A destruição e o desespero de Mariupol vistos do ar. Há muitos que só querem fugir (e quem esteja a ser levado à força)

19 mar 2022, 19:53
Imagem de satélite mostra destruição após o ataque ao teatro de Mariupol, Ucrânia (AP)

Como os confrontos não param, o resgate dos civis abrigados no subsolo do teatro de Mariupol dá-se de uma forma muito lenta. A insegurança está também a dificultar a saída. Mas há quem, ainda assim, procure fugir de condições de vida indignas numa das cidades mais fustigadas pela ofensiva russa

Apenas a fachada oeste se manteve de pé. A destruição do teatro de Mariupol, bombardeado na quarta-feira, é agora ainda mais evidente. Uma imagem de satélite da empresa Maxar Technologies mostra como praticamente dois terços do edifício foram destruídos.

Mantém-se visível a palavra “Crianças”, escrita em russo, pintada no chão. No momento do ataque, estariam no “bunker” deste teatro mais de 1.300 pessoas. Os primeiros relatos davam conta de que o abrigo anti-bombas teria resistido.

Os ininterruptos ataques russos têm dificultado as manobras de limpeza e resgate dos civis, explicou o autarca de Mariupol Vadym Boychenko. O trabalho continua sempre que as investidas russas dão breves tréguas. Até agora, só há confirmação de 130 pessoas retiradas com vida. Sobre os restantes, permanece a dúvida.

As ruas de Mariupol estão a ser palco de conflitos armados, que impedem a saída da cidade daqueles que procuram fugir da guerra. “Há tanques, artilharia, todo o tipo de armas a serem usadas. As nossas forças estão a fazer de tudo para segurar posições, mas as forças do inimigo são maiores, infelizmente”, afirmou o autarca à BBC.

Longa fila de carros mostra tentativa de sair de Mariupol (Maxar Technologies)

Nas fotografias de satélite são notórias as filas de carros com ucranianos que procuram sair de Mariupol onde não há eletricidade, água ou gás. Os relatos que chegam da cidade dão conta que as falhas de comunicação impedem que muitos outros, abrigados no subsolo, saibam da existência de corredores humanitários.

A vice-primeira-ministra ucraniana já admitiu que o corredor humanitário nesta cidade estava, neste sábado, com várias perturbações.

Segundo os dados da autarquia, cerca de 40 mil pessoas conseguiram sair da cidade nos últimos cinco dias. Outras 20 mil estariam à espera para dar esse passo. Ao início da noite deste sábado, Kyrylo Tymoshenko, chefe de gabinete do presidente ucraniano, informou que saíram 4.128 pessoas de Mariupol ao longo do dia.

Moradores levados à força para território russo

Residentes em Mariupol estarão a ser levados para território russo contra a sua vontade pelas forças invasoras, segundo um comunicado da autarquia.

“Na última semana, vários milhares de moradores em Mariupol têm sido levados para território russo. Os ocupantes pegaram ilegalmente em pessoas do bairro de Livoberezhny e do abrigo no edifício do clube desportivo, onde mais de um milhar de pessoas (sobretudo mulheres e crianças) estavam a esconder-se de bombardeamentos constantes”, explica o comunicado.

Segundo a autarquia, estes residentes foram levados para campos onde as forças russas verificam os seus telefones e documentos, sendo depois reencaminhados para cidades remotas da Rússia.

No documento, o autarca Vadym Boichenko evoca o período nazi: “O que os ocupantes estão a fazer hoje é algo familiar para a geração mais velha, que viu coisas terríveis na Segunda Guerra Mundial, quando os nazis capturavam pessoas à força”.

Destruição partilhada

A destruição em Mariupol é partilhada ainda num vídeo gravado por um polícia de Mariupol, que se dirige diretamente aos presidentes norte-americano Joe Biden e francês Emmanuel Macron: “Prometeram que nos ajudavam, dêem-nos essa ajuda”. Este ucraniano diz mesmo que Mariupol foi “apagada da face da terra”.

Também no Twitter, o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, publicou a fotografia da destruição do teatro de Mariupol, deixando uma pergunta às empresas que continuam a trabalhar com a Rússia: “Quero perguntar às multinacionais que continuam a trabalhar com ou na Rússia: como conseguem fazer negócios com eles? Como conseguem alimentar, servir e pagar quem fez isto?”

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