Soldados LGBTQ que se juntam à guerra na Ucrânia usam o unicórnio como símbolo

4 jun 2022, 11:38
Oleksandr Zhuhan e Antonina Romanova, soldados unicórnios

Zhuhan e Romanova conheceram-se a trabalhar no teatro e são um casal LGBTQ que combate na frente de guerra. Na farda, têm um unicórnio, uma criatura que 'não existe', para homenagear os muitos soldados que fazem parte da comunidade que muitas pessoas tentaram negar que faziam parte do exército durante o conflito de 2014

Oleksandr Zhuhan e Antonina Romanova são dois dos voluntários que se vão juntar à frente de combate na Ucrânia. Nos uniformes, um unicórnio, o símbolo de que são um casal LGBTQ e, agora, soldados ucranianos. Segundo a Reuters, os membros da comunidade LGBTQ ucraniana que se alistam para a guerra começaram a coser a imagem do animal mitológico nas suas dragonas, abaixo da bandeira nacional.

A prática remonta ao conflito de 2014, quando a Rússia invadiu e anexou a península da Crimeia, que pertencia à Ucrânia, e "muitas pessoas afirmaram que não havia homossexuais no exército". 

"Então, [a comunidade LGBTQ] escolheu o unicórnio, porque é como uma criatura que 'não existe'", afirma Oleksandr Zhuhan, ator, realizador e professor de teatro.

Zhuhan e Romanova conheceram-se a trabalhar no teatro. Nunca receberam treino para usar armas, mas depois da guerra começar e de se terem escondido durante vários dias na casa de banho, decidiram que era tempo de fazer mais. 

"Lembro-me de que a certa altura tornou-se óbvio que só tínhamos duas opções: escondermo-nos num abrigo, fugir e escapar, ou juntarmo-nos à Defesa Terrestre (voluntários). Escolhemos esta", afirma Romanova, que se identifica como uma pessoa não-binária, com os pronomes ela/dela e que se mudou para a capital depois de ter deixado a Crimeia em 2014. 

O casal diz ainda que a sua vocação dá um sentimento acrescido de responsabilidade. 

“O que a Rússia faz não é só ficar com os nossos territórios e matar as nossas pessoas. Querem destruir a nossa cultura e não podemos permitir que isso aconteça,” diz Zhuhan.

Sem agressões, nem bullying

À Reuters, o casal conta que a primeia missão foi em Mykolaiv, no sul da Ucrânia, e que esta mudou as suas vidas. A lutar lado a lado, na mesma unidade, Zhuhan e Romanova dizem que os colegas de armas os aceitaram sem problemas.

"Não houve agressões, nem bullying. Foi um pouco estranho para alguns deles. No entanto, com o tempo, as pessoas começaram a chamar-me Antonina e alguns até usaram o meu pronome feminino”, conta Romanova, que viu o companheiro contrair pneumonia durante os combates.

Dos colegas receberam amizade quando se juntaram à sua nova unidade, na estação central de Kiev, para um segundo período de três meses de serviço. O casal conhecia parte da equipa, mas os comandantes não estavam lá.

“Estou um pouco preocupado com isso. Sei que em algumas unidades as regras são mais rígidas. Não era assim na nossa (primeira) unidade”, afirmou Zhuhan, enquanto a unidade se dirigia para o comboio, ao anoitecer. 

No entanto, a preocupação de Zhuhan desvanesceu-se quando um dos comandantes lhe disse que não iria tolerar homofobia e outro dos oficiais afirmou que a única coisa que importa na frente de combate é ser-se um bom soldado.

A combater pela Defesa Terrestre, na mente de Zhuhan permanece outra preocupação, que partilhou com os repórteres da Reuters durante a reportagem no apartamento do casal.

"O que mais me preocupa é que, no caso de ser morto durante esta guerra, não permitirão que Antonina me enterre da forma que eu quero ser enterrado. Mais facilmente deixavam a minha mãe enterrar-me com um padre a ler orações parvas. Mas eu sou ateu e não quero isso".

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