O que são os mísseis Patriot? Como podem ajudar a Ucrânia?

21 dez 2022, 18:02
Mísseis Patriot (U.S. Department of Defense/ASSOCIATED PRESS)

Os mísseis Patriot que os Estados Unidos vão enviar para a Ucrânia são "uma arma defensiva", não de ataque. No terreno poderão revelar-se importantes para a capacidade de defesa ucraniana, mas quanto ao rumo da guerra as dúvidas são muitas

Desde os primeiros dias de dezembro que os Estados Unidos admitiram a possibilidade de enviar mísseis Patriot para a Ucrânia. Uma possibilidade que se tornou uma certeza esta quarta-feira, com a visita de Volodymyr Zelensky a Washington.

Há muito que o presidente ucraniano apelava a esta ajuda, perante os bombardeamentos persistentes da Rússia às infraestruturas elétricas do país.

Os mísseis Patriot são “uma bateria de mísseis terra-ar, bastante eficazes do ponto de vista da defesa antiaérea". "Podem ser usados para abater aeronaves, drones, como outros mísseis", explicou na CNN Portugal Helena Ferro Gouveia, que considerou mesmo que "podem ser um game changer na Ucrânia".

Também o major-general Vítor Viana considerou na CNN Portugal que o sistema de mísseis Patriot é “excelente em termos de defesa antiaérea, dos melhores que existem a nível de forças armadas”, sendo, por isso, uma mais-valia caso seja usado pela Ucrânia.

Já o major-general Isidro de Morais Pereira ressalvou que se trata de uma “arma defensiva”. Admitindo, todavia, que "este tipo de armamento, com o tipo de alcance que tem, pode até falhar um alvo e aterrar em território russo".

Mas que mísseis são estes?

Numa linguagem mais técnica, são um sistema de mísseis terra-ar de médio alcance construído pela empresa norte-americana Raytheon e usado por vários países. Em 2020, cerca de 14 países tinham este sistema, como, por exemplo, Israel, Alemanha, Espanha, Japão ou Taiwan. O sistema já existia mas tornou-se mais conhecido na altura da Guerra do Golfo, tendo sido utilizado pelos Estados Unidos.

Patriot é a abreviatura de “Phased Array Tracking to Intercept On Target”.

Combina um avançado sistema de mísseis intercetores e um dos radares mais eficazes do mundo, relativamente ao rastreio de alvos. Será mesmo o primeiro sistema de defesa antiaérea a conseguir detetar e também o primeiro a proteger contra os mísseis balísticos táticos utilizados pela Rússia para destruir infraestruturas ucranianas. A sua capacidade de defesa aérea situa-se a alta e média altitude. 

Em última análise, a sua função é rastrear um alvo, através do uso de antenas – ou radar – e intercetar o mesmo durante a sua trajetória.

O MIM-104 foi o primeiro Patriot, projetado no final dos anos 60 como um sistema de defesa antimísseis, combinando uma série das tecnologias recentes na época: radar de Antena Phased Array e mísseis guiados por radar semi-ativos.

Em 1988, foi atualizado para superar as suas capacidades antimísseis anteriormente limitadas com a ajuda do programa Patriot Advanced Capability (PAC). A atualização mais recente, chamada PAC-3, é um sistema de mísseis projetado desde o início para destruir mísseis balísticos táticos.

O PAC-3 Erint tem um design completamente diferente dos antecessores. É mais rápido e, com a ajuda de uma nova disposição das suas superfícies de controle, a sua manobrabilidade foi aumentada. O sistema de orientação do PAC-3 também é diferente: tem um radar ativo que permite seguir o alvo quando o radar rastreador não conseguir. Este radar ativo também permite que faça correções na trajetória com muito mais rapidez, aumentando assim a sua eficiência. 

Quando há interceção de um míssil balístico, este é destruído por impacto e não por explosão. O alcance útil ronda os 60 quilómetros. Ao contrário de outros mísseis, que criam uma explosão capaz de destruir um alvo sem acertar, o Patriot foi desenvolvido especificamente para atingir o seu alvo.

As estações de tiro

O Patriot é um sistema de combate completo, construído em torno de oito tratores-eretores-lançadores, também chamados de estações de tiro, cada um carregando quatro "tubos" selados contendo os mísseis, que não requerem nenhuma manutenção externa. Cada estação estará equipada com um total de 16 mísseis (na versão mais moderna – o PAC-3). 

A estação de tiro é montada num trailer M-860 e rebocado por um HEMTT. Junto destas estações estão também uma estação de Controle de Incêndio, o radar AN/MPQ-53, uma antena para comunicação e bloqueio antirradar, tal como dois geradores a diesel.

Mísseis Patriot (Mindaugas Kulbis/AP)

Um dos segredos do sucesso do Patriot é o seu sistema de radar que permite detetar um bombardeiro e uma ogiva a 60 quilómetros. Consegue ainda rastrear até 100 alvos e, simultaneamente, perseguir seis alvos diferentes. Tem ainda capacidade de identificar aeronaves/aviões aliados.

Pode este sistema mudar o rumo da guerra?

Apesar de ser reconhecida a utilidade deste sistema para a defesa antiaérea ucraniana, nem todos consideram que os mísseis Patriot possam fazer grande diferença no rumo da guerra. O major-general Agostinho Costa considera que "há uma euforia geral, mas este sistema não vai resolver a guerra".

Além das dúvidas sobre o custo/benefício deste envio, já que um sistema Patriot custará cerca de "um milhão de euros". "Valerá a pena usar para eliminar um drone que custa menos de 50 mil euros?", questiona o major-general. Há ainda o problema da formação para operar os Patriot: "Se os operadores forem ucranianos levam meses a serem treinados", garante Agostinho Costa.

Mas além destas questões, uma das maiores dúvidas está na possibilidade de escalada do conflito. Se os Patriot forem enviados, não se sabe ao certo qual será a resposta russa.

Para Helena Ferro Gouveia, a própria visita de Zelensky aos EUA, naquela que é a primeira viagem do presidente ucraniano ao estrangeiro desde o início da guerra, pode ela própria provocar uma reação da Rússia. Esta visita "reveste-se de muita importância", por várias razões, mas há dúvidas sobre como a Rússia poderá reagir.

Esta quarta-feira, o Kremlin já deixou um aviso: o envio de novas armas à Ucrânia vai "agravar" o conflito, avança a AFP. Mas também Vladimir Putin discursou hoje no Conselho do Ministério da Defesa da Rússia, garantindo que mísseis balísticos intercontinentais Sarmat serão colocados ao serviço. O presidente russo anunciou que a Rússia irá usar mísseis hipersónicos de última geração “no futuro imediato”: “Pela primeira vez, iremos utilizar os mísseis balísticos intercontinentais Sarmat. Há alguns atrasos, mas não muda o nosso plano. Será implementado.”

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