O Psicólogo Responde: Ataques de Pânico, Ansiedade e Stress. O que os distingue?
Ansiedade

O Psicólogo Responde: Ataques de Pânico, Ansiedade e Stress. O que os distingue?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Miguel Ricou
Psicólogo e presidente do CE de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Antes de mais, importa referir que estes três conceitos estão claramente associados à saúde mental e não, com a exceção dos ataques de pânico, necessariamente à doença mental. E antes de fazer referência ao que os distingue, importará refletir porque é que podem ser, de algum modo, confundidos. O que primariamente os liga é o facto de a ansiedade estar na base dos ataques de pânico e estreitamente relacionada com o stress. Contudo, o ataque de pânico é uma manifestação perturbada de ansiedade, e o stress pode ser considerado um construto normal, ainda que o senso comum nos sugira a vivência de uma situação urgente ou difícil. Por seu lado, a ansiedade é uma resposta fisiológica normal a uma situação vivida perigosa e que por isso provoca medo.

O medo é uma emoção primária, ou seja, algo que todas as pessoas sentem de forma semelhante, ainda que as causas possam ser diversas. Ao que se sente quando se tem medo pode chamar-se ansiedade, o que faz com que esta possa ser definida como a reação (ou reações) fisiológica ao medo, como podem ser exemplos a taquicardia, a tensão muscular e a sensação de calor, entre outras que podem variar de pessoa para pessoa. A ansiedade é por isso uma reação normal a uma situação geradora de medo para uma pessoa.

Contudo, por vezes, a ansiedade pode tornar-se perturbadora, o que pode ficar a dever-se a um conjunto de motivos que, conjugados com as características pessoais, poderão resultar no desenvolvimento de uma perturbação de ansiedade. Na base, este tipo de perturbação surge quando a pessoa sente que a reação ansiosa é desproporcionada em relação à perigosidade da situação. A pessoa sente que está “nervosa” sem motivo, o que torna a sensação desadequada e pode iniciar o ciclo que leva à perturbação de ansiedade. Este ciclo é importante para ajudar a compreender o que é um ataque de pânico.

Sentir ansiedade pode ser muito desagradável. O que acontece é que quando alguém está perante uma situação perigosa, pode não se aperceber da ansiedade, pois está focada na fonte do perigo. Quando a pessoa começa a sentir a ansiedade, isso significa que a fonte do perigo começa a deslocar-se do perigo que lhe deu origem para a sensação percecionada. Ou seja, a pessoa pode começar a sentir que a ansiedade é perigosa, o que vai aumentar a própria ansiedade. É este o princípio da perturbação de ansiedade que, no limite, pode levar ao ataque de pânico.

O ataque de pânico será por isso uma expressão extrema de uma crise ansiosa, em que o ciclo negativo da ansiedade se desenvolve (quanto mais ansiosa a pessoa se sente, mais ansiosa fica), muito focado nos sintomas acima descritos, e que resulta, com frequência, numa sensação de morte iminente. A pessoa sente que pode estar a morrer (ainda que tal seja claramente falacioso) pelo que o medo e a ansiedade são máximos, e normalmente a pessoa apenas começa a sentir-se mais calma quando procura ajuda externa, muitas vezes hospitalar. Poderemos então definir ataque de pânico como uma expressão máxima de uma crise ansiosa, que pode surgir associado a qualquer perturbação de ansiedade, mas é claramente mais frequente na agorafobia e menos frequente na ansiedade social e nas fobias específicas.

Já a relação e a distinção do stress em relação à ansiedade serão mais complexas de definir. Como já foi referido, o stress é uma resposta humana natural para lidar com desafios e com ameaças e visa promover o foco e a concentração na tarefa. Neste sentido não é diferente da ansiedade, ainda que esteja genericamente associado à execução de tarefas. Deste modo, quando a pessoa se vai expondo cronicamente a tarefas ou a contextos que sente poder não conseguir concretizar da forma que gostaria, o stress poderá começar a provocar consequências associadas de desgaste físico e psicológico que poderão desequilibrar a pessoa em diversos sentidos. Pode, nesses casos, contribuir para doenças associadas a esse mesmo desgaste acumulado, como a tensão alta, problemas gastrointestinais e perturbações do sono, bem como contribuir para o aumento da irritabilidade, e de problemas associados com a ansiedade e com a depressão. É por isso importante promover o autocuidado através do descanso e da realização de tarefas prazerosas que promovam o relaxamento e o bem-estar. Importará ainda distinguir as consequências da exposição crónica ao stress das perturbações descritas de stress agudo e de stress pós-traumático, que estão mais relacionadas com as consequências da exposição a situações de stress (ou medo) muito intenso, como sejam acidentes ou catástrofes.

Em resumo, poderemos dizer que o medo está na base destes três construtos, sendo que é a forma como esse medo nos afeta que marca a distinção entre os mesmos. Se nos ataques de pânico o problema é o descontrolo da sensação de medo, tendo esta uma expressão máxima, no stress crónico, o problema estará mais focado na vivência crónica de uma sensação de medo de falhar que provoca desgaste físico e psicológico. A perturbação de ansiedade, genericamente, parte de uma má relação com o medo, em que este é a principal causa do próprio medo. Nesse sentido, quanto mais ansiedade a pessoa sente, e esta lhe provoca dificuldades, mais medo vai ter de a sentir, pelo que esta vai ciclicamente aumentar. Se a ansiedade e o stress são fenómenos normais e úteis, a sua perturbação deve motivar a procura de ajuda.

Sugestões

  • A ansiedade e o stress são dimensões normais e úteis do funcionamento humano. O ataque de pânico é uma manifestação extrema de ansiedade, pelo que uma manifestação perturbada da mesma, que pode corresponder a uma sensação de “morte iminente”.
  • A perturbação de ansiedade pode ser genericamente descrita como o medo de sentir ansiedade, pelo que, se auto alimenta criando um ciclo negativo que promove a manifestação de sintomas ansiosos exacerbados em relação à realidade.
  • O stress é uma resposta normal para ajudar a lidar com desafios que se colocam à pessoa, aumentando a disponibilidade do corpo e da mente para esse desiderato. A exposição crónica ao stress pode provocar um conjunto de sintomas físicos e psicológicos associados ao desgaste provocado, como sejam perturbações cardiovasculares, gastrointestinais e do sono, bem como, aumento da irritabilidade, perturbações de ansiedade e depressivas.
  • O medo está na base destas três dimensões, sendo que, o seu desequilíbrio deve exigir reflexão por parte da pessoa com vista a uma melhor adequação dos seus ritmos de vida ou identificação de dificuldades, e pode beneficiar da procura de ajuda profissional.

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