"Brindes à Ucrânia eventualmente vão acabar". Putin congratula-se com impasses na UE e EUA e desmente perda de 315 mil soldados

14 dez 2023, 15:51
Conferência de imprensa de Vladimir Putin (AP)

Num evento televisivo altamente coreografado, o primeiro com direito a perguntas de jornalistas estrangeiros desde o início da guerra na Ucrânia, o presidente russo garantiu que não vai parar até alcançar os seus objetivos e assegurou que a situação no terreno "está a melhorar" para os russos

Na sua primeira (espécie de) conferência de imprensa desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, o presidente russo defendeu esta quinta-feira o que continua a classificar de “operação especial” no país vizinho, garantindo que a guerra só vai terminar quando a Rússia alcançar os seus objetivos, para os quais tem atualmente 617 mil soldados destacados no terreno. 

O número contraria informações adiantadas pelas secretas dos EUA há alguns dias, que fazem referência a mais de 315 mil soldados russos inoperacionais em quase dois anos de uma guerra que marca um “revés de 15 anos no esforço russo para modernizar as suas forças”.

Num evento altamente coreografado, onde não faltou até uma intervenção de mero agradecimento a Vladimir Putin pelo que está a fazer na Ucrânia, o chefe de Estado russo insistiu que está a ganhar e que os objetivos de Moscovo – “a desnazificação, desmilitarização e estatuto neutro” da Ucrânia – “não mudaram”. Putin também alegou que, para além dos 300 mil russos convocados para a guerra no ano passado, houve outros 486 mil a voluntariar-se como soldados contratados este ano.

“O fluxo dos nossos homens que estão preparados para defender os interesses da pátria com armas nas mãos não está a diminuir”, assegurou, sem adiantar números relativos às baixas no terreno. “Sendo modesto, ao longo de praticamente toda a linha de contacto, as nossas forças armadas estão a melhorar a sua situação.”

Durante a longa sessão de perguntas e respostas, Putin deixou subentendido que Kiev só continua a destacar mais homens para a linha da frente para mostrar ao Ocidente que precisa de mais financiamento militar. “Não sei porque é que estão a fazê-lo, estão a empurrar os seus homens para a morte, é uma viagem só de ida para as forças ucranianas. As razões para isto são políticas, porque os líderes ucranianos estão a implorar por ajuda aos países estrangeiros.” 

Perante os atuais impasses nos EUA e na UE quanto a mais apoios à Ucrânia, do lado de cá por culpa da Hungria de Viktor Orbán, seu grande aliado, o presidente russo acrescentou que a ajuda dos aliados vai acabar. “Hoje a Ucrânia produz quase nada. Perdoem-me a rudeza, mas tudo está a ser oferecido [a Kiev] como brinde. Contudo, esses brindes vão eventualmente acabar, e parece que já estão progressivamente a esgotar-se”. À mesma hora, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, repetia um aviso já deixado por outros líderes: “Se Putin ganhar na Ucrânia, existe um risco real de a sua agressão não parar aí.”

No contexto da União Europeia, e questionado sobre como vê a aproximação da Moldova ao Ocidente, Putin referiu que se o país não quer participar no “processo de integração no espaço pós-soviético, [que] assim seja”, mas que deve ponderar bem essa decisão. “A Moldova é o país mais pobre da Europa. [Se sair da esfera de influência russa], onde é que vai vender os seus produtos?”

A par das perguntas de jornalistas russos e internacionais, os cidadãos russos puderam enviar também as suas questões ao presidente, com fontes do Kremlin a falarem em dois milhões de perguntas submetidas e cuidadosamente analisadas antes do evento. Entre elas contou-se uma sobre a guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza, com Putin a falar numa “catástrofe” que “nada tem a ver” com o que se está a passar na Ucrânia. Para contexto, mais de 18 mil civis já foram mortos na ofensiva israelita desde 7 de outubro; na Ucrânia, foram já mais de 10 mil os civis mortos até novembro deste ano, a par de 25 mil soldados.

A sessão de perguntas e respostas teve lugar a três meses das presidenciais russas, marcadas para 17 de março, nas quais Putin deverá ser reeleito para mais um mandato de seis anos. Como nota o Telegraph, houve algumas mensagens menos abonatórias a Putin que escaparam ao crivo dos organizadores deste evento e que foram passando na televisão enquanto o líder russo falava. Entre elas, podia ler-se: “Não se candidate a presidente, dê lugar a alguém mais novo.

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