Governo britânico pede desculpas à rainha Isabel II por festa na véspera do funeral do príncipe Philip

14 jan 2022, 19:21

Rainha de Inglaterra foi fotografada sozinha durante o funeral do marido no Castelo de Windsor, em conformidade com as regras estabelecidas pelo governo de Boris Johnson devido à pandemia

O gabinete do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pediu esta sexta-feira desculpa à rainha Isabel II após ter sido divulgado um vídeo que mostrava funcionários do governo a festejarem em Downing Street, na véspera do funeral do príncipe Philip, momento que eram proibidos convívios devido à evolução da pandemia.

O pedido de desculpa acontece num momento em que Boris Johnson enfrenta uma grave crise enquanto primeiro-ministro após quase diariamente surgirem polémicas relacionadas não só com o comportamento do seu gabinete, mas também com a gestão da pandemia, a inflação e a subida de impostos, a poucos meses de eleições internas.

Johnson está agora sob uma crescente pressão para se demitir do cargo. Os seus opositores já afirmaram que não é capaz de governar o país e enganou os britânicos ao exigir que o povo seguisse regras rigorosas para conter a pandemia enquanto a própria equipa governamental falhava essa norma.

"Infelizmente, a posição enquanto primeiro-ministro tornou-se insustentável", disse o conservador Andrew Bridgen, ex-apoiador de Johnson. "É a hora certa de deixar o palco."

Numa reviravolta extraordinária para uma saga que foi amplamente satirizada por comediantes e cartoonistas, o Daily Telegraph revelou que as festas foram realizadas dentro de Downing Street a 16 de abril de 2021, um dia antes do funeral do príncipe Philip.

"É profundamente lamentável que isso tenha acontecido num momento de luto nacional e o número 10 (Downing Street) pediu desculpas ao palácio", disse o porta-voz de Johnson aos jornalistas.

Johnson estava na sua casa de campo em Chequers naquele dia, pelo que não terá sido convidado para nenhuma festa, de acordo com o seu porta-voz.

No dia seguinte, a rainha Isabel II despediu-se do companheiro de vida, o príncipe Philip, que morreu aos 99 anos. Vestida de preto e com uma máscara da mesma cor, Isabel II, de 95 anos, foi fotografada sozinha durante o funeral do marido no Castelo de Windsor, em conformidade com as regras sanitárias devido à covid-19.

Depois de vários dias a recusar confirmar se tinha estado presente, Boris Johnson reconheceu na quarta-feira ter estado numa outra festa, nos jardins da residência oficial, em Downing Street, a 20 de maio de 2020, em pleno confinamento.

“Quando entrei naquele jardim logo após as 18:00 do dia 20 de maio de 2020 para agradecer a grupos de funcionários antes de voltar para o meu escritório 25 minutos depois para continuar a trabalhar, acreditei que este era um evento de trabalho. Mas, em retrospetiva, eu deveria ter mandado todos de volta para dentro”, reconheceu.

Johnson disse que "mesmo que tecnicamente se pudesse dizer que se enquadrava nas regras, existem milhões e milhões de pessoas que simplesmente não pensam desta forma”, acabando por pedir "sinceras desculpas” e remeteu para o resultado de um inquérito interno em curso sobre outras alegadas festas em Downing Street.

O que se sabe sobre a festa polémica

De acordo com a estação ITV, o secretário particular de Boris Johnson, Martin Reynolds, enviou um e-mail a cerca de 100 funcionários em maio de 2020, convidando-as para, "depois de um período incrivelmente atarefado", "aproveitar o bom tempo” durante umas “bebidas com distanciamento social” nos jardins da residência oficial do chefe do Governo.

“Juntem-se a nós a partir das 18:00 e tragam as vossas próprias bebidas”, concluía a mensagem.

Segundo vários meios de comunicação social, a “festa" contou com a presença do líder conservador e da esposa Carrie, além de cerca de 30 outras pessoas, numa altura em que as interações sociais estavam limitadas.

Em maio de 2020, só era possível encontrar uma pessoa de outro agregado familiar num local público ao ar livre e com a condição de ficarem a dois metros de distância.

Esta nova revelação vem somar-se a notícias de outras alegadas festas e eventos organizados em dezembro de 2020 por funcionários do Governo, que deram origem à abertura de um inquérito interno batizado pela imprensa de “partygate".

Enquanto anteriormente o governo se defendeu, desdramatizando e vincando que as regras tinham sido respeitadas e que os ajuntamentos eram justificados porque se realizaram num local de trabalho, desta vez o email refere claramente um evento de sociabilização. 

A “festa" aconteceu cerca de uma hora depois do então ministro da Cultura, Oliver Dowden, dar uma conferência de imprensa onde apelou aos britânicos para "limitarem o contacto com outras pessoas".

“Podem encontrar uma pessoa de fora do agregado num local público ao ar livre - desde que fiquem a dois metros de distância”, vincou.

Participar numa festa era então contra a lei do confinamento no Reino Unido.  

Vários deputados descreveram abertamente a situação como “embaraçosa” e “humilhante”, mas a crítica mais dura veio do líder conservador escocês, Douglas Ross, que disse que Boris Johnson teria de se demitir se se descobrisse que violou as regras do confinamento ao comparecer na festa em Downing Street em 20 de maio do ano passado.

"Esta é uma lei que ele e o governo dele colocaram em prática. Esta é uma lei (…) que afetou eleitores em todo o país. Foram multados, punidos por desrespeitarem as regras que o Governo do Reino Unido estabeleceu. E, se o Governo do Reino Unido e o primeiro-ministro quebraram essas regras, devem ser punidos”, afirmou na terça-feira à Sky News.

Ross foi o único membro do Governo a demitir-se em maio de 2020 por discordar de Johnson quando este manteve o assessor Dominic Cummings em funções, mesmo tendo este violado o confinamento para viajar até à casa dos pais, no norte de Inglaterra. 

Numa sondagem da empresa Savanta ComRes, 66% dos inquiridos disseram que Boris Johnson deve demitir-se e 24% responderam que deve manter o cargo, enquanto uma outra sondagem da YouGov para a Sky News indica que 56% são favoráveis à demissão e 27% contra.

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