Ciarán não é o primeiro ciclone-bomba a passar por Portugal. E isto é o que podemos esperar

1 nov 2023, 17:38

Tempestade Ciarán vai afetar Portugal de forma significativa, mas não é a primeira vez que um fenómeno do género chega cá. O que aconteceu das outras vezes?

Portugal “foi varrido de forma muito violenta por uma depressão cavada”. É assim que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) descreve aquele que ficou conhecido como o “ciclone de 1941”, o primeiro ciclone-bomba a atingir o nosso país, desde que há registos, e que provocou a morte a 200 pessoas, por causa da subida do nível no mar que teve reflexo no rio Tejo.

Uma tempestade semelhante àquela que afeta Portugal por estes dias, a tempestade Ciarán, que já está a provocar vários estragos, nomeadamente por causa da chuva e vento fortes.

Há 76 anos houve “enormes prejuízos, alguns irreparáveis, que comprometeram seriamente a economia nacional”, lembra o IPMA. Desta vez as autoridades apressaram-se a fazer uma série de recomendações, colocando grande parte do país em aviso amarelo por causa da chuva e em avisos laranja e vermelho por causa da ondulação marítima.

Como o de 1941, e como todos os outros, este ciclone-bomba carateriza-se por uma descida acentuada da pressão atmosférica, que baixa drasticamente em apenas 24 horas - 24 milibares nesse período de tempo -, originando aquilo que os especialistas definem como ciclogénese explosiva.

Quanto menor for a pressão neste sistema, maior será a força do ciclone, que pode chegar mesmo a atingir intensidades similares às de um furacão, caso a pressão caia de forma drástica.

“Em Lisboa foi registado um valor de rajada de 129 km/h. Coimbra registou 133 km/h e no Porto, na Serra do pilar, 167 km/h, momento em que o anemómetro se avariou”, descreve o IPMA, na nota de 1941.

Em comunicado enviado às redações, a Proteção Civil adianta que, para esta quarta-feira, estavam previstos "períodos de chuvas ou aguaceiros, por vezes fortes", no norte e centro do país durante a manhã e no litoral norte a partir do final da tarde, bem como "vento forte", com rajadas até 90 km/h, e agitação marítima na costa ocidental, com ondas até cinco metros de altura.

Pior será quinta-feira, dia em que estão previstos "períodos de chuva, por vezes forte" a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela até ao início da manhã, bem como "queda de neve acima de 1200/1400 metros de altitude". Nas terras altas do norte e centro, as autoridades alertam para "vento forte, com rajadas até 100 km/h" e "agitação marítima forte a sul do cabo Raso", com ondas até sete metros (podendo atingir 14 metros de altura)".

O climatologista Mário Marques explica à CNN Portugal que, caso a situação piore, esta ciclogénese explosiva pode evoluir para uma "bombogénese, ainda mais intensa". Isto porque "existe um gradeamento térmico, entre ar frio e ar quente, uma grande diferença de pressão entre as duas massas de ar que, ao se deslocarem, vai permitir que a pressão baixe e produza uma curvatura ciclónica.

O especialista prevê interrupções de energia, dificuldades ao nível dos transportes, até porque se esperam ventos muito fortes, com "rajadas que podem atingir os 150 km/h ou mais".

Entretanto, a Marinha e a Autoridade Marítima Nacional emitiram um comunicado a alertar precisamente para a forte agitação marítima, antecipando ondulação com "uma altura significativa que poderá atingir os 10 metros e uma altura máxima de 18 metros, com um período médio a variar entre os seis e os 12 segundos".

"São esperados ventos provenientes do quadrante Noroeste, com uma intensidade média de até 85km/h e rajadas até 150km/h", refere-se ainda no comunicado da Marinha.

Embora não seja comum, um ciclone-bomba a atingir Portugal também não é tão invulgar assim. Além do catastrófico acontecimento de 1941, fenómenos semelhantes registaram-se em 1997, 2000, 2009 e 2013, provocando, sobretudo, grandes estragos na agricultura e em estabelecimentos comerciais, nomeadamente na zona Oeste do país.

Foi também o que aconteceu em 2014, quando a tempestade Hércules entrou em Portugal, logo no início do ano. Apesar de não se terem registado mortes, 20 pessoas tiveram de ser resgatadas de casa em várias localidades costeiras como Porto, Ovar ou Peniche.

As recomendações a seguir

A Proteção Civil deixa as habituais recomendações à população para que garanta a desobstrução dos sistemas de escoamento das águas pluviais e retirada de inertes e outros objetos que possam ser arrastados ou criem obstáculos ao livre escoamento das águas; uma adequada fixação de estruturas soltas, nomeadamente, andaimes, placards e outras que estejam suspensas, e especial cuidado na circulação e permanência junto de áreas arborizadas, devido à queda de ramos e de árvores.

Recomenda também especial cuidado na circulação junto da orla costeira e zonas ribeirinhas historicamente mais vulneráveis a galgamentos costeiros, a não praticar atividades relacionadas com o mar, nomeadamente pesca desportiva, desportos náuticos e passeios à beira-mar, evitando ainda o estacionamento de veículos muito próximos da orla marítima.

Aos condutores é recomendada condução defensiva, reduzindo a velocidade e tomando especial atenção à eventual acumulação de neve e/ou formação de lençóis de água nas vias rodoviárias e para não atravessarem zonas inundadas, de modo a precaver o arrastamento de pessoas ou viaturas para buracos no pavimento ou caixas de esgoto abertas.

Europa em alerta

É uma tempestade que está a deixar grande parte da Europa em alerta. Se em Portugal a Ciarán só vai passar ao lado, Espanha, França ou Reino Unido preparam-se para dias difíceis.

De resto, há vários dias que os serviços meteorológicos destes países vêm avisando para o fenómeno, alertando sobretudo as populações que moram perto da costa.

A Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (AEMET) fala mesmo num processo de “ciclogénese explosiva”, que também pode ser chamado de ciclone bomba, e que é um ciclone extratropical que se forma quando a pressão atmosférica baixa de forma repentina.

🌀💣🌦️Es probable que la #BorrascaCiaran sufra un proceso de ciclogénesis explosiva, un concepto del que seguro has oído hablar. En este hilo explicamos qué en qué consiste. Básicamente, se trata de una borrasca que se profundiza rápidamente en poco tiempo. 🧵 pic.twitter.com/9Rttw8QqfA

— AEMET Divulga (@AEMET_Divulga) October 30, 2023

“Basicamente trata-se de uma tempestade que se aprofunda rapidamente em pouco tempo”, refere a AEMET.

Quarta-feira ainda é um dia de transição, mas toda a Península Ibérica e a região das Baleares deve começar a sentir “precipitação generalizada, além de ventos muito intensos e um grande temporal marítimo”, sendo que estes dois fenómenos devem ser os mais significativos, segundo a AEMET, que está a colocar vários avisos em todo o país, com particular foco para as zonas costeiras.

O mesmo tipo de problemas que espera França, com a Meteo France a alertar para a possibilidade de “fenómenos perigosos”, sobretudo entre quarta e quinta-feira. “A tempestade Ciarán é esperada no noroeste do país entre a noite de quarta-feira e a manhã de quinta-feira. Será acompanhada por ventos violentos que podem atingir 100 a 140 km/h no interior e na costa 130 a 150 km/h ou mesmo localmente 150 a 170 km/h”, refere aquele serviço meteorológico.

❓D’où vient la tempête #ciaran ?
 

La dépression se creuse ce mardi au large de Terre-Neuve à l’ouest de l’Atlantique pour rapidement traverser l’océan en se renforçant. Elle est attendue en France mercredi soir.

 

Point complet👉https://t.co/09XlTyKanI

 

📷31/10/2023 à 11h UTC pic.twitter.com/BdB5a4Rfyj

 

— Météo-France (@meteofrance) October 31, 2023

Ao vento forte vai juntar-se a chuva, mas também um elevado risco de “ondas de submersão” em toda a costa atlântica, mas também no Canal da Mancha.

Já o serviço de meteorologia do Reino Unido prevê “vento forte e muita chuva” no sul do país, alertando a população para que fique atenta a fenómenos extremos.

#StormCiarán has been named and is forecast to bring very strong winds and heavy rain to southern parts of the UK on Wednesday night and into Thursday
 

Stay #WeatherAware pic.twitter.com/wC1NxowSoW

 

— Met Office (@metoffice) October 29, 2023

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