O Dia D não acaba: Macron e Biden veem a Ucrânia resistir à Rússia como os Aliados resistiram à Alemanha Nazi

CNN Portugal , BCE
6 jun, 22:00

O mundo celebrou os 80 anos do desembarque na Normandia com cerimónias espalhadas pelos EUA, Canadá e Reino Unido, mas foi precisamente na Normandia, França, que se juntaram os líderes de todos os cantos do mundo - do presidente Joe Biden ao chanceler alemão, Olaf Scholz

Vários líderes mundiais e veteranos assinalaram esta quinta-feira os 80 anos do Dia D, decisivo para a derrota da Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial. Entre manifestações de gratidão e saudações aos veteranos, os líderes europeus aproveitaram para deixar recados, traçando um paralelo entre a "coragem" dos mais de 150 mil soldados que desembarcaram nas costas da Normandia com as forças ucranianas que lutam há dois anos para se defender da invasão russa. A mensagem ficou clara a partir do momento em que a Rússia, convidada há dez anos e antiga aliada dos EUA e do Reino Unido contra a Alemanha nazi, foi formalmente excluída das cerimónias devido à invasão da Ucrânia.

O primeiro a fazer esse paralelismo foi o próprio presidente ucraniano, ainda antes de chegar à cerimónia internacional na praia de Omaha, organizada pela França. Numa publicação na rede social, Volodymyr Zelensky descreveu este dia como "um lembrete da coragem e determinação demonstradas pela procura da liberdade e democracia".

"Os Aliados defenderam a liberdade da Europa naquela altura e os ucranianos fazem o mesmo agora. A união prevaleceu então, e uma verdadeira união pode prevalecer agora", escreveu Zelensky, na mesma publicação, acompanhada de um vídeo da sua chegada à França, ao lado da primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska.

A mesma narrativa foi reproduzida nos discursos dos restantes líderes europeus que marcaram presença no evento. Perante os veteranos e restantes líderes - já com Zelensky na plateia - o presidente francês, Emmanuel Macron, fez um apelo para que "tenhamos a coragem" daqueles que desembarcaram nas costas da Normandia naquela que foi a maior invasão anfíbia da Segunda Guerra, permitindo abrir uma nova frente, aliviando a pressão sobre a União Soviética a Leste.

"Quando olhamos para a guerra que regressa ao nosso continente, quando olhamos para as pessoas que questionam os valores pelos quais lutamos, quando olhamos para aqueles que querem mudar as fronteiras com recurso à força, reescrevendo a história – olhemos com dignidade para aqueles que aqui desembarcaram. Tenhamos a coragem deles”, apelou.

O presidente francês aproveitou a ocasião para reiterar que a França e os seus aliados não vão ceder no apoio à Ucrânia. “Estamos aqui e não vamos enfraquecer”, garantiu, horas antes de anunciar o envio para a Ucrânia de caças Dassault Mirage 2000-5 para ajudar no combate contra a Rússia.

O mesmo garantiu Joe Biden, presidente dos EUA, no seu discurso na Normandia após uma visita ao Normandy American Cemetery, em homenagem aos veteranos. Joe Biden, que viajou para a Europa acompanhado da primeira-dama norte-americana, Jill Biden, começou por elogiar a coragem dos soldados, que arregaçaram as mangas e não olharam para trás mesmo sabendo que as probabilidades de sobreviverem eram baixas.

“Os homens que lutaram aqui tornaram-se heróis, não porque fossem os mais fortes, os mais corajosos ou os mais ferozes – embora o fossem – mas porque lhes foi dada uma missão ambiciosa, sabendo que a probabilidade de morrer era real. Mas eles fizeram isso de qualquer maneira. Eles sabiam que há coisas pelas quais vale a pena lutar e morrer: a liberdade vale a pena, a democracia vale a pena, a América vale a pena, o mundo vale a pena. Na altura, agora e sempre", declarou Biden.

Para o presidente ucraniano, o Dia D é a prova de que a democracia é mais forte do que qualquer exército do mundo que se imponha perante os Aliados, desde que unidos. "O que os Aliados fizeram há 80 anos ultrapassa em muito qualquer coisa que poderíamos ter feito sozinhos”, afirmou, apelando à união de todos contra os "rufias" e "ditadores" autocratas, e reiterando o apoio dos EUA e do Ocidente à Ucrânia.

“Não viraremos as costas porque, se o fizermos, a Ucrânia será subjugada. E [a Rússia] não se ficará por aí. Os vizinhos da Ucrânia serão ameaçados. Toda a Europa será ameaçada. E não se iludam: os autocratas de todo o mundo estão a ver atentamente o que se passa na Ucrânia para ver se deixamos esta agressão ilegal passar em branco. Não podemos deixar que isso aconteça. Render-nos a rufias, ceder a ditadores, é simplesmente impensável", defendeu Joe Biden. 

“Em memória daqueles que lutaram aqui, que morreram aqui, literalmente salvaram o mundo aqui – sejamos dignos do seu sacrifício. Sejamos a geração que faz história e que será lembrada dentro de dez, 20, 50, 80 anos. Deixem que se diga: quando o momento chegou, fomos em frente e permanecemos fortes", insistiu.

Sem nunca mencionarem a Rússia ou Vladimir Putin, mas com a invasão da Ucrânia bastante presente - desde logo pela presença de Volodymyr Zelensky na cerimónia e pela memória daqueles que perderam a vida contra a Alemanha nazi - os 80 anos do Dia D ficaram assim marcados pela vontade demonstrada pelos aliados de se unirem novamente contra os autocratas de todo o mundo - ou, como Biden lhes chamou - contra os "rufias" e "ditadores" que "ameaçam" a Europa novamente.

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