Em média, os bancos portugueses oferecem uma taxa de juro nos depósitos onze vezes inferior à oferecida nos bancos europeus. Os Certificados de Aforro são produtos mais atrativos, mas os portugueses continuam com muito dinheiro parado nos depósitos
O Banco Central Europeu (BCE) sinalizou pela primeira vez, em dezembro do ano passado, que a primeira subida de taxas de juro na zona euro poderia ocorrer ainda em 2022. Não era provável, mas possível, dizia na altura Christine Lagarde, a líder do banco central.
A taxa de inflação na zona euro era então de 5% e ainda se vivia na expetativa de que a subida de preços podia ser um movimento temporário. Hoje, a taxa de inflação está nos 10% e a principal taxa de juro do BCE passou de zero para 2%.
Apesar da incerteza de então, os mercados acreditaram mesmo que os juros iriam subir e, mês após mês, as taxas de juro cobradas pelos bancos no crédito que concediam nunca mais deixaram de aumentar.
Em janeiro, a taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação concedidos a particulares era de 1,34% na zona euro e de 0,81% em Portugal. Em setembro, a taxa era de 2,38% na zona euro e de 2,23% em Portugal. E com esta subida, aumentaram as prestações mensais de quem tinha dívidas à banca.
No imediato, a única boa notícia que poderia vir deste movimento de subida generalizada de juros era que as taxas a que eram remuneradas as poupanças também subiriam. Uma subida que poderia compensar parte da perda real que essas mesmas poupanças enfrentavam perante a inflação galopante.
Mas o que se passou ao longo de 2022 mostra que, se essa era a expetativa, nos depósitos bancários a realidade tem sido bem diferente.
Em janeiro de 2022, a taxa de juro a que eram remunerados os depósitos até um ano na zona euro era de 0,19%. Em Portugal, essa mesma taxa era de apenas 0,04%, quase cinco vezes menos. E se no conjunto dos países que usam o euro essa taxa subiu para 0,56% em setembro, em Portugal, a taxa subiu apenas para 0,05%. A diferença é agora superior a 11 vezes.
Porque sobem os juros do crédito e não os de depósitos
O diferente ritmo de evolução dos juros é explicado por vários fatores, que vão desde as regras de formação destas taxas, à própria situação do mercado bancário em Portugal.
Para António Ribeiro, especialista em assuntos financeiros da DECO PROTESTE, e para Vinay Pranjivan, especialista em proteção do consumidor e serviços financeiros, a resposta é simples: enquanto os juros dos empréstimos são uma receita para os bancos, os juros dos depósitos representam um custo.
Há ainda outros fatores a ter em conta. “Os créditos estão, na maioria, indexados às taxas Euribor, sobretudo os créditos hipotecários, pelo que o ajuste é imediato nas datas de atualização; já os depósitos não têm nenhum vínculo direto”, explica António Ribeiro. Existem, no entanto, depósitos indexados à Euribor, mas o especialista ressalva que estes são uma raridade.
Na mesma linha segue também Vinay Pranjivan, que defende que a subida do juro nos depósitos se trata de uma decisão comercial.
A velocidade a que esse ajustamento é feito é uma decisão comercial e, não havendo um mercado muito concorrencial – os cinco maiores bancos comerciais têm uma quota de mercado quase 80% - o ajustamento pode ser lento sem grandes alterações nos depósitos”, diz Vinay Pranjivan.
Certificados de Aforro são opção segura
E sem expectativa de subida nas taxas de depósito, os Certificados de Aforro (CA) tornam-se mais atrativos. Serão a melhor alternativa?
Para o especialista da DECO, dentro dos produtos de capital garantido e baixo risco, a resposta é sim. Estando indexada à Euribor a 3 meses, a taxa base bruta de novembro nos CA foi fixada em 2,492%, e mesmo com uma taxa líquida de 1,79% (depois de descontado o IRS a uma taxa de 28%), continua a ser uma remuneração que não é oferecida por qualquer depósito.
Enquanto o melhor depósito a 12 meses oferece um juro líquido de 1,2% para montantes superiores a 50 mil euros, os CA podem ser subscritos a partir de 100 euros, acrescenta António Ribeiro.
Vinay Prajivan, por sua vez, destaca que embora os Certificados estejam indexados à Euribor a 3 meses, estes possuem um teto máximo de remuneração fixado nos 3,5%, mas ressalva que, numa comparação de taxas de juro de remuneração, continuam a ser a melhor alternativa aos depósitos.
“No contexto atual, a remuneração superior dos CA significa que a inflação irá fazer perder menos valor do capital aplicado, comparando com uma aplicação em depósitos, cuja remuneração é de quase 0%”, acrescenta o especialista. Mas, e as pessoas que já tinham poupanças em Certificados, também irão beneficiar das subidas da Euribor?
É importante referir que a subscrição de Certificados está disponível através de séries, sendo que a única atualmente disponível é a série E. No entanto, quem subscreveu as séries anteriores também vai beneficiar da subida das taxas Euribor, pois a maior parte delas encontra-se indexada a esta taxa, refere António Ribeiro.
As séries A e B são as únicas que não se encontram indexadas à Euribor, enquanto as séries C, D e E, embora com fórmulas de cálculo diferentes, refletem diretamente a evolução desta taxa.
No caso das séries abrangidas pela Euribor, os juros vencidos são determinados mensalmente no antepenúltimo dia útil do mês para o mês seguinte, segundo o IGCP. Nas séries D e E, a fórmula de cálculo é E3 + 1%, onde E3 é a média da Euribor a três meses nos dez dias úteis anteriores.
Apesar da atratividade dos CA, no final de setembro deste ano os portugueses tinham aplicados em depósitos nos bancos 181,3 mil milhões de euros, sendo que destes, quase quatro mil milhões foram depositados em setembro.
Já nos CA, também no final de setembro, estavam aplicados apenas 14,6 mil milhões de euros, mais 2,1 mil milhões que no final do ano passado. Em setembro foram aplicados 702 milhões de euros neste produto.