O Psicólogo Responde: Qual o impacto que as discussões dos pais têm nos filhos?
Discussão entre pais

O Psicólogo Responde: Qual o impacto que as discussões dos pais têm nos filhos?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Joana Cerdeira
Psicóloga e membro da direção da Delegação Regional Norte da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Que atire a primeira pedra quem nunca discutiu à frente dos filhos. E já pensou que isso não é necessariamente uma coisa má?

Quer vivam juntos ou separados, quando os pais discutem de forma construtiva e saudável, surge a oportunidade para trabalharem em conjunto na procura de soluções e na tomada de decisão, em questões como a disciplina das crianças, a sua rotina, educação ou outras preocupações. E isto pode traduzir-se em maior consistência e harmonia na criação dos filhos, tão relevante para o desenvolvimento saudável das crianças e a sua felicidade.

Além do mais, as crianças aprendem a ver fazer. Por isso, quando assistem ou se apercebem de discussões conduzidas produtivamente, estão a ser ensinadas que a divergência de opiniões não é uma coisa negativa e que as opiniões diferentes são ouvidas e consideradas. O que faz com que aprendam muito sobre comunicação eficaz e resolução de conflitos.

Desentendimentos ou discussões ocasionais são uma parte normal de qualquer relacionamento, inclusive entre os pais. É natural que os pais tenham perspectivas diferentes! Quando nenhuma delas é totalmente desconsiderada e ambos fazem um esforço para consensos e compromissos, promovem-se sentimentos de cooperação e de partilha de responsabilidades parentais, o que pode levar a que a relação conjugal/parental saia também fortalecida.

Porém, se as discussões entre os pais são frequentes e acaloradas, isto pode ter um impacto negativo no desenvolvimento e bem-estar psicológico das crianças, bem como no seu desempenho académico e na qualidade das suas interacções sociais. Nestas circunstâncias, as crianças podem sentir-se inseguras, ansiosas ou deprimidas.

Além do mais, discussões hostis, desrespeitosas ou não resolvidas podem ensinar às crianças formas inadequadas para lidar com conflitos. Isso pode resultar em dificuldades de comunicação e relacionamentos problemáticos no futuro.

A dinâmica da relação conjugal, caso a haja, pode também ficar afectada, acusando desgaste e sentimentos mútuos de insatisfação e sofrimento psicológico.

Manter uma relação saudável entre os pais pode ser desafiante, mas é essencial para que haja um ambiente positivo e estável para as crianças.

Aqui ficam algumas dicas que podem ajudar:

  • Comunicação aberta

    A comunicação eficiente é a base de qualquer relação saudável. Sejam abertos e honestos um com o outro e incentivem a escuta activa. Partilhem os vossos pensamentos, sentimentos e preocupações de uma forma respeitosa e sem entrar em confronto.
     
  • Respeito e empatia

    Trate o outro com respeito e empatia. Coloque-se no lugar do outro progenitor e tente compreender a sua perspetiva. Evite depreciar, rebaixar ou criticá-lo, ainda mais à frente dos seus filhos.
     
  • Resolução de conflitos

    Os desentendimentos são naturais em qualquer relação. Quando surgirem conflitos, resolva-os de forma calma e construtiva. Evite gritar ou recorrer a ataques pessoais. Concentre-se em encontrar soluções em vez de atribuir culpas.
     
  • Trabalho de equipa e colaboração

    Considere o exercício da parentalidade como um trabalho de equipa. Colaborem nas decisões sobre a educação dos filhos, as responsabilidades parentais e outros assuntos importantes. Quando ambos os pais trabalham em conjunto, cria-se um sentimento de unidade e apoio.
     
  • Apreço e gratidão

    Exprima o seu apreço pelos esforços e contribuições do outro progenitor. Reconheça e agradeça-lhe regularmente o seu apoio e acções.
     
  • Bem-estar pessoal

    Cuide do seu bem-estar físico e psicológico. Quando os pais estão felizes e realizados no plano individual, isso tem um impacto positivo na relação com os filhos. O autocuidado também constitui um bom exemplo para eles seguirem.
     
  • Tempo de qualidade em família

    Se os pais viverem juntos, é importante o tempo em família, participando em actividades de que tanto os pais como os filhos gostem. Isto ajuda a reforçar os laços entre ambos e proporciona um modelo positivo para relações saudáveis.
     
  • Tempo de qualidade conjugal

    Se forem um casal conjugal, passem tempo de qualidade a sós, sem filhos. Podem planear uma saída, participar em atividades de interesse comum ou simplesmente ter conversas com profundidade. Encontrar tempo para o outro no meio de agendas ocupadas mostra o seu empenho na relação.
     
  • Manter a individualidade

    Apesar de serem um casal conjugal, é importante manterem as vossas identidades próprias. Continuem a desenvolver os vossos interesses individuais, hobbies e amizades fora da relação. Isto não só enriquece a sua própria vida, como também evita que a relação se torne asfixiante.
     
  • Procurar ajuda quando necessário

    Se as discussões forem frequentes, intensas ou causarem um sofrimento significativo, pode ser benéfico para os pais procurarem ajuda de um psicólogo, através de psicoterapia individual, terapia de casal ou mediação de conflitos. Uma terceira pessoa neutra pode dar apoio na resolução de problemas de forma construtiva.
     
  • Necessidades das crianças

    Em última análise, as decisões devem ser tomadas tendo em conta o melhor interesse das crianças. Se as discussões forem constantemente prejudiciais para o seu bem-estar, pode ser necessário considerar mudanças que deem prioridade à segurança e à saúde psicológica das crianças.
     
  • Segurança

    Se as discussões se tornarem fisicamente violentas ou emocionalmente abusivas, a segurança de todos os membros da família torna-se a maior prioridade. Se você ou os seus filhos estiverem em perigo imediato, procure a ajuda de um amigo de confiança, de um familiar, das forças de autoridade ou de uma linha telefónica de apoio a vítimas de violência doméstica.

Lembre-se, se fosse um pai perfeito, isso seria muito mais prejudicial para o seu filho do que a oportunidade de reparar o que correu mal.

Sermos pais suficientemente bons é mais do que suficiente. Quando transformamos os nossos erros e falhas em oportunidades de aprendizagem, ensinamos os nossos filhos da melhor maneira possível: através do exemplo! E não há melhor aprendizagem do que aquela que se encontra dentro das paredes da nossa própria casa.

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