Armas da Coreia do Norte e reclusos "carne para canhão": como o grupo Wagner pode entrar numa guerra de poder com o próprio exército russo

CNN , Kevin Liptak
23 dez 2022, 15:12
Grupo Wagner

Estados Unidos têm informações que, em certos casos, os "oficiais militares russos estão, na verdade, subordinados ao comando dos Wagner"

Novos dados de informação norte-americanos que foram tornados públicos recentemente sugerem que o grupo mercenário russo Wagner está a ganhar influência e a recrutar reclusos das prisões - incluindo alguns com graves problemas de saúde - para complementar as tropas de Moscovo.

Segundo um alto funcionário norte-americano, o grupo recebeu recentemente armas da Coreia do Norte, um sinal do crescente envolvimento na guerra na Ucrânia.

E os EUA acreditam que o grupo Wagner poderá entrar numa guerra de poder com os próprios militares russos, uma vez que se prepara para exercer influência junto do Kremlin.

“Em certos casos, os oficiais militares russos estão, na verdade, subordinados ao comando dos Wagner”, afirmou John Kirby, o coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional Americana. “É bastante evidente que o Wagner está a ganhar relevância como um centro de poder rival dos militares russos e de outros ministérios russos.”

As revelações sobre o grupo Wagner surgiram um dia depois da visita histórica do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a Washington, na qual agradeceu aos Estados Unidos pela sua assistência militar e afirmou que eram necessárias mais estratégias para impedir os avanços russos.

Wagner surgiu como um interveniente de relevo ao longo de 10 meses de conflito. O grupo é muitas vezes descrito como o grupo de tropas não-oficiais do presidente Vladimir Putin. Desde que surgiu em 2014, expandiu a sua presença a nível mundial, e foi acusado de crimes de guerra em África, na Síria e na Ucrânia.

Na quarta-feira, os EUA aplicaram novas restrições ao acesso do grupo Wagner às exportações de tecnologia.

Kirby afirmou que os EUA estimam que o grupo Wagner tenha atualmente cerca de 50.000 pessoas destacadas dentro da Ucrânia, das quais 40.000 poderão ser condenados recrutados das prisões russas. Explicou que o grupo está a gastar 100 milhões de dólares por mês para financiar as suas operações na Ucrânia.

O fundador do grupo, Yevgeny Prigozhin, deslocou-se pessoalmente às prisões russas para recrutar os condenados para lutar na linha da frente. Algumas destas pessoas sofrem de “condições de saúde graves”, afirmou Kirby.

“Parece que o Sr. Prigozhin está disposto a, pura e simplesmente, fazer destes homens russos carne para canhão em Bakhmut. O facto é que cerca de 1000 soldados Wagner foram mortos nos combates nas últimas semanas, e acreditamos que 90% desses 1000 soldados fossem, na verdade, condenados”, referiu Kirby.

Prigozhin, que, por vezes, tem sido referido como o “braço direito de Putin”, tem já laços estreitos com o presidente russo. Mas Kirby sugeriu que Prigozhin continua a trabalhar no sentido de reforçar a relação através dos seus esforços para apoiar as forças russas através do seu recrutamento mercenário.

“É tudo uma questão do quão útil ele é para o Sr. Putin, e de como ele é bem visto pelo Kremlin”, referiu. “Podemos até ir ao ponto de afirmar que está a ganhar cada vez mais influência.”

No mês passado, Wagner recebeu uma entrega de morteiros de infantaria e mísseis da Coreia do Norte, disse Kirby, um sinal de que a Rússia e os seus parceiros militares continuam a procurar formas de contornar as sanções ocidentais e o controlo de exportações.

O grupo Wagner, e não o governo russo, pagou pelo equipamento. Os EUA não acreditam que irá alterar significativamente a dinâmica do campo de batalha na Ucrânia - mas sugeriram que a Coreia do Norte poderá estar a planear a entrega de mais material.

Prigozhin declarou, na quinta-feira, que as afirmações de Kirby de que o seu grupo tinha levado armas da Coreia do Norte não passam de “rumores e especulação”.

“Todos sabem que a Coreia do Norte não fornece armas à Federação Russa há muito tempo”, afirmou Prigozhin numa declaração publicada na sua página de Telegram. “E não foi sequer feita nenhuma outra tentativa deste tipo. Portanto, estas informações sobre fornecimentos de armas da RPDC não passam de rumores e especulações.”

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