França aprova lei da imigração mais rigorosa com texto "forte e firme" e abre guerra no governo

CNN Portugal , MJC com Lusa - notícia atualizada às 23:59
19 dez 2023, 22:58
Assembleia Nacional de França (AP)

O projeto de lei prevê medidas mais duras para os imigrantes em França e foi bastante contestado pelos deputados e ministros da esquerda

O parlamento francês aprovou um projeto de lei de imigração que prevê medidas mais rigorosas e que reduz os pagamentos da assistência social para os estrangeiros no país, mesmo depois de vários ministros terem ameaçado com a demissão caso a lei fosse mesmo para a frente. Com efeito, e poucos minutos após a decisão, Aurélien Rousseau, que tinha a pasta da Saúde, anunciou a saída do governo.

A lei de imigração foi primeiro aprovada no Senado (com 214 votos a favor e 114 contra) e depois foi também aprovada pela Assembleia Nacional (com 349 votos a favor 186 votos contra), sendo que a extrema-direita votou a favor, colocando em cheque vários dos partidos que ainda apoiam o presidente, Emmanuel Macron.

Esta lei foi bastante contestada. As regras mais duras, que ilustram a mudança para a direita na política de grande parte da Europa, causaram desconforto entre alguns dos deputados de esquerda.

O texto acordado limita a 10 mil trabalhadores por ano, mas não bloqueia, o objetivo do Governo de regularizar os imigrantes indocumentados que trabalham em setores que não encontram mão-de-obra, como a construção ou a hotelaria. Além disso, estende-se para cinco anos a partir dos seis meses atuais, o período de espera durante o qual os imigrantes legais de países terceiros podem solicitar alojamento ou auxílio familiar.

O direito automático ao trabalho dos requerentes de asilo também é abolido (atualmente existe um período de espera de seis meses). Outro elemento é que as condições de acesso ao trabalho para estudantes estrangeiros são mais rigorosas.

Adicionalmente, estabelece-se o objetivo de criação de quotas anuais de imigração, cria-se o crime de residência ilegal em solo francês, inicialmente punível com pesadas multas, e prevê-se a retirada da nacionalidade para os binacionais que cometam determinados crimes. Por outro lado, é proibida a entrada de menores em centros de detenção administrativa para imigrantes indocumentados e são aumentadas as penas para os traficantes de imigrantes.

“O texto da imigração foi votado definitivamente”, saudou imediatamente Gérald Darmanin no X (antigo Twitter). "Uma longa luta para melhor integrar os estrangeiros e expulsar aqueles que cometem atos de delinquência. Um texto forte e firme", disse o ministro do Interior, congratulando-se por o texto ter sido aprovado “sem os votos dos deputados do RN" - ou seja, mesmo sem os 88 votos do partido de extrema-direita Rassemblement National, o projeto de lei seria aprovado.

Nos partidos que apoiam o presidente Macron nem todos concordam com a nova lei: entre os deputados eleitos pelo Renaissance, 20 votaram contra e 17 abstiveram-se; no MoDem, 5 deputados votaram contra e 15 abstiveram-se; no Horizons só dois deputados votaram contra.

A aprovação resulta de um acordo alcançado esta terça-feira numa comissão mista Assembleia-Senado, em que houve uma clara maioria de direita, e que endurece a proposta inicial e é muito semelhante à que tinha sido inicialmente aprovada na câmara alta (Senado), com maioria conservadora. O ‘golpe’ ocorreu quando a líder da extrema-direita Marine Le Pen anunciou que o seu partido RN apoiaria o texto e tentou apropriar-se da sua aprovação, proclamando “uma vitória ideológica”.

Darmanin denunciou que estas declarações foram apenas “um golpe político”, uma vez que o RN finalmente cedeu à sua política de não aceitar mais imigrantes de fora da União Europeia (UE).

O acordo perturbou a ala esquerda do ‘macronismo’, e três dos ministros que representam essa tendência (Saúde, Ensino Superior e Habitação) ameaçaram demitir-se se o projeto fosse aprovado. Poucos minutos da decisão, o ministro da Saúde apresentou mesmo a demissão.

Macron convocou uma reunião de emergência no Eliseu com a primeira-ministra, Élisabeth Borne, e com os presidentes dos partidos que compõem o seu bloco, bem como com os chefes dos grupos parlamentares destas formações. Nessa reunião ficou acordado não retirar o texto alcançado, mas, em vez disso, abriu-se a possibilidade de uma segunda leitura caso o projeto fosse adiante graças à extrema-direita do RN.

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