Tropas ucranianas impressionam militares dos EUA com a rapidez com que aprenderam a manobrar os Patriot

CNN , Natasha Bertrand e Aileen Graef
22 mar 2023, 17:12
Mísseis Patriot (Mindaugas Kulbis/AP)

Os militares ucranianos acenaram e buzinaram enquanto conduziam por uma estrada de terra em Fort Sill, Oklahoma, nos Estados Unidos, colocando os seus veículos em posição de defesa contra um hipotético ataque de mísseis russos.

Estes não eram, no entanto, camiões vulgares. Os ucranianos estavam aos comandos do sistema de defesa aérea Patriot, de fabrico norte-americano, no qual 65 militares da Ucrânia têm vindo a treinar intensivamente há dez semanas, sob orientação do Exército norte-americano naquela base militar.

 
Um lançador de mísseis Patriot junto ao Fort Sill, Oklahoma, EUA, a 21 de março de 2023. Sean Murphy/AP

A CNN foi convidada a assistir à formação na terça-feira, poucos dias antes da esperada conclusão do curso rápido. A formação em Fort Sill é o único local em solo americano onde os EUA estão a instruir os ucranianos sobre os sistemas de armas norte-americanos. Mas foram proibidos vídeos e fotografias do treino, para proteger as identidades dos ucranianos que vão regressar a casa no próximo mês para defender o seu país contra os russos.

Os ucranianos superaram as expectativas, disseram as autoridades. Aprenderam os princípios básicos do sistema Patriot tão rápido que nem precisaram da formação extra e intensiva dada aos americanos que completam o mesmo curso, acrescentaram.

"A nossa avaliação é que os soldados ucranianos são impressionantes. Eles aprenderam tudo muito rapidamente devido aos seus vastos conhecimentos e experiência em defesa aérea numa zona de combate", afirmou o brigadeiro-general Shane Morgan, comandante-geral do Fires Center of Excellence de Fort Sill.

Fort Sill, Oklahoma, EUA. Sue Ogrocki/AP

"Foi mais fácil, embora nunca fácil, para eles acompanharem o ritmo", observou. "São os melhores dos melhores no que fazem em termos de defesa aérea para a Ucrânia."

O sistema está agora pronto para ser enviado para a Ucrânia nas próximas semanas - muito mais cedo do que o previsto - dando ao país alguma proteção extra contra os mísseis russos que tem sido solicitada desde o início da guerra, há pouco mais de um ano.

Na terça-feira, autoridades norte-americanas também disseram que os carros de combate Abrams seriam enviados mais rapidamente do que o esperado, embora os ucranianos digam que é necessário armamento muito mais sofisticado, e em muita quantidade, para forçar a ofensiva russa a recuar de forma significativa.

E os EUA e os seus aliados sabem que os dois sistemas Patriot que vão ser enviados para a Ucrânia - um fornecido pelos EUA, o outro conjuntamente pela Alemanha e pelos Países Baixos - não serão suficientes para defender cidades ucranianas inteiras de complexos ataques de mísseis russos.

"Um Patriot não será capaz de defender toda a cidade" de Kiev, por exemplo, sublinhou um alto funcionário da defesa.

Mas será melhor do que os sistemas de defesa aérea que os ucranianos estão atualmente a utilizar e que não conseguem defender ataques de mísseis balísticos russos.

Treino intensivo

Os homens e mulheres ucranianos, com idades entre os 19 e os 67 anos, treinaram das 07:00 às 18:00, seis dias por semana, durante dez semanas, indicaram as autoridades. Muitos eram engenheiros qualificados antes da guerra e muitos têm vários diplomas, e todos foram escolhidos a dedo pelos líderes militares ucranianos para treinar nos EUA.

"Penso que só por causa da sua experiência de combate em casa, eles foram capazes de aprender as coisas com muita facilidadade - o melhor que já vi até agora, e treinei vários países", considerou um dos formadores à CNN. "Estes gajos são muito rápidos."

Sublinhando a experiência dos ucranianos em defesa aérea quando chegaram a Fort Sill, um alto funcionário da defesa dos EUA disse que o comandante do batalhão ucraniano já tinha realizado várias intercetações de mísseis russos ao longo da guerra. O comandante do batalhão dos EUA, pelo contrário, nunca conduziu uma interceção de mísseis no mundo real, apontou o oficial.

Os ucranianos também se adaptaram bem à vida em Fort Sill, que incorporou muitas sopas - um alimento básico ucraniano - no plano de refeições juntamente com a cozinha americana: hambúrgueres, churrasco e bifes. Um dos formadores disse à CNN que muitos nunca tinham comido hambúrgueres antes. Eram os favoritos do grupo.

Mas o combate intenso e real que os espera na Ucrânia estava constantemente a ser lembrado. Um soldado ucraniano estava no meio de uma sessão de treino quando recebeu um telefonema informando-a de que o seu marido tinha sido morto em combate. Vários dos 18 intérpretes militares dos EUA chamados para ajudar na tradução nasceram na Ucrânia e foram profundamente afetados pelas experiências dos soldados, revelaram as autoridades.

"Tem sido uma verdadeira honra conhecer estes guerreiros", disse um alto funcionário de Fort Sill. "As suas histórias foram horríveis e incríveis ao mesmo tempo. E penso que aprendemos tanto com eles quanto o que lhes ensinámos."

Os formadores americanos incorporaram no treino as ameaças e condições realistas que as tropas ucranianas irão enfrentar quando chegarem a casa, acrescentou o mesmo oficial. Mas muitas vezes os ucranianos assumiam a liderança do treino, adaptando-o às ameaças mais realistas que possam enfrentar em casa.

"Normalmente não fazemos isso", reconheceu o formador. "Mas com base no que estes militares ucranianos vão fazer, era muito importante que pudéssemos ter esse diálogo e incorporar algumas dessas ameaças realistas."

"Uma vez na Ucrânia, os militares irão integrar estes novos sistemas nas suas defesas aéreas por uma única razão - para ajudar a proteger a Ucrânia dos ataques arbitrários da Rússia a infraestruturas civis em áreas urbanas densamente povoadas", disse o porta-voz do Exército dos EUA, Martin O'Donnell. "Fort Sill e o seu centro de excelência está a permitir tal proteção. Estou certo de que as suas ações nestes últimos meses salvarão vidas."

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados