Rússia ataca teatro assinalado com a palavra “crianças”. Abrigava mais de mil menores e mulheres, maioria terá sobrevivido

Nuno Mandeiro , com Lusa
17 mar 2022, 10:03
Teatro de Mariupol (Maxar Technologies)

Ministro da Defesa da Ucrânia diz que o Kremlin é o “real Hitler dos nossos tempos” e sublinha que o piloto responsável pelo ataque viu o aviso e optou por disparar. "Mesmo assim, este monstro bombardeou o teatro”, insurge Oleksii Reznikov

O teatro de Mariupol tinha, em ambas as entradas, escrita no chão, a palavra “crianças”. Lá dentro estavam mais de mil menores e mulheres, abrigados da guerra. As imagens de satélite foram divulgadas pela Maxar Technologies e, dias depois, esta quarta-feira, uma ofensiva russa reduziu a escombros toda a infraestrutura. 

Apesar das piores previsões, o oligarca ucraniano nascido na cidade costeira e ex-autarca da região de Donetsk, Sergei Taruta, garantiu, esta quinta-feira, que há várias pessoas a sair das ruínas do teatro com vida. O abrigo antibomba foi capaz de resistir ao impacto.

“Depois de uma noite terrível, finalmente temos boas notícias vindas de Mariupol nesta manhã do 22.º dia de guerra. O bunker. Os escombros já estão a ser removidos. Há pessoas a serem retiradas com vida”, pode ler-se na publicação de Sergei Taruta.

Esta informação coincide com as declarações de Dmytro Gurin, vereador de Mariupol, que garantiu à BBC que a maioria das pessoas no interior do teatro sobreviveu. De acordo com o responsável político, o abrigo antibomba, existente no interior da infraestrutura, foi capaz de resistir ao ataque.

“O edifício foi destruído, havia mais de mil mulheres e crianças no abrigo antibomba, situado na cave. Há minutos recebemos a informação que o bunker resistiu e que quem estava no seu interior sobreviveu. Ainda não sabemos se há feridos ou mortos, mas parece que a maioria das pessoas sobreviveu e está bem”, disse Dmytro Gurin à BBC esta manhã.

“O real Hitler dos nossos tempos”. Ucrânia acusa Kremlin de genocídio

As declarações foram feitas por Oleksii Reznikov, através de videoconferência no Parlamento Europeu, já esta quinta-feira, no seguimento do ataque ao teatro. O ministro da Defesa da Ucrânia afirma que o Kremlin é o “real Hitler dos nossos tempos”.

O responsável pelo exército ucraniano afirmou ainda que o piloto responsável pelo ataque sobre o teatro em Mariupol é um “monstro”. Em declarações no Parlamento Europeu, e citado pela CNN, Oleksii Reznikov referiu que o ato aconteceu apesar de um sinal a indicar que haveria crianças no interior do edifício.

“Provavelmente já devem ter ouvido que este teatro foi atingido por mísseis, um teatro onde 1.200 mulheres e crianças se escondiam. (…) Podem ver nos mapas, nos drones que sobrevoaram o teatro, as letras gigantes que escreviam ‘crianças’. Portanto, o piloto do avião que disparou as bombas conseguiu ver a palavra ‘crianças’. Mesmo assim, este monstro bombardeou o teatro”, disse Reznikov, na manhã desta quinta-feira, em videoconferência no Parlamento Europeu.

Citado pela agência Reuters, Reznikov diz ainda que as tropas russas estão a cometer um genocídio contra o povo ucraniano, em Mariupol.

O governante referiu ainda que Vladimir Putin deve ser reconhecido como um criminoso de guerra, além de assinalar que o propósito da Rússia passa por destruir a Ucrânia.

No discurso feito na noite de quarta-feira, o presidente da Ucrânia acusou a Rússia de ter feito "centenas de vítimas" no bombardeamento de um teatro em Mariupol, num ataque que o Ministério da Defesa russo atribuiu às forças ucranianas.

"Em Mariupol, a Força Aérea Russa lançou conscientemente uma bomba no Teatro Dramático, no centro da cidade", disse Volodymyr Zelensky, na noite de quarta-feira, acrescentando ser "ainda desconhecido o número de mortos".

"O mundo deve finalmente admitir que a Rússia se tornou um estado terrorista", alertou Zelensky.

O Ministério da Defesa russo negou ter bombardeado a cidade e alegou que o edifício foi destruído pelo batalhão ultranacionalista ucraniano Azov.

Na semana passada, Moscovo já tinha culpado o batalhão Azov pelo bombardeamento de uma maternidade e hospital pediátrico perto de Mariupol, que causou três mortos e 17 feridos.

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