Há 29 anos, a rainha Isabel II vivia um annus horribilis. Como foi o ano de 2021?

24 nov 2021, 08:00

Uma entrevista que abalou a monarquia, a morte do duque de Edimburgo e a saúde da rainha que começa a dar preocupações. O ano de 2021 não foi um ano favorável para a coroa britânica e a esperança está agora em 2022, ano do jubileu de platina de Isabel II

1992 não é um ano para o qual possa olhar com especial prazer. Nas palavras de um dos meus correspondentes mais queridos: acabou por ser um annus horribilis”.

A 24 de novembro de 1992, dia em que assinalava as quatro décadas de reinado, a rainha Isabel II proferia um dos discursos que o mundo nunca iria esquecer.

Nesse ano, a monarca britânica enfrentou o divórcio de três filhos - o príncipe Andrew e a mulher, a duquesa de York, separaram-se em março, a princesa Anne e o marido separaram-se em abril e o príncipe Carlos e a mulher, a princesa Diana, separaram-se em dezembro -, foi publicado o livro “Diana: a sua verdadeira história", em junho, onde eram revelados detalhes sobre os problemas no casamento dos príncipes de Gales, principalmente o seu romance com Camilla Parker Bowles. Em agosto do mesmo ano, foram publicadas fotos da duquesa de York em topless, e viram a luz as conversas indiscreta que a princesa Diana teve com o suposto amante James Gilbey. Um verão escaldante que culminaria com um incêndio em vésperas de inverno: a 20 de novembro, um fogo deflagrou na capela privada da rainha no Castelo de Windsor.

1992 não é, por isso, um ano do qual a rainha Isabel II guarde boas memórias. No entanto, 2021 não lhe fica atrás.

Novo annus horribilis?

Se 2021 não foi um annus horribilis para a família real britânica, pouco faltou. 

Em plena pandemia, com a rainha e o duque de Edimburgo isolados no Castelo de Windsor, o ano começou com a entrada em vigor do Brexit (que tinha sido assinado a 30 de janeiro do ano anterior) e com um país a braços com o impacto económico dessa decisão e a tentar retomar a normalidade perante uma pandemia que devastou o mundo. 

E se a família real se aguentou estoicamente durante a pandemia, o mesmo não se pode dizer no que aos escândalos reais diz respeito.

Entrevista deixa Reino Unido em suspenso

Em março, a entrevista de Harry e Meghan a Oprah Winfrey caiu como uma bomba no Reino Unido, abalando a monarquia com pesadas acusações de racismo, insensibilidade e relações familiares tensas.

Entre as confissões e desabafos, os duques de Sussex, agora a viver nos EUA, disseram-se aliviados por terem deixado a família real, afirmaram que não lhes foi dado apoio durante a primeira gravidez de Meghan, alegaram que membros da família questionaram “quão escuro” seria Archie, o primeiro filho do casal, - o que levou William a afirmar que não eram uma família racista -, a desconfiança de que existiria disputa entre duquesas foi também adensada na mesma entrevista, com Meghan a contar o que tinha acontecido no casamento, Harry revelou que o príncipe Carlos não lhe atendia os telefonemas e que o apoio financeiro lhe tinha sido cortado por parte da família real, na qual se sentiu preso a maior parte do tempo da sua vida. 

Morte do Duque de Edimburgo

Família que voltaria a reencontrar em abril, mês em que a rainha Isabel II voltaria a sofrer novo golpe. A 9 de abril, a monarca despedia-se do amor da sua vida. Depois de ter passado quatro semanas internado, o príncipe Phillip morreu no Castelo de Windsor aos 99 anos. 

Naquela que foi a primeira vez que o príncipe Harry viajou para o Reino Unido desde que os duques de Sussex deixaram a família real, o neto da rainha viajou sem Meghan - que estava grávida da segunda filha do casal - e reencontrou-se com a família que atacou um mês antes. 

As regras impostas pela pandemia de covid-19 determinaram que apenas 30 pessoas podiam estar na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, e que cada membro da família deveria sentar-se com outro elemento do seu agregado familiar, mantendo uma distância de dois metros dos outros grupos. A Rainha, atualmente com 94 anos, passou o último ano apenas com o marido, e por isso assistiu à cerimónia sozinha, vestida de preto, com um discreto chapéu e uma máscara na cara.

E se o dia do funeral do seu companheiro de vida já foi por si difícil, o dia ficou ainda pior quando a rainha foi informada que o seu melhor amigo, Sir Michael Oswald, tinha morrido naquele mesmo sábado aos 86 anos. 

Problemas de saúde

Após a morte do marido, a rainha ficou um mês afastada da vida pública. A 12 de maio, Isabel II reabriu formalmente o parlamento britânico e contou com o apoio do filho, o príncipe Carlos.

Mas, em outubro, durante um serviço religioso na Abadia de Westminster, em Londres, o apoio de Isabel II foi outro. Acompanhada pela filha, a princesa Anne, a rainha chegou ao centenário da Legião Real Britânica, organização de beneficência das Forças Armadas, apoiada numa bengala, acessório com o qual não era vista desde 2004.

O acessório é sinal de que a saúde da rainha começa a pedir mais cuidados e prova disso foi que, sete dias depois, a monarca cancelou uma viagem à Irlanda do Norte depois de ter sido aconselhada por uma equipa de médicos a "descansar uns dias" e acabou mesmo por passar a noite no hospital - a primeira em oito anos - para fazer exames. 

As notícias de que a saúde de Isabel II começa ser motivo de preocupação deixou os britânicos em alerta e o Palácio de Buckingham fez questão de dar a conhecer que, apenas seis dias depois de ter passado a noite no hospital, a monarca voltou ao trabalho e que mantém uma agenda atarefada, ainda conduz (sobretudo à volta das suas propriedades) e ainda é capaz de montar os seus cavalos em Windsor.

Mas foi sol de pouca dura. Três dias depois, a rainha foi mais uma vez aconselhada a descansar durante pelo menos duas semanas. E, relutantemente, a rainha assim o fez. Perante o cumprimento das recomendações, a equipa médica que a acompanha acabou por autorizar que se deslocasse a Sandringham para dar início às preparações para o Natal, mesmo tendo a presença na missa do "Domingo da Memória", a 14 de novembro, na agenda.

A viagem decorreu sem sobressaltos e, a 9 de novembro, a rainha voltou a Windsor "refrescada". Mas a boa disposição de Isabel II rapidamente se dissipou quando, no dia 14 teve de cancelar a presença na cerimónia do "Domingo da Memória" devido a uma lesão muscular nas costas.

O Domingo da Memória é um dos eventos mais relevantes no calendário da rainha, que serviu na Segunda Guerra Mundial como motorista do exército e esta seria a primeira aparição pública da monarca, de 95 anos de idade, depois de, por conselho médico, ter cancelado vários eventos em outubro e novembro.

Com o jubileu de platina marcado de 2 a 5 de junho de 2022, as preocupações com a saúde da rainha Isabel II adensam-se a cada dia que passa. 

Espera-se que 2022 seja um ano positivo e em cheio para a monarquia britânica que ao longo do ano irá assinalar as sete décadas de Isabel II ao serviço da coroa britânica com vários eventos para os súbditos.

Europa

Mais Europa

Patrocinados