E se eu tiver sarampo (ou se contactar com alguém que tem)? Guia para lidar informadamente com o surto

24 jan, 11:22
Sarampo (arquivo)

Portugal registou o terceiro caso de sarampo no país, todos eles importados e sem ligação entre si - duas crianças e um adulto com a doença. Em Portugal, uma vez que a doença está controlada há vários anos e estes recentes casos são importados, um único caso confirmado é considerado e tratado como um surto

O que é o sarampo?

O sarampo é uma doença infecciosa, altamente contagiosa e com origem num vírus do género Morbillivirus, da família Paramyxoviridae. Este vírus é facilmente transmitido entre as pessoas, dissemina-se rapidamente.

Como se transmite?

O sarampo “transmite-se pela via respiratória”, através do contacto com gotículas da pessoa infetada quando esta tosse ou espirra, por exemplo, “ou por surtos hospitalares”, explica o médico Vítor Laerte. A vacinação é a forma mais eficaz de prevenção, um apelo que a Direção-Geral da Saúde reiterou assim que foi confirmado o primeiro caso de sarampo em Portugal este ano.

Quais são os sintomas? 

Segundo a informação que consta no site do Serviço Nacional de Saúde (SNS), os sintomas de sarampo começam com febre e mal-estar, podendo ocorrer depois corrimento nasal, conjuntivite e tosse. “De seguida e nalgumas situações podem surgir pontos brancos no interior da bochecha, cerca de um a dois dias antes do aparecimento da erupção cutânea.” Entre os sintomas comuns desta doença está ainda o aparecimento de uma erupção cutânea, febre alta e um “estado de extremo cansaço físico e psíquico”. Sensibilidade à luz e olhos vermelhos são também sintomas aos quais se deve estar atento. Na sua presença, a pessoa deve isolar-se e evitar o contacto com outros e contactar o médico ou a linha telefónica do SNS (808242424).

Qual é o período de contágio? 

O contágio pode ocorrer desde quatro dias antes e até quatro dias após o início da erupção cutânea. Segundo o médico virologista Paulo Paixão, “o sarampo é o vírus mais transmissível de todos, por isso a taxa de vacinação tem de estar acima dos 95%, sempre que há um abaixamento surgem alguns casos”.

Estou com sintomas de sarampo, o que devo fazer?

Segundo o site do SNS, o indicado é que a pessoa “evite o contacto com outras pessoas para prevenir o contágio”. Deve ainda “realizar análises ao sangue, urina e secreções orais, cujos resultados são enviados para o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) para confirmação ou não do diagnóstico de sarampo”, lê-se no site, que aconselha ainda a que a pessoa “comunique aos profissionais de saúde quais as pessoas com quem contactou durante o período de contágio, para que possam ser sinalizadas”.

O meu filho tem sarampo, que cuidados devo ter?

As recomendações são as mesmas para os adultos. O ideal é isolar a criança o quanto antes, assim como procurar aconselhamento médico para a avaliação dos sintomas e validação do diagnóstico da doença.

Estive em contacto com uma pessoa com sarampo, e agora?

Segundo o site do SNS, se teve contacto com uma pessoa com diagnóstico de sarampo “deve ser vacinado, de preferência nas primeiras 72 horas pós-exposição, se aplicável”. Nos casos em que a vacina é contraindicada, a solução passa pela “administração de imunoglobulina”.

Quais os riscos?

Por norma, e apesar da alta capacidade de contágio, trata-se de uma doença benigna, no entanto, tal como acontece com qualquer outra patologia, pode acarretar riscos. Para o médico Vitor Laerte, “o grande problema do sarampo é que tem potencial de causar surtos e causar complicações e doenças graves”. Tais complicações e doenças podem ser, diz, “em termos mais imediatos, pneumonia e otite média, e em situações mais graves levar a quadros neurológicos graves como encefalites”. “É uma doença que pode matar mesmo”, reforça.

“O sarampo mata e deixa sequelas para toda a vida, mas Portugal é um dos poucos países que pode dizer que tem imunidade de grupo”, como alertou à CNN Portugal o epidemiologista Manuel Carmo Gomes.

As crianças com menos de cinco anos e os adultos são os que correm maior risco de complicações.

Qual o tratamento?

“A maioria das pessoas recupera apenas com o tratamento dos sintomas. Os antibióticos não são eficazes contra o vírus do sarampo, mas são prescritos pelo médico para tratar as complicações, como pneumonia e otite, se ocorrerem”, explica o SNS.

A vacina é eficaz?

“Sim”, assegura o médico, que não hesita em dizer que “o principal problema é não vacinar” e não respeitar os períodos indicados de vacinação. Tal como noticiou a CNN Portugal, adiar a vacinação das crianças, nem que seja alguns meses, pode aumentar o risco de contágio, sobretudo em berçários e creches, e impulsionar o aparecimento de surtos, incluindo de sarampo.

“A imunidade induzida por vacina protege contra todas as cepas de vírus. O sarampo é considerado um vírus monotípico apesar das variações genéticas”, explica o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). A vacina que é administrada em Portugal é a VASPR, uma vacina combinada contra o sarampo, a parotidite epidémica e a rubéola.

A vacina é recomendada para todas as pessoas?

Segundo Vítor Laerte, “há pessoas que não podem tomar a vacina”, como é o caso daquelas que têm “imunossupressão”. Mas, destaca o médico, este é mais um motivo para as pessoas se vacinarem: protegem-se a si e aos outros, sobretudo os que não têm como fazê-lo. “Com cobertura vacinal estamos a proteger as pessoas que não podem tomar a vacina”, reforça.

Como é feito o esquema vacinal em Portugal?

Para quem não tem indicação contrária contra a toma da vacina, a recomendação nacional é que seja administrada aos 12 meses e aos 5 anos de idade. Não é aconselhada a toma antes dos seis meses de vida.

“Em situação de contacto com casos de sarampo ou de viagem para áreas onde existam casos de sarampo, está recomendada a administração de uma dose de VASPR entre os 6 e os 12 meses de idade ou a antecipação da 2.ª dose, após avaliação clínica. A dose de vacina administrada antes dos 12 meses é considerada “dose zero” (pode não ter a eficácia desejada) pelo que, de acordo com o esquema recomendado, deve ser administrada 1 dose aos 12 meses (VASPR1) e outra aos 5 anos (VASPR2)”, lê-se na página do SNS.

Tomei a vacina há muitos anos, posso apanhar sarampo?

Não. “A vacina oferece uma imunidade duradoura, é muito homogénea, as duas doses dadas protegem as pessoas para o resto da vida”, garante o médico.

Tive sarampo em criança e não tomei a vacina, corro riscos?

Tal como a vacinação, “a imunidade natural é para o resto da vida”, diz Vítor Laerte. 

Nunca tive sarampo e nunca tomei a vacina, o que pode acontecer?

Corre o risco de contrair a doença e as complicações associadas. “Temos uma imunidade de rebanho boa, mas temos sempre 10% [das pessoas] que não tomaram vacina” e, por isso, correm mais riscos, diz. “Essa pessoa que não tem imunidade pode ter complicações, é complicado do ponto de vista individual, há riscos graves”, destaca Vítor Laerte.

“O sarampo tem uma vacina antiga, amplamente disponível, é fornecida gratuitamente, não há justificação para que as pessoas não se vacinem”, atira o médico.

E quem não tem a certeza se já teve a doença?

Segundo o SNS, “não é necessária a vacinação das pessoas que nasceram antes de 1970, exceto se houver exposição a casos de sarampo ou se for viajar para países onde existam casos de sarampo. Nesta situação deve ser administrada 1 dose de VASPR”. Já todas as pessoas nascidas depois de 1970, “de idade igual ou superior a 18 anos, sem história credível de sarampo, devem ter, pelo menos, uma dose de vacina contra o sarampo, administrada aos 12 meses de idade ou depois”. Diz o organismo que todas as pessoas com menos de 18 anos de idade “deverão ter duas doses de vacina contra o sarampo” para garantir proteção contra a doença.

Qual a taxa de vacinação de Portugal?

“A cobertura vacinal das crianças até um ano atingiu 99% em 2021 e ultrapassou, até aos sete anos, a meta de 95% estipulada pelo Programa Nacional de Vacinação (PNV) da Direção-Geral da Saúde”, revelou esta semana a Direção-Geral da Saúde em comunicado, depois do alerta da OMS. O organismo diz ainda que Portugal tem “coberturas vacinais iguais ou superiores a 95% em crianças e jovens com idade até aos 18 anos”.

Quando é que se considera haver um surto de sarampo?

Em Portugal, uma vez que a doença está controlada há vários anos, e estes recentes casos são importados, um único caso confirmado é considerado e tratado como um surto, uma vez que o contágio é rápido e “algumas pessoas vacinadas poderão contrair a doença, por diminuição, ao longo do tempo, da proteção conferida pela vacina”, explica o site do SNS.

Os casos estão a aumentar em Portugal?

Para já, existem apenas três casos de sarampo e todos eles importados e sem ligação em si, ou seja, sem partilha de uma rede de contágio. A Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou esta terça-feira o mais recente caso, desta vez no norte do país, Trata-se de um homem de 54 anos não residente em Portugal e sem ligação aos dois casos registados recentemente na região de Lisboa, que dizem respeito a uma criança de sete anos e a um bebé de 20 meses, também eles casos de sarampo importado.

A Organização Mundial da Saúde e a Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância já tinham alertado há dois anos para um risco acrescido de propagação do sarampo, com o número de casos mundiais registados nesse ano quase 80% acima dos números de 2021. 

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