Dormir mal pode aumentar o risco de desenvolver asma

CNN , Madeline Holcombe
8 abr 2023, 14:00
Insónia (Unsplash)

A má qualidade e quantidade de sono pode aumentar o risco de desenvolver asma, de acordo com um novo estudo

Pesquisas anteriores mostraram já que a asma tende a levar a problemas de sono, mas os investigadores queriam saber se a associação funcionava ao contrário, ou seja, se a forma como alguém dormia afetava a probabilidade de desenvolver asma, segundo o estudo publicado na revista BMJ Open Respiratory Research.

"Sempre soubemos que existe alguma associação entre asma e sono, mas a maior parte do trabalho tinha sido feita perante um cenário de apneia obstrutiva do sono", disse a alergologista pediátrica Amal Assa'ad, diretora associada da Divisão de Alergia e Imunologia do Cincinnati Children's Hospital Medical Center, em Ohio, nos Estados Unidos, que não esteve envolvida nesta investigação.

Os investigadores analisaram os dados de um grupo (coorte) de 2006 a 2010, com mais de 450.000 pessoas do Biobank do Reino Unido, uma grande base de dados biomédica e recurso de investigação que segue os inscritos a longo prazo. As pessoas estudadas tinham idades entre os 38 e os 73 anos de idade.

Num acompanhamento de 10 anos, quase 18.000 pessoas foram diagnosticadas com asma. A análise dos dados mostrou que as pessoas com predisposição genética e maus hábitos de sono tinham duas vezes mais probabilidades de desenvolver asma do que as pessoas de um grupo de baixo risco.

Normalmente, ter uma predisposição genética coloca um risco 25% a 30% maior de desenvolver asma, indicou Juanita Mora, alergologista/imunologista de Chicago e porta-voz nacional da Associação Americana do Pulmão, que não esteve envolvida no estudo.

Mas há boas notícias: padrões de sono saudáveis demonstraram estar associados a um menor risco de asma, independentemente da suscetibilidade genética.

As pessoas com genes de alto risco e bons padrões de sono tinham um risco ligeiramente menor de desenvolver asma do que as pessoas com baixo risco genético e maus padrões de sono, acrescentaram os autores do estudo.

Ao monitorizar e tratar as condições do sono, os profissionais de saúde podem também atenuar o desenvolvimento da asma, sublinharam os investigadores. Se as características do sono fossem melhoradas, 19% dos casos de asma poderiam mesmo ser evitados.

Esta descoberta aponta também para uma maior necessidade de médicos e enfermeiros falarem com os pacientes asmáticos sobre os seus hábitos de sono para ver se o seu comportamento está a piorar os sintomas, acrescentou Mora.

Dormir bem pode ajudar a reduzir o risco de asma, mostrou o estudo. Konstantin Postumitenko/Adobe Stock

Dormir bem é bom para todos

A chave para compreender este estudo é compreender a interação entre a genética e o comportamento, observou Assa'ad.

Os investigadores analisaram todas as pequenas alterações no ADN que podem colocar alguém em maior risco de desenvolver asma. Esses marcadores e o risco na genética tornam-se no que se chama o grau de risco poligénico de uma pessoa.

Mas a maioria das pessoas não sabe qual é a sua classificação genética de suscetibilidade ao desenvolvimento da asma e, em vez disso, está ciente apenas da gravidade dos seus sintomas, disse Assa'ad.

O que as pessoas podem fazer é seguir os seus fatores desencadeadores e exacerbadores - dos quais o sono parece ser um de muitos - para obter o controlo ideal sobre a sua asma, sugeriu Mora.

Os resultados podem sublinhar a importância de uma boa higiene do sono para todos, independentemente da genética da sua asma.

De acordo com o estudo, a inflamação pode estar por detrás da razão pela qual o sono é tão importante para controlar ou prevenir a asma.

A asma é geralmente considerada uma doença inflamatória crónica, segundo a investigação. Estudos anteriores mostraram que os problemas com a duração do sono e insónia estão associados à inflamação crónica.

As perturbações do sono estão também associadas à ativação crónica da resposta ao stress, fundamental para o desenvolvimento da asma.

Boa higiene do sono

Os adultos precisam de pelo menos sete horas de sono por noite, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA.

Para muitas pessoas, isso não está a acontecer - 1 em cada 3 americanos tem défice de sono, de acordo com o CDC.

Mas não é só na quantidade que se deve concentrar - a qualidade também é importante.

"Os sinais de má qualidade do sono incluem não se sentir descansado mesmo depois de ter dormido o suficiente, acordar repetidamente durante a noite e apresentar sintomas de distúrbios do sono (tais como roncar ou falta de ar)", apontou o CDC.

É aí que a boa higiene do sono (ou hábitos) entra em cena.

O CDC recomenda ir para a cama e acordar sempre nos mesmos horários, manter o quarto confortável e escuro, e evitar aparelhos eletrónicos antes de dormir.

Um quarto confortável é tipicamente fresco, segundo os especialistas - com uma temperatura ambiente de cerca de 15 a 20 graus Celsius.

A rotina para dormir não serve apenas para crianças que precisam de um banho e de um livro antes de se deitarem. Acabar as atividades em família é uma ótima forma de sinalizar aos cérebros de todas as idades que é tempo de descansar, disse à CNN Ariel Williamson, psicóloga do Hospital Infantil de Filadélfia, especialista em sono pediátrico.

Deve também evitar grandes refeições, cafeína e álcool perto da hora de dormir e deve exercitar-se durante o dia para dormir melhor.

Se nenhuma dessas mudanças melhorar o seu sono, talvez seja altura de consultar um médico, defendem os especialistas.

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