Onde está Hind? Menina de seis anos desapareceu em Gaza num caso misterioso (e com ela desapareceram dois paramédicos)

CNN , Helen Regan, Kareem Khadder, Abeer Salman, Khadder Zaanoun, Celine Alkhaldi e Jomana Karadsheh
6 fev, 18:00
Hind, seis anos, ficou presa num carro depois de este ter sido alvo de disparos (PRCS)

Há mais de uma semana que se exige cada vez mais respostas sobre o destino da menina palestiniana Hind Rajab, de seis anos, que ficou presa num carro com os familiares mortos depois de a viatura ter sido alvo de fogo israelita em Gaza.

O mistério também envolve o paradeiro de duas ambulâncias da Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano (PRCS), que foram enviadas para a encontrar a 29 de janeiro.

"Precisamos de saber o que aconteceu a Hind e à equipa de ambulâncias da PRCS", afirmou a PRCS na sua última declaração no X.

"Tantas coisas maravilhosas podem acontecer numa semana, mas para quem está à espera de notícias ou de informações, uma semana é uma angústia. Cada momento é marcado por preocupação e tristeza", continua a publicação.

A CNN deu ao exército israelita detalhes sobre o incidente na passada sexta-feira, incluindo as coordenadas fornecidas pelo PRCS. Em resposta, as Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que "não estavam familiarizadas com o incidente descrito".

Contactadas novamente pela CNN na segunda-feira sobre a rapariga desaparecida e a tripulação do PRCS, as IDF disseram que "ainda estavam a investigar".

Hind viajava num carro com o tio, a mulher deste e os quatro filhos, fugindo dos combates no norte de Gaza, quando foram alvo de fogo israelita, segundo o PRCS.

A prima de Hind, Layan Hamadeh, de 15 anos, fez um angustiante pedido de ajuda aos serviços de emergência que foi gravado pelo PRCS e partilhado nas redes sociais.

No vídeo, ouve-se a adolescente a falar com um paramédico, a pedir ajuda e a descrever um tanque que se encontrava por perto.

"Estão a disparar contra nós. O tanque está mesmo ao meu lado. Estamos no carro, o tanque está mesmo ao nosso lado", grita Layan, no meio de um intenso tiroteio ao fundo.

Layan cala-se e os tiros param.

O paramédico ao telefone tenta falar com ela, dizendo repetidamente: "Estou? Alô?", mas não obtém resposta.

Soldado israelita aponta a arma enquanto as ambulâncias do Crescente Vermelho palestiniano esperam em Gaza (Jaafar Ashtiyeh/AFP/Getty Images/File)

O PRCS acredita que as outras seis pessoas que estavam no carro com Hind, incluindo Layan, foram mortas quando o carro foi alvejado.

Sozinha, aterrorizada e encurralada no carro com os corpos dos familiares à volta, Hind fez um pedido desesperado de ajuda.

"Venham buscar-me. Vêm buscar-me? Estou tão assustada, por favor, vem!" ouve-se numa gravação do apelo aos socorristas, divulgada pelo PRCS.

O PRCS disse que os seus funcionários ficaram ao telefone com Hind durante mais de três horas, enquanto tentavam enviar uma equipa de ambulância - os paramédicos Yousef Zieno e Ahmed Almadhoun - para a encontrar.

Na altura, o grupo disse que as ambulâncias não tinham conseguido chegar à área porque os militares israelitas consideravam-na uma zona militar fechada e tinham como alvo qualquer pessoa que tentasse deslocar-se nas proximidades.

Rana Al-Faqueh, uma coordenadora de resposta da PRCS que permaneceu na chamada com a rapariga, disse que Hind perguntou as horas porque estava a escurecer. "Tenho medo do escuro", disse, de acordo com a responsável.

"Há tiros à tua volta?", perguntou. "Sim. Venham buscar-me", respondeu Hind.

Em comunicado, o PRCS afirma que a equipa de salvamento chegou à zona onde a jovem estava presa no carro, perto de uma estação de serviço de Fares, às 18:00 locais.

Perderam então o contacto com a equipa e com Hind. Não se sabe se a equipa conseguiu chegar à menina.

Há oito dias que não se sabe nada sobre eles.

Ministério da Saúde responsabiliza Israel

No sábado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Expatriados da Palestina (PMOFA) declarou que considera o governo israelita "total e diretamente responsável" pelas vidas de Hind e dos dois paramédicos, Zieno e Almadhoun, que foram socorrê-la.

"O seu destino permanece desconhecido", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Em 29 de janeiro, a CNN questionou as forças armadas sobre as suas operações nas imediações e as IDF afirmaram que as suas tropas encontraram e mataram dezenas de terroristas armados em combates no centro de Gaza.

"As tropas foram assistidas por fogo de tanques sob a direção de observadores de campo e soldados de infantaria. Além disso, as tropas localizaram grandes quantidades de armas na área", disseram as IDF na segunda-feira.

O PRCS intensificou o apelo por respostas, emitindo mais de duas dúzias de declarações e publicações na rede social X, exigindo saber o que lhes aconteceu.

"Onde está Hind? Onde estão Yousef e Ahmed? Ainda estão vivos? Queremos saber o destino deles", disse o grupo humanitário na segunda-feira.

O PRCS disse que o caso era "representativo de todo o sofrimento e brutalidade dos últimos meses", em que a intensa campanha de bombardeamento de Israel em Gaza matou 27.478 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas, e desencadeou uma crise humanitária catastrófica em todo o território palestiniano, obrigando cerca de dois milhões de pessoas a abandonar as suas casas.

A falta de informações sobre os paramédicos e a menina desaparecidos "está a afetar a saúde mental do pessoal e dos voluntários do PRCS", afirmou ainda o grupo.

A mãe de Hind espera por respostas à porta do hospital

Ninguém está mais desesperado por respostas do que a mãe de Hind, que estava à espera à porta de um hospital de Gaza, na esperança de que a filha chegasse "a qualquer momento".

A mãe de Hind Rajab, Wissam Hamada, fala durante uma entrevista (CNN)

Em vídeo filmado pela CNN na sexta-feira, Wissam Hamada disse ter levado os pertences da filha para o hospital e espera angustiada por notícias.

"Se a minha filha não morreu com as balas, vai morrer com o frio, com a fome... Apelo a todo o mundo para que me tragam a minha filha.... Queremos a nossa menina inocente. A Hind é demasiado nova para estar a passar por isto. Ela é demasiado jovem", disse Wissam à CNN.

"Ela é uma menina, o seu único sonho é ser médica e tratar as pessoas".

A avó da rapariga, Hind Hamada, disse que tinha "esperança" de que a neta fosse devolvida "sem demora".

Hind, na chamada feita a partir do carro, deixou o seguinte apelo: "Venham buscar-me, quero ir para casa e quero a minha família".

"Queremos levar a Hind para um hospital para a tratar, porque ela estava ferida", recorda a avó.

Embora a família espere que a equipa de salvamento do PRCS esteja a "cuidar da sua" filha, não o pode afirmar com toda a certeza.

"Sempre que ouço o som de uma ambulância, vou à porta e penso que a minha filha está a chegar", revela a mãe de Hind à CNN.

"Sempre que ouço o som de um ataque, de um projétil ou de uma bala, o meu coração dói-me porque penso que essa bala está tão perto da minha filha. Qualquer impacto, sinto que está a chegar à minha filha".

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