“Atingimos o pico” e “alívio significativo” das restrições deverá vir a caminho

CNN Portugal , DCT
2 fev 2022, 12:50

Nelson Pereira, diretor do Serviço de Urgências do Hospital de São João, defende que a mudança de abordagem no combate à pandemia tem de começar a ser preparada e aponta o mês de março como aquele que poderá trazer um “alívio significativo” das restrições

Numa altura em que vários países da Europa começam a deixar cair algumas ou todas as medidas de combate à covid-19, especialistas entrevistados pela CNN Portugal defendem que Portugal deve levantar algumas das medidas de mitigação da propagação do SARS-CoV-2 já este mês, podendo haver, com isso, mudanças na testagem, uso de máscaras e até isolamentos. A CNN Portugal sabe que a Direção-Geral da Saúde (DGS) já está a estudar o próximo passo.

A propósito deste tema, Nelson Pereira, diretor do Serviço de Urgências do Hospital de São João, no Porto, revela que ainda existe pressão nos hospitais, não apenas pela covid-19 mas também por outras doenças, mas que “nos últimos três, quatro dias” está a melhorar, “está a refletir um bocadinho o panorama nacional”.

Parece, de facto, que atingimos o pico desta vaga pandémica. Significa isto que a pressão junto dos hospitais é ainda bastante elevada, mas que não se prevê que possa continuar a crescer”, diz o especialista.

Perante este cenário, Nelson Pereira defende que “temos de encontrar a justa medida deste equilíbrio e encontrar o momento certo em que o risco de alívio das restrições não será significativo para a nossa organização social”. E aponta o mês de março como aquele que poderá trazer a mudança.

Alívio significativo pode acontecer em março, mas algumas medidas devem cair entretanto

Para Nelson Pereira, o “ideal” seria começar a aliviar as medidas “daqui a um mês”, embora outros especialistas defendam que há condições para o fazer já em fevereiro, na última quinzena.

Em março, continua o médico, “poderemos chegar a uma situação em que as pessoas, claramente, se estiverem doentes, devem ficar em casa e nós vamos, a partir daí, concentrarmo-nos em defender os doentes”.

Quem vai ao hospital e tem doença grave tem de ter um diagnóstico para sabermos como tratar, mas se tem doença ligeira, claramente, a partir de certa altura, não precisaremos de saber se é infeção covid ou se é outra infeção qualquer”, diz, justificando que “também não testávamos todos os doentes que tinham gripe com um teste PCR”.

Nelson Pereira considera ainda que “esta gestão” deve ser feita de “equilíbrios relativamente à saúde individual e à saúde da sociedade e da população em geral”.

Temos de encontrar a justa medida deste equilíbrio e encontrar o momento certo em que o risco de alívio das restrições não será significativo para a nossa organização social”.

Quanto ao momento ideal para o fazer, Nelson Pereira diz que um “alívio significativo” das medidas deverá ocorrer “no início de março”, mas não descarta que “uma medida ou outra não possa ser já aliviada durante o mês de fevereiro”.

É preciso aliviar medidas, mas sempre de olho nos vulneráveis

Sobre o alívio de algumas medidas, tal como tem já acontecido em vários países europeus, o médico do São João defende que é uma discussão que faz sentido ter agora e, tal como os especialistas já tinham dito à CNN Portugal, o foco deve estar nos grupos de risco.

Nesta fase pandémica a que estamos a chegar e que discute, e bem, o alívio das restrições, vamos ter que cada vez mais nos concentrar na defesa dos vulneráveis, no tratamento dos doentes e menos nas medidas genéricas massificadas que até agora foram absolutamente fundamentais”.

Para o especialista, “importa ainda perceber que, apesar de termos chegado ao pico desta vaga, é um pico como nunca tivemos, estamos ainda com um conjunto imenso de pessoas sob ação desta infeção”. No entanto, defende que “é certamente necessário começar a planear este alívio de restrições, mas não podem ser amanhã e não penso que possam ser todas no mesmo momento, no mesmo dia”.

Quando questionado sobre as medidas que podem fazer sentido manter, Nelson Pereira volta a destacar que “o importante é centrar nos doentes” e, por isso, “quem está com sintomas tem de continuar, para já, a ser testado e isolado”.

A Madeira, por exemplo, passou a testar apenas as pessoas que apresentem febre acima dos 38º e, sobre este ponto, o médico é taxativo: “desde março de 2020 que percebemos que a febre não é um sinal fidedigno desta infeção”. Esta lógica, que muitos meses nos acompanhou, de que a febre era o grande indicador desta infeção e da capacidade de transmitir esta infeção é claramente falsa”.

Pressão nos hospitais é ainda uma realidade

Segundo o especialista, foi reduzida “a positividade nos pacientes no serviço de urgência”, estando agora nos 35%, “bem menos do que os 50% que já tivemos, mas que é ainda um número extraordinariamente elevado”.

Quanto ao número de doentes com infeção por SARS-CoV-2 internados no São João, o médico adianta que são 160, dos quais 16 em cuidados intensivos, valores que considera “elevados”. Porém, Nélson Pereira reconhece que “a maior parte desses doentes não tem a doença covid, mas tem outras doenças e, ao mesmo tempo, testaram positivo para a SARS-CoV-2”.

Tenho chamado a isto um pesadelo logístico”, lamenta o especialista. “Temos a necessidade de segregar estes doentes, de separá-los dos outros, porque a população internada no hospital é uma população extremamente vulnerável”, seja pela idade ou por terem outras doenças, explica.

Relacionados

Covid-19

Mais Covid-19

Patrocinados