Estratégia: passar frio. Os "apagões" na Ucrânia enquanto o "terror russo" destrói as centrais elétricas

20 out 2022, 18:00

Termómetros rondam os zero graus, numa altura em que 40% da rede elétrica já foi atingida nos ataques. Para garantir que o país não fica às escuras, o governo ucraniano quer reduzir o uso de energia em 20% e já colocou limitações à população (que luta para manter os lares aquecidos)

Os ataques às centrais elétricas ucranianas multiplicam-se por todo o território desde os bombardeamentos de 10 de outubro - que fizeram 19 mortos e 105 feridos - e com eles os cortes de energia por todo o país. O principal objetivo das forças militares russas é destruir alvos militares e infraestruturas de abastecimento de energia elétrica ucraniana, como afirmou o ministro da Defesa, citado pela Reuters, ao assumir que, nas últimas 24 horas, os militares russos continuam a atingir esses alvos, enquanto que, ao mesmo tempo, terão conseguido repelir uma contra-ofensiva ucraniana na região de Kherson (de onde estão a ser retiradas milhares de pessoas).

Por sua vez, o ministro da Energia ucraniano revelou que, em apenas dez dias, foram registados mais de 300 ataques que danificaram seriamente a rede elétrica do país e deixaram milhares de pessoas sem energia numa altura em que as temperaturas rondam os zero graus.

Só nas últimas 24 horas, um ataque aéreo russo atingiu a maior central termoelétrica na cidade de Burshtyn, no oeste da Ucrânia, e a central elétrica de Kryvyi Rih ficou "seriamente destruída". Também a norte, em Kiev, várias infraestruturas de transformação de energia têm sido alvo dos ataques russos, o que tem dificultado o abastecimento elétrico dos lares ucranianos, numa altura em que a população luta para manter os lares aquecidos.

Segundo Herman Halushchenko, que deu uma entrevista à televisão ucraniana esta quinta-feira, como consequência dos ataques e dos subsequentes apelos do governo, a população limitou o consumo de energia, mas não foi suficiente e, por isso, a partir de agora, os ucranianos vão ter limitações ao uso de energia entre as 7:00 e as 23:00. O objetivo é reduzir em 20% o uso de energia. 

"Vemos uma queda no consumo. Vemos um decréscimo voluntário. Mas, quando não é suficiente, somos forçados a fazer apagões", afirmou o ministro, citado pela Reuters.

A medida já tinha sido anunciada pelo conselheiro de Volodymyr Zelensky, Oleksandr Kharchenko, que na quarta-feira deu novos dados sobre as infraestruturas elétricas do país. De acordo com o Kharchenko, a partir desta quinta-feira, as populações, que na última semana tem sofrido com as falhas de energia, vão continuar a sofrer com os cortes de luz, aos quais se juntam agora os programados.

"Infelizmente, de acordo com novos dados, cerca de 40 por cento da infraestrutura total está seriamente danificada. Os trabalhos de reparação e ligação estão em andamento, mas são esperadas interrupções hoje e amanhã", afirmou Kharchenko à televisão ucraniana, especificando que não se tratam apenas de cortes de "emergência, mas programados" para reduzir a carga da rede elétrica.

Por sua vez, o chefe de gabinete do presidente ucraniano revelou que a limitação no uso de energia não se aplica apenas às regiões onde aconteceram os ataques, nem onde as centrais de energia foram danificadas: a poupança é para todos.

"Das 7:00 às 23:00 é necessário minimizar o consumo de eletricidade. Isto aplica-se aos residentes de todas as regiões do país. Se isso não for feito, devem preparar-se para interrupções temporárias. Além disso, a partir de amanhã o uso de iluminação pública será limitado nas cidades", escreveu Kyrylo Tymoshenko.

Estes apagões deixam a população sem luz e, consequentemente, sem meios para se aquecer. E as temperaturas vão continuar a descer (há já avisos para a possibilidade de neve nos próximos dias). Esta quarta-feira, em declarações ao Parlamento Europeu em Estrasburgo, Ursula von der Leyen classificou os ataques às centrais elétricas como "atos de puro terror" que equivalem a crimes de guerra, uma vez que têm como "claro objetivo" cortar o acesso da população "a água, eletricidade e aquecimento com a chegada do inverno".
 
"Ontem vimos novamente os ataques direcionados da Rússia contra uma infraestrutura civil. Isso está a marcar mais um capítulo numa guerra já muito cruel. A ordem internacional é muito clara. São crimes de guerra", afirmou von der Leyen. 

A companhia elétrica Ukrenergo já alertou que "não exclui que, com o início do tempo frio, a ajuda da população seja pedida com mais frequência". Até porque, como alertou o presidente ucraniano, os danos na rede elétrica "são críticos" e há muitas infraestruturas que foram "completamente destruídas pelo inimigo". 

"Assumimos que o terror russo vai ser dirigido às infraestruturas elétricas até que, com a ajuda dos aliados, sejamos capazes de abater a 100% os mísseis inimigos e drones", afirmou Zelensky, num novo pedido de ajuda ao Ocidente.

O Conselho Europeu está reunido em Bruxelas até sexta-feira e o tema da crise energética é também o que domina a cimeira, com os líderes europeus a estudarem medidas para combater os elevados preços e assegurar a segurança do abastecimento.

Em resposta à invasão russa da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, a UE adotou já oito pacotes de sanções à Rússia, incluindo cortes nas importações de gás e petróleo.

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