Resultado final: Polónia 1-3 Áustria

BREVE ANÁLISE DO JOGO

Os Salmos de São Prass: ao futebol-tijolo respondes com futebol-calórico

A Polónia é uma equipa estranha, joga menos que a Áustria e os Países Baixos mas fez sofrer ambos, há que ter mérito para alcançar mais do que as nossas capacidades permitem - e, à sua maneira, a Polónia faz isso, discute resultados sem discutir o jogo, em jogo jogado a Polónia é pior, é futebol-tijolo, rijo e físico, durinho-rasgadinho, a Polónia é muito chata e aguentou um 1-1 com os Países Baixos até aos 80 e poucos minutos e hoje aguentou novamente o 1-1 além das suas capacidades, até aos 66 minutos, mas quem vê as estatísticas parece que o Polónia-Áustria foi muito equilibrado, não foi, mas Polónia e Áustria têm o mesmo número de remates, 15, sendo que a Polónia rematou pior, a Polónia tem mais um canto, 4 para 3 - e foi de um desses quatro que nasceu o golo polaco.

Por outro lado, há uma estatística bastante curiosa: a Polónia correu menos quilómetros que a Áustria mas teve menos posse, já se ouviu dizer num dos comentários televisivos durante este Euro que quem tem mais bola corre menos porque quem não a tem é que anda a correr atrás dela, este jogo da Polónia prova que isso não é verdade e há outros a provar o mesmo: a Hungria teve menos bola com a Suíça e correu menos, a Espanha teve menos bola que a Croácia e correu menos, a Albânia teve menos bola que a Itália e correu menos, a França teve menos bola no jogo com a Áustria e correu menos 6,8 quilómetros, há mais casos, mas o maior paradoxo desta tese de "ter mais bola é correr menos" é a própria Polónia: contra os Países Baixos os polacos tiveram 35% de posse e correram 114,9 quilómetros, mais 6 que os neerlandeses; neste jogo com a Áustria os polacos tiveram 44% de posse e correram 111,8 quilómetros, menos 1,4 quilómetros que os austríacos. Ou seja: a Polónia teve sempre menos bola e num jogo correu mais e noutro menos que o adversário.

O paradoxo polaco prova que há méritos da Polónia-tijolo entre um jogo e outro, sendo que o adversário é diferente e isso conta, mas: ao aumentar a posse de 35% para 44%, os polacos tiraram 3,1 quilómetros corridos de um jogo para outro e foram além disso, os polacos conseguiram pôr os austríacos a correr mais que a própria Polónia mesmo com a Áustria a ter mais bola - e é com estes truques de laboratório que a Polónia consegue aguentar o resultado além das suas capacidades, o que não é necessariamente o mesmo que jogar com a mesma qualidade, porque essa a Polónia tem-na em doses inferiores a todas as demais equipas do grupo. E o maior craque polaco, que jogou hoje, está como as estatísticas, cheio de paradoxos.

Lewandowski entrou aos 60 para o lugar de Buksa (autor do golo diante da Holanda) e viu quase imediatamente a seguir um amarelo após cotovelada numa luta por uma bola no ar, Lewandowski ainda arriscou o vermelho numa intervenção posterior e acabou por ser mais influente enquanto esteve no banco, onde foi visto várias vezes antes de entrar num vaivém inquieto enquanto falava com toda a gente e a dar indicações para o lado e para trás e para todo o sítio, foi mesmo no banco que Lewandowsi se mostrou mais útil e também não se pode culpabilizar demasiado o craque: vem de lesão, entrar num jogo de quase tudo ou nada tem mais de desespero - dele ou da equipa técnica ou de ambos - tem mais de desespero do que de adequado. É certo que a história do futebol tem exemplos de craques que fazem golos mesmo quando estão bastante debilitado mas a história do futebol tem mais exemplos ainda de que uma boa equipa vale mais que um bom craque.

Posto isto: o que a Áustria tem a mais do que a Polónia é que consegue também jogar futebol-tijolo mas sabe jogar futebol-manteiga, daquele que engorda o jogo com golos bons, por exemplo: lançamento de linha lateral aos 65m36 executado por Prass, seguem-se cinco passes e a bola volta a Prass, que passa para a entrada da área, Arnautovic deixa a bola passar, sobra para Baumgartner, golo aos 65m58s, 22 segundos de posse - e há um jogador que se torna nesse lance o primeiro e o penúltimo a tocar numa bola que circulou durante aqueles segundos todos sem intervenção do adversário, são também truques de laboratório mas bem mais vistosos que os do laboratório viril polaco. E não se confundam: a Áustria também sabe ser agressiva mas sabe ainda ser atraente, são qualidades muito simpáticas para esta Áustria sonhar com qualquer coisa.

GOLOS

• 0-1 por Trauner, aos 9'
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• 1-1 por Piatek, aos 30'
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• 1-2 por Baumgartner, aos 66'
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• 1-3 por Arnautovic, aos 78' (penálti)
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EQUIPAS INICIAIS

• POLÓNIA Wojciech Szczesny, Jan Bednarek, Pawel Dawidowicz, Jakub Kiwior; Przemyslaw Frankowski, Jakub Piotrowski, Piotr Zielinski, Bartosz Slisz, Nicola Zalewski; Adam Buska e Krzysztof Piatek
   
• ÁUSTRIA Patrick Pentz, Stefan Posch, Philipp Lienhart, Gernot Trauner, Phillipp Mwene; Nicolas Seiwald, Florian Grillitsch, Christoph Baumgarnter, Konrad Laimer, Marcel Sabitzer e Marko Arnautovic

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