OMS e UNICEF alertam para aumento dos casos de sarampo no mundo

27 abr 2022, 21:13
Surto de sarampo

Pandemia de covid-19 e guerras interromperam os planos de vacinação em vários países criando "a tempestade perfeita para a propagação de uma doença como o sarampo". Em Portugal, com uma taxa de vacinação acima de 95%, não há registo de casos endógenos

A Organização Mundial da Saúde e a Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância alertam para um risco acrescido de propagação do sarampo, com o número de casos mundiais registados até agora em 2022 quase 80% acima dos números de 2021.

"Quase 17.338 casos de sarampo foram relatados em todo o mundo em janeiro e fevereiro de 2022, em comparação com 9.665 durante os primeiros dois meses de 2021", disseram as organizações em comunicado esta quarta-feira, sublinhando que houve 21 surtos "grandes e perturbadores", muitos em África e na região do Mediterrâneo Oriental.

“Interrupções na vacinação relacionadas com a pandemia, crescentes desigualdades no acesso a vacinas e o desvio de recursos da imunização de rotina estão a deixar muitas crianças sem proteção contra o sarampo e outras doenças evitáveis ​​​​por vacinas”, dizem as organizações, acrescentando que, à medida que cidades e países diminuem as restrições em relação à covid -19, os surtos de sarampo tornam-se mais prováveis.

Estima-se que 23 milhões de crianças atrasaram a sua vacinação em 2020, disseram as organizações. As campanhas de vacinação infantil foram dificultadas pela  pela pandemia de covid-19 e também pelos conflitos na Ucrânia, Etiópia, Somália e Afeganistão.

A 1 de abril, “57 campanhas de doenças evitáveis ​​por vacina que estavam programadas para ocorrer desde o início do ano em 43 países continuavam adiadas, afetando 203 milhões de pessoas, a maioria crianças”, explicam as organizações. "Destas, 19 são campanhas contra o sarampo, que colocam 73 milhões de crianças em risco".

De acordo com a OMS e a UNICEF, apenas "uma cobertura igual ou superior a 95% com duas doses da vacina contra o sarampo pode proteger de forma segura e eficaz contra a doença". Nos cinco países com maior número de casos no ano passado, a cobertura da primeira dose ficou abaixo de 70% em 2020.

Além dos seus efeitos diretos no corpo, que podem ser letais, o vírus do sarampo também enfraquece o sistema imunológico e torna a criança mais vulnerável a outras doenças infecciosas como pneumonia e diarreia, durante meses após a própria infecção do sarampo. Uma situação que pode ser grave pois a maioria dos casos ocorre em locais que enfrentam dificuldades sociais e económicas e que têm sistemas de saúde frágeis.

“O sarampo é mais do que uma doença perigosa e potencialmente mortal. É também um sinal de que existem lacunas na nossa cobertura global de imunização, lacunas que as crianças vulneráveis ​​não podem pagar”, diz Catherine Russell, Diretora Executiva do UNICEF. “É encorajador que as pessoas em muitas comunidades estejam já a sentir-se suficientemente protegidas para a covid-19 e a retomar as suas atividades sociais. Mas fazer isso em lugares onde as crianças não receberam a vacinação de rotina cria a tempestade perfeita para a propagação de uma doença como o sarampo.”

Em Portugal não há registo de casos endógenos

"Em Portugal, o sarampo não é um problema neste momento", afirma à CNN Portugal Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. "Há já vários anos que não temos casos endógenos, o que temos são casos importados. No entanto, a nossa taxa de vacinação para o sarampo é de mais de 95% o que nos dá uma proteção alargada e alguma tranquilidade neste campo."

De acordo com este especialista, apesar de ter havido uma interrupção temporária no cumprimento do plano nacional de vacinação devido à pandemia de covid-19, a vacinação já foi restabelecida e as crianças e todas as crianças terão recebido as vacinas devidas.

De recordar também que, a 19 de março, a Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou uma norma que define as estratégias de vacinação de cidadãos estrangeiros que se encontrem em Portugal em situação de acolhimento, definindo como prioritária a cobertura vacinal contra o sarampo e a poliomielite.

Segundo o último Relatório Epidemiológico Anual do ECDC, publicado em abril de 2020, Portugal registou 10 casos de sarampo em 2019. Nos primeiros dois meses de 2020 foram notificados 7 casos. Apesar de durante vários anos Portugal não ter apresentado casos de sarampo, em 2017 ocorreram 34 e em 2018 ocorreram 171. Gustavo Tato Borges recorda que esse surto teve origem num estrangeiro não vacinado, na região do Porto, mas que foi rapidamente controlado.

Na Europa, em 2019, foram notificados 13.200 casos de sarampo, o que corresponde a uma taxa de 25,4 casos por 1 000 000 de habitantes, menor que em 2018 e 2017 (34,4 e 35,5).

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