Eis as notícias depois do ciclone-bomba Ciarán: Portugal tem "condições físicas para que as tempestades aumentem de frequência e amplitude"

2 nov 2023, 17:52

"Quanto mais quente está o oceano, mais energia está disponível para a atmosfera poder desenvolver estas depressões muito cavadas com impactos significativos." E como "o oceano é muito lento", as consequências a prolongam-se no tempo

Portugal tem “condições físicas para que as tempestades aumentem de frequência e amplitude”. A tempestade Ciarán, que chegou à Europa como um ciclone-bomba, não é a primeira do género a abater-se sobre o solo português, mas é provável que fenómenos destes se tornem mais frequentes. De resto, o fim de semana deve trazer outra tempestade, que até já tem nome - Domingos.

O geofísico e ex-presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) Miguel Miranda alerta, em declarações à CNN Portugal, para a dimensão das tempestades em causa. “É muito interessante do ponto de vista físico mas muito alarmante do ponto de vista social”, sublinha, notando que nos países mais afetados, como França, registaram-se ventos de 200 km/h, um valor altamente significativo e que é extremamente raro em solo europeu.

Miguel Miranda explica que, sobretudo devido ao aquecimento global - que vai provocar um aquecimento dos oceanos -, é natural que fenómenos destes ocorram com maior frequência e intensidade. “Quanto mais quente está o oceano, mais energia está disponível para a atmosfera poder desenvolver estas depressões muito cavadas com impactos significativos nas construções e nas pessoas”, acrescenta o geofísico.

E, apesar de o pior já ter passado, é de esperar que ainda se notem vários efeitos nos próximos dias, pelo menos até ao fim de semana. Isto porque “o oceano é muito lento”, o que leva as consequências a prolongarem-se no tempo, mesmo depois da passagem do sistema que provoca a tempestade.

“Isso leva a restrições na costa, até porque existe uma segunda tempestade oceânica este fim de semana que vai tornar mais difícil a vida nas comunidades litorais”, vinca Miguel Miranda.

O especialista pede, por isso, que as pessoas cumpram à risca as recomendações do IPMA, que emitiu um aviso vermelho para grande parte do litoral, deixando ainda um aviso laranja em toda a costa pelo menos.

“É importante que se perceba que vamos ter um novo máximo na agitação marítima. Quando se indica uma ondulação de oito metros de altura, isso quer dizer que 10% das ondas podem ter mais de 16 metros. Quando existe um aviso vermelho emitido pelo IPMA é para ser cumprido estritamente porque os perigos que existem são muitos”, reitera Miguel Miranda.

Sobre os efeitos que estes ciclones-bomba podem provocar, Miguel Miranda diz que “os portugueses têm alguma experiência de tornados, sistemas de outra dimensão”, mas alerta para os impactos que o vento e a chuva podem ter, sobretudo nas zonas mais perto da costeira. Basta ver o que aconteceu em 1941, quando os registos do IPMA assinalaram o primeiro ciclone-bomba em solo nacional.

"Quando os ventos atingem velocidades desta grandeza levantam objetos, destroem árvores. A ação combinada do vento e da chuva é muito impactante - as árvores de grande porte que caem nas zonas urbanas são capazes de destruir habitações e veículos", conclui o geofísico.

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