Portugal não reconhece Estado da Palestina para já. Quer "conservar posição de mediador para depois não ter de haver nenhum passo atrás"

22 mai, 11:34
Manifestação em Lisboa "Fim ao genocídio. Palestina livre, já" (Manuel de Almeida/LUSA)

Noruega, Irlanda e Espanha anunciam decisão de reconhecer a independência da Palestina a 28 de maio. Primeiro-ministro irlandês diz que é esperado que mais países sigam o mesmo passo "nas próximas semanas". MNE português indica que está "em consultas com os países que já avançaram com o reconhecimento e também com países que estão mais reticentes"

Portugal não vai seguir para já o passo da Noruega, de Espanha e da Irlanda, que esta quarta-feira anunciaram que vão reconhecer oficialmente o Estado da Palestina a 28 de maio.

À CNN Portugal, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) disse que Portugal "mantém a mesma posição do anterior governo e não vai assumir uma posição diferente" para já, "o que não significa que não venha a reconhecer [o Estado da Palestina] no futuro".

"Vamos conservar a posição de mediadores no processo, tentando garantir ter o maior número de Estados possível para o reconhecimento [da Palestina]", adianta o MNE. "Este governo já recomendou a admissão da Palestina [na assembleia-geral das Nações Unidas]. Estamos em consultas com os países que já avançaram com o reconhecimento, como é o caso da Noruega, de Espanha e da Irlanda, e também estamos em consultas com países que estão mais reticentes, para tentar obter o maior consenso possível na União Europeia, para depois não ter de haver nenhum passo atrás."

Há duas semanas, o ministro dos Negócios Estrangeiros tinha indicado no Parlamento que Portugal está "sempre em avaliação" sobre o reconhecimento do Estado palestiniano, salientando o "enorme significado político" do voto favorável à admissão da Palestina como membro de pleno direito da ONU.

"Quanto ao reconhecimento formal, quanto a esse ato solene formal, nós estamos sempre em avaliação e, portanto, não dissemos que vamos fazer, mas também não dissemos que não o faremos", disse Paulo Rangel numa audição na comissão de Assuntos Europeus.

Questionado pelo deputado Rui Tavares do Livre, Rangel destacou que o voto favorável de Portugal à admissão da Palestina como membro da assembleia-geral da ONU "é um passo de enorme significado político internacional".

Dias depois, em entrevista ao jornal espanhol "El País", o chefe da diplomacia portuguesa rejeitou que Israel esteja a levar a cabo um genocídio com a sua guerra na Faixa de Gaza, considerando "injusto" dizer que o Estado hebraico pretende eliminar o povo palestiniano.

"O genocídio pressupõe a vontade de eliminar um povo. Seria muito injusto dizer que Israel pretende eliminar o povo palestiniano", disse Paulo Rangel, destacando ainda assim que "existe uma catástrofe humanitária que exige condenação, que exige que Israel aceite um cessar-fogo imediato e que precisa de ser reparada o mais rapidamente possível".

Em conferência de imprensa esta manhã, o primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Store, anunciou que o país vai reconhecer a independência do Estado da Palestina no próximo dia 28 de maio, sublinhando que "não pode haver paz no Médio Oriente sem este reconhecimento".

Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro da Irlanda anunciou que se junta à Noruega e também a Espanha nesta decisão. "Hoje, a Irlanda, a Noruega e Espanha anunciam que reconhecemos o Estado da Palestina", disse Simon Harris em conferência de imprensa, adiantando que é esperado que mais países se juntem a eles "nas próximas semanas".

Horas depois, a Eslovénia anunciou que também vai reconhecer o Estado da Palestina.

Em resposta aos anúncios, o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros convocou os embaixadores da Noruega e da Irlanda. "Estou a enviar uma mensagem clara", disse Israel Katz. "Israel não vai ignorar aqueles que minam a sua soberania e que põem em perigo a sua segurança."

A decisão de Espanha e da Irlanda, dois Estados-membros da UE, bem como da Noruega surge dois dias depois de o Tribunal Penal Internacional ter emitido mandados de detenção contra líderes do Hamas e do governo israelita, incluindo o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

Na sequência dos ataques do Hamas a 7 de outubro, que vitimaram 1.200 pessoas, Israel lançou uma ofensiva contra a Faixa de Gaza que, desde então, já provocou a morte de mais de 35.500 pessoas, na sua maioria crianças e mulheres, de acordo com cálculos do Ministério da Saúde do enclave. A ofensiva já provocou também 79.652 feridos, e suspeita-se que há milhares de outros presos nos escombros dos edifícios bombardeados.

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