Defesa da NATO, que se realizou na quarta-feira, em Bruxelas. Assim que chegou ao quartel-general da NATO, Volodymyr Zelensky admitiu perante os líderes ocidentais que "vai ser um desafio" sobreviver ao próximo inverno, pedindo mais apoio para "necessidades concretas".

“Vai ser um desafio perceber como é que vamos sobreviver este inverno”, reconheceu o presidente ucraniano, acompanhado pelo secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg.

De acordo com os analistas militares, é expectável que a Rússia reutilize a estratégia de bombardeamento de infraestruturas críticas durante o inverno. Por isso, Volodymyr Zelensky considerou que é necessário “discutir as prioridades” com os países da Aliança Atlântica para salvaguardar a população ucraniana: “Existem necessidades concretas e precisamos de responder a essas necessidades concretas em pontos concretos do nosso território.”

Como resposta, os Estados-membros da NATO comprometeram-se a enviar para a Ucrânia mais pacotes de armamento e munições, incluindo sistemas de defesa antiaérea e carros de combate.

Numa conferência de imprensa no final da reunião, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, anunciou que a Alemanha vai doar mais um sistema de defesa antiaérea Patriot com mísseis, “parte de um pacote que inclui dez carros de combate Leopard A1”.

“Espanha vai continuar ao seu treino crítico de [helicópteros Black] Hawk e vai enviar equipamento Hawk adicional, a Suécia anunciou um pacote de assistência de 200 milhões de dólares [mais de 195 milhões de euros] que inclui munições de artilharia críticas, e a Bulgária vai doar componentes para reforçar a sua defesa antiaérea S300”, completou. Já França, continuou Lloyd Austin, “comprometeu-se a enviar mais carros de combate CAESAR howitzer e a aumentar a sua produção”.

A Roménia vai liderar uma coligação cujo objetivo é dar formação a mergulhadores ucranianos para que consigam desminar o Mar Negro, que voltou a ser um campo de batalha depois de Moscovo rasgar o acordo para exportação de cereais ucranianos, que vigorava desde o verão do ano passado e foi mediado entre as Nações Unidas e a Turquia.

Lloyd Austin anunciou também que os Estados Unidos vão juntar-se à Dinamarca e aos Países Baixos na liderança de uma iniciativa de preparação de pilotos ucranianos e de entrega de aviões de combate F-16 à Ucrânia. "Tenho orgulho de anunciar que os Estados Unidos ajudarão a liderar a coligação de países que trabalham com a Ucrânia para desenvolver a sua força aérea."

Rússia ameaça revogar tratado que proíbe testes nucleares, NATO responde com grande exercício nuclear

Também esta semana, a Rússia ameaçou revogar o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT), que data de 2000, tendo já elaborado um projeto de lei nesse sentido. O objetivo, explicou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Riabko, é "equilibrar o estatuto com os EUA", uma vez que Washington assinou mas nunca ratificou o tratado.

Como uma aparente resposta, a NATO anunciou que vai realizar um grande exercício nuclear, disse o secretário-geral, Jens Stoltenberg. "Isto é um exercício de preparação que acontece todos os anos em outubro. Este ano vai ser entre Itália, a Croácia e o Mar Mediterrâneo”, explicou Jens Stoltenberg, em conferencia de imprensa no quartel-general da Aliança Atlântica, em Bruxelas.

O exercício “Steadfast Now” decorrerá ao longo da próxima semana e envolve as aeronaves, incluindo caças, com capacidade para transportar ogivas nucleares dos países da NATO que as possuem, nomeadamente os Estados Unidos da América (EUA), França e o Reino Unido, mas não envolve o transporte dos engenhos.

De acordo com Stoltenberg, este exercício tem o intuito mostrar a “credibilidade, eficácia e segurança da dissuasão nuclear” da NATO. “A mensagem é clara: a NATO vai proteger e defender todos os aliados", sublinhou.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados