Mariupol, a cidade que vai deixar de existir. Rússia já atingiu cerca de 90% desta cidade ucraniana

CNN Portugal , BCE
17 mar 2022, 21:25

Cerca de 350 mil pessoas continuam presas na cidade, alvo de dezenas de bombas lançadas diariamente pelos aviões russos. De acordo com a autarquia local, cerca de duas mil pessoas terão morrido nos ataques

A cidade portuária de Mariupol, localizada no sudeste da Ucrânia, perto de Donetsk, tem estado debaixo de fogo desde o primeiro dia da invasão russa, a 24 de fevereiro. Entre violações de cessar-fogo, bombardeamentos que atingiram um hospital pediátrico, maternidades e mesquitas, os habitantes de Mariupol têm cada vez menos meios para resistir contra as forças russas por causa do cerco imposto.

Os ataques a Mariupol já causaram a morte de mais de dois mil civis, de acordo com a autarquia local. A deputada ucraniana Lesia Vasylenka indicou que os ataques a Mariupol já atingiram cerca de 90% da cidade portuária, que, nas suas palavras, "vai deixar de existir".

"Mariupol está a ser destruída pelos céus. É necessário criar uma zona de exclusão aérea", disse, numa publicação divulgada na rede social Twitter, reforçando assim o apelo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para a criação de uma zona de exclusão aérea.

Segundo um comunicado da autarquia divulgado ao início da noite, Mariupol é bombardeada 50 a 100 vezes por dia, com "cerca de 80% do parque habitacional atingido e quase 30% sem hipóteses de ser restaurado”.

O mais recente alvo dos bombardeamentos russos foi um teatro histórico da cidade, o Teatro Drama, que abrigava centenas de civis. Inaugurado em 1960, este teatro fora convertido num abrigo nos últimos dias. De acordo com Serhiy Orlov, vice-presidente da Câmara Municipal de Mariupol, acolhia, na altura do ataque, cerca de mil pessoas - entre as quais, mulheres e crianças. 

A empresa norte-americana de tecnologia espacial, Maxar Technologies, divulgou imagens de satélite que mostram a palavra "crianças" escrita em russo no chão de ambas as entradas do teatro, uma mensagem para os pilotos russos que sobrevoassem o edifício. Mas, de acordo com as autoridades ucranianas, este aviso não foi suficiente para evitar uma ofensiva russa, que reduziu a escombros toda a infraestrutura.

A palavra "crianças" escrita no chão das duas entradas do Teatro de Mariupol (Maxar Technologies)

Apesar da violência do ataque, o vereador de Mariupol, Dmytro Gurin, garantiu que a maioria das pessoas que estavam abrigadas no interior do teatro conseguiu sobreviver. Contudo, ainda não é conhecido um balanço das vítimas deste ataque.

Perante mais uma atrocidade no território ucraniano, o ministro da Cultura de Itália, Dario Franceschini, anunciou esta quinta-feira que o país "está pronto" para ajudar a reconstruir o teatro de Mariupol.

O ministério da Defesa russo desmentiu ter bombardeado o teatro e atribuiu a responsabilidade ao batalhão ultranacionalista ucraniano Azon, integrado na Guarda Nacional, que já tinha acusado de estar na origem do bombardeamento à maternidade de Mariupol na semana passada.

Maternidade em Mariupol reduzida a escombros (Foto:AP)

Sem água, energia, aquecimento ou comunicações, os habitantes de Mariupol já derretem neve para poder beber água. Um dos correspondentes do jornal The Guardian na Ucrânia publicou uma fotografia de uma embalagem com neve dentro, em cima de uma fogueira, para a derreter e poder beber.

Em declarações à CNN Portugal, a ucraniana Alona Aseiev conta como os seus pais, irmãos e sobrinhos, presos na cidade, estão a viver "sentados em colchões encostados às paredes mais grossas da casa". O que descreve demonstra o desespero em que sobrevivem. “Quase não têm comida. Como eu tinha lojas de animais, o meu irmão foi lá buscar comida. Estão a comer comida de cão”.

As autoridades ucranianas dizem ter aumentado os esforços de resgate, mas os constantes bombardeamentos russos dificultam as operações. “As pessoas estão a fugir de Mariupol por conta própria, a usar o seu próprio transporte”, declarou o gabinete de Zelensky, acrescentando que o “risco de morte permanece alto” porque as forças russas dispararam contra civis.

Ainda assim, foram retirados, na última semana, 30 mil civis de Mariupol, que rumam agora em direção a Zaporizhzhia, através dos corredores humanitários.

Mas cerca de 350 mil pessoas continuam presas, procurando resguardar-se em abrigos e caves das dezenas de bombas lançadas todos os dias pelos aviões russos, de acordo com dados da Câmara Municipal de Mariupol, divulgados numa mensagem no Telegram.

Ucranianos formam filas para receber comida quente num abrigo em Mariupol (AP Photo)
Edifício destruído em Mariupol. (AP)

 

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