Oligarca russo que será o financiador do Grupo Wagner foi louvado pelo Kremlin pelas conquistas na frente de combate na Ucrânia. Distinção poderá agudizar rivalidades entre as tropas de Moscovo e os mercenários daquele que é conhecido como o exército privado de Putin
O dado era desconhecido até agora, mas foi divulgado esta segunda-feira no relatório diário sobre a guerra na Ucrânia que é feito pelo Ministério da Defesa britânico: Yevgeniy Prigozhin, o dono do grupo de mercenários conhecido como grupo Wagner, foi condecorado recentemente por Putin, que lhe atribuiu honras de "Herói da Federação Russa".
O Reino Unido diz que Prigozhin foi distinguido graças à atuação dos seus mercenários na região ucraniana de Lugansk: para reforçar a linha de combate, a Rússia tem recorrido aos membros da chamada milícia privada para "mitigar faltas e baixas". O relatório da Defesa britânica diz mesmo que o Wagner teve certamente um papel central na captura das cidades de Popasna e Lysychansk, na região de Lugansk, onde a Rússia tem conseguido manter a preponderância face às tropas de Kiev.
Latest Defence Intelligence update on the situation in Ukraine - 18 July 2022
— Ministry of Defence 🇬🇧 (@DefenceHQ) July 18, 2022
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Mas esta presença na frente de combate terá infligido baixas pesadas ao grupo de mercenários, assinala ainda o relatório britânico. Os mercenários estarão agora a recrutar para o seu batalhão de elite antigos reclusos e combatentes que estavam na "lista negra".
“Isto deve vir a ter impacto na eficácia operacional do grupo no futuro”, diz ainda a Defesa britânica, apontando para o "treino muito limitado" que é oferecido aos novos recrutas.
Por outro lado, assinala o documento, o facto de Yevgeniy Prigozhin ter sido distinguido pelo Kremlin, numa altura em que muitas altas patentes militares russas estão a ser substituídas, poderá exacerbar as divergências entre as tropas russas e o próprio grupo Wagner. "Também deverá ter um impacto negativo na moral dos militares russos", defende a Defesa britânica.
Quem é Yevgeniy Prigozhin?
A condecoração do oligarca Yevgeniy Prigozhin não deixa de ser surpreendente, uma vez que o grupo Wagner, legalmente, não existe e Moscovo também não reconhece a sua existência. Com esta distinção, Putin parece pelo menos assumir a ligação dos mercenários ao Kremlin.
A organização terá sido fundada cerca de 2007, na Rússia, por um ex-oficial do exército russo, Dmitriy Valeryevich Utkin, com o apoio do referido oligarca russo Yevgeny Prigozhin, que faz parte do estreito círculo do Kremlin. E é por isso que muitos tratam o grupo Wagner como um exército privado de Vladimir Putin.
Logo em março deste ano, menos de um mês depois de ter começado a guerra na Ucrânia, o jornal britânico Sunday Times escreveu que o presidente ucraniano já tinha sido alvo de três tentativas de homicídio e que, por trás delas, estariam mercenários russos do Wagner. O New York Times, citando duas fontes dos serviços secretos, adiantava dois dias antes da invasão da Ucrânia que cerca de 300 mercenários já estavam "com o grupo paramilitar russo Wagner nos enclaves separatistas" da Ucrânia.
Yevgeny Prigozhin, alegado dono do grupo, é um dos alvos das sanções impostas pela comunidade internacional a oligarcas russos, em virtude da invasão da Ucrânia, e é conhecido como o "chef de Putin". A alcunha virá do facto de ter feito fortuna em negócios de catering na década de 1990. Terá conhecido Putin, em 2001, no seu restaurante de luxo em São Petersburgo, o New Island, e em pouco tempo passou a fazer parte do círculo próximo do líder russo. Tem 58 anos. Sempre que foi questionado, Prigozhin negou qualquer ligação ao exército de mercenários.
O grupo Wagner atua através de operações clandestinas, ao serviço de Moscovo, em países em conflito, sejam a Ucrânia, a Síria ou nações africanas como a República Centro-Africana, entre outras, onde projetos de interesse russo possam estar em causa.
José Manuel Anes, do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), disse em março, à CNN Portugal, que a presença destes homens em território ucraniano "é um problema para todos" porque são profissionais sem ética, "militares prontos para fazer a guerra suja".
E já em dezembro de 2021 o Conselho Europeu impôs medidas restritivas contra o grupo Wagner, nomeadamente congelamento de bens e proibição de viagens para UE, justificando assim a decisão: "O grupo Wagner recrutou, formou e enviou operacionais militares privados para zonas de conflito em todo o mundo, a fim de alimentar a violência, saquear recursos naturais e intimidar civis em violação do direito internacional".