De William Carvalho a Quaresma
As coisas más do clássico aconteceram quase todas antes e depois (o quase é a lesão grave de Helton, triste como todas). Antes um movimento estranho, de adeptos, em Alvalade. Depois mais uma conferência de imprensa inexplicável de Bruno de Carvalho. Pelo meio, muita coisa boa. Ficamos com essas.
William Carvalho
No final do jogo, o treinador do Sporting não resistiu a recordar que William esteve ausente num dos piores jogos dos leões, na Luz, com o Benfica. Não será um momento de comunicação genial lembrar assim a todos a dependência de um jogador. Mas é um facto: o melhor Sporting aparece quando William joga em pleno. Adrien também está a fazer uma boa época e Rui Patrício é muitas vezes fundamental (na defesa ao remate de Varela, por exemplo). Mas o médio, de apenas 21 anos, é o jogador da época. E, talvez, o melhor da Liga em 2013/14.
A mais acertada decisão de Jardim foi entregar aquele lugar a William. Claro que
este jogador
só existe, desta forma, porque antes alguém o enviou para competir. Por estes dias parece que o Sporting começou quando Bruno de Carvalho tomou posse. E não é verdade. Aliás, só existe talento a chegar da formação porque durante anos alguém jogou a semente à terra. Adiante.
O que impressiona em William é a
variedade do seu jogo
. E, logo a seguir, a capacidade que já possui para utilizar a opção certa em cada momento. Se fecharmos os olhos e pensarmos em jogadores que ocupam aquele lugar em equipas de topo concluímos que o sportinguista já teria lugar em algumas delas. O Manchester United, sem dúvida. Mas também o Chelsea quando precisa de recorrer a Mikel. O Milan, sem dúvida. A lista é longa e a conclusão óbvia: William está pronto. Ainda não sabe tudo, sim, mas o que aprendeu é suficiente para ser o centro de uma grande equipa. Muito do que o Sporting tem feito esta época saiu daquela forma tranquila e eficiente de estar no jogo. O passe para André Martins, no golo, é sublime.
Por falar em
André Martins
, o clássico trouxe-o de volta. O cruzamento é brilhante, conclusão feliz de um movimento seguramente treinado e muitas vezes repetido em jogos anteriores. Perante uma equipa com
laterais voadores
, como o FC Porto, haveria sempre espaço para explorar.
O cruzamento de André Martins encontrou
Slimani
.
O movimento do argelino é delicioso
. Perfeita a forma como ameaça que vai ao primeiro poste e aparece, feliz da vida, no segundo. A entrega de Abdoulaye e Helton, rendidos à inteligência dos jogadores do Sporting, é o reconhecimento da excelência do golo.
Dar a titularidade a Slimani, sentando Montero no banco, é uma prova da capacidade e independência de Leonardo Jardim. Com ele jogam os que estão melhor. O treinador manda. E manda sem precisar de agredir, de perder a calma ou gritar. Manda porque sabe. O avançado argelino tem qualidades fantásticas e um espírito de equipa e disponibilidade que foram fundamentais, por exemplo, para incomodar os centrais portistas quando era preciso construir.
Do outro lado, a única coisa verdadeiramente boa foi aquilo que
Quaresma
fez na primeira parte. O cruzamento de letra, a bola na barra, o pânico no rosto de Cedric. É verdade, foram apenas três lances, mas entraram na memória do campeonato. Aquilo é Quaresma. Infelizmente para o FC Porto, o extremo não regressou para a asegunda parte com a mesma alma, o que ainda permite a pergunta: Quaresma será capaz de melhorar a sua condição nas próximas semanas e jogar 90 minutos ao mais alto nível, desequilibrando de facto? O talento continua lá, a vontade de ser útil é indiscutível.
O Sporting de Leonardo Jardim venceu pela primeira vez um rival
. Que essa equipa seja este FC Porto e que o golo tenha sido conseguido a partir de um fora-de-jogo não são aspetos ignoráveis. Mas nem por isso devem distrair-nos do essencial: seja qual for a posição no final da Liga, este Sporting é uma equipa muito bem montada e hoje em dia dispõe de mais e melhores soluções do que em julho de 2013. Porque uns cresceram e outros entretanto chegaram.
