OMS lançou alerta sobre o sarampo. Está Portugal em risco? Estou protegido?

29 abr 2022, 17:08
Criança doente. (Pexels)

Vacina contra o sarampo faz parte do Plano Nacional de Vacinação e Portugal apresenta uma taxa de 99% em crianças até um ano de idade. Mas os casos a nível mundial cresceram 80% num ano. Especialista explica quais os riscos

O que é o sarampo?

É uma doença infecciosa, altamente contagiosa e com origem num vírus do género Morbillivirus, da família Paramyxoviridae. Este vírus, explica o médico infecciologista Vítor Laerte à CNN Portugal, “é facilmente transmitido entre as pessoas, dissemina-se muito rapidamente, com potencial de contagiar até uma certa distância”.

Como se transmite?

O sarampo “transmite-se pela via respiratória”, através do contacto com gotículas da pessoa infetada quando esta tosse ou espirra, por exemplo, “ou por surtos hospitalares”, continua o médico do Centro Hospitalar de Setúbal. A vacinação é a forma mais eficaz de prevenção.

Quais são os sintomas? 

Segundo a informação que consta no site do Serviço Nacional de Saúde (SNS), os sintomas de sarampo começam com febre e mal-estar, podendo ocorrer depois corrimento nasal, conjuntivite e tosse. “De seguida e nalgumas situações podem surgir pontos brancos no interior da bochecha, cerca de um a dois dias antes do aparecimento da erupção cutânea.” Entre os sintomas comuns desta doença está ainda o aparecimento de uma erupção cutânea, febre alta e um “estado de extremo cansaço físico e psíquico”. Sensibilidade à luz e olhos vermelhos são também sintomas aos quais se deve estar atento. Na sua presença, a pessoa deve isolar-se e evitar o contacto com outros e contactar o médico ou a linha telefónica do SNS (808242424).

Qual é o período de contágio? 

O contágio pode ocorrer desde quatro dias antes e até quatro dias após o início da erupção cutânea.

Quais os riscos?

Por norma, e apesar da alta capacidade de contágio, trata-se de uma doença benigna, no entanto, tal como acontece com qualquer outra patologia, pode acarretar riscos. Para o médico Vitor Laerte, “o grande problema do sarampo é que tem potencial de causar surtos e causar complicações e doenças graves”. Tais complicações e doenças podem ser, diz, “em termos mais imediatos, pneumonia e otite média, e em situações mais graves levar a quadros neurológicos graves como encefalites”. “É uma doença que pode matar mesmo”, reforça.

As crianças com menos de cinco anos e os adultos são os que correm maior risco de complicações.

Qual o tratamento?

“A maioria das pessoas recupera apenas com o tratamento dos sintomas. Os antibióticos não são eficazes contra o vírus do sarampo, mas são prescritos pelo médico para tratar as complicações, como pneumonia e otite, se ocorrerem”, explica o SNS.

A vacina é eficaz?

“Sim”, assegura o médico, que não hesita em dizer que “o principal problema é não vacinar”. “A imunidade induzida por vacina protege contra todas as cepas de vírus. O sarampo é considerado um vírus monotípico apesar das variações genéticas”, explica o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). A vacina que é administrada em Portugal é a VASPR, uma vacina combinada contra o sarampo, a parotidite epidémica e a rubéola.

A vacina é recomendada para todas as pessoas?

Segundo Vítor Laerte, “há pessoas que não podem tomar a vacina”, como é o caso daquelas que têm “imunossupressão”. Mas, destaca o médico, este é mais um motivo para as pessoas se vacinarem: protegem-se a si e aos outros, sobretudo os que não têm como fazê-lo. “Com cobertura vacinal estamos a proteger as pessoas que não podem tomar a vacina”, reforça.

Como é feito o esquema vacinal em Portugal?

Para quem não tem indicação contrária contra a toma da vacina, a recomendação nacional é que seja administrada aos 12 meses e aos 5 anos de idade. Não é aconselhada a toma antes dos seis meses de vida.

“Em situação de contacto com casos de sarampo ou de viagem para áreas onde existam casos de sarampo, está recomendada a administração de uma dose de VASPR entre os 6 e os 12 meses de idade ou a antecipação da 2.ª dose, após avaliação clínica. A dose de vacina administrada antes dos 12 meses é considerada “dose zero” (pode não ter a eficácia desejada) pelo que, de acordo com o esquema recomendado, deve ser administrada 1 dose aos 12 meses (VASPR1) e outra aos 5 anos (VASPR2)”, lê-se na página do SNS.

Tomei a vacina há muitos anos, posso apanhar sarampo?

Não. “A vacina oferece uma imunidade duradoura, é muito homogénea, as duas doses dadas protegem as pessoas para o resto da vida”, garante o médico.

Tive sarampo em criança e não tomei a vacina, corro riscos?

Tal como a vacinação, “a imunidade natural é para o resto da vida”, diz Vítor Laerte. 

Nunca tive sarampo e nunca tomei a vacina, o que pode acontecer?

Corre o risco de contrair a doença e as complicações associadas. “Temos uma imunidade de rebanho boa, mas temos sempre 10% [das pessoas] que não tomaram vacina” e, por isso, correm mais riscos, diz. “Essa pessoa que não tem imunidade pode ter complicações, é complicado do ponto de vista individual, há riscos graves”, destaca Vítor Laerte.

“O sarampo tem uma vacina antiga, amplamente disponível, é fornecida gratuitamente, não há justificação para que as pessoas não se vacinem”, atira o médico.

E quem não tem a certeza se já teve a doença?

Segundo o SNS, “não é necessária a vacinação das pessoas que nasceram antes de 1970, exceto se houver exposição a casos de sarampo ou se for viajar para países onde existam casos de sarampo. Nesta situação deve ser administrada 1 dose de VASPR”. Já todas as pessoas nascidas depois de 1970, “de idade igual ou superior a 18 anos, sem história credível de sarampo, devem ter, pelo menos, uma dose de vacina contra o sarampo, administrada aos 12 meses de idade ou depois”. Diz o organismo que todas as pessoas com menos de 18 anos de idade “deverão ter duas doses de vacina contra o sarampo” para garantir proteção contra a doença.

Qual a taxa de vacinação de Portugal?

“A cobertura vacinal das crianças até um ano atingiu 99% em 2021 e ultrapassou, até aos sete anos, a meta de 95% estipulada pelo Programa Nacional de Vacinação (PNV) da Direção-Geral da Saúde”, revelou esta semana a Direção-Geral da Saúde em comunicado, depois do alerta da OMS. O organismo diz ainda que Portugal tem “coberturas vacinais iguais ou superiores a 95% em crianças e jovens com idade até aos 18 anos”.

Os casos estão a aumentar, há risco para Portugal?

A Organização Mundial da Saúde e a Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância alertam para um risco acrescido de propagação do sarampo, com o número de casos mundiais registados em 2022 quase 80% acima dos números de 2021. De acordo com Vítor Laerte, “Portugal está num nível de cobertura excelente, é difícil acontecer um surto com uma cobertura vacinal tão elevada”. No entanto, o especialista defende que “é improvável, mas não podemos ignorar a possibilidade”, sobretudo se a doença chegar a comunidades ou grupos não vacinados, como já aconteceu noutros países. “O ideal é que a cobertura vacinal seja de de 99%, era uma garantia que não haveria qualquer risco”, conclui o médico.

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