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Diretor de Informação da TVI

Eu não quero este país

6 jan 2022, 00:33

Alguém me dizia esta semana, de forma bastante enfática, uma frase que assino por baixo há muitos anos e que deixa pouco espaço para o contraditório: “Portugal é um país pobre”. Por mais voltas que queiramos dar, por mais geringonças, AD´s, blocos centrais ou maiorias absolutas, 48 anos depois de enterrarmos a bafienta ditadura, Portugal continua a ser um país pobre.

E não é este o país que eu quero.

Um país onde andamos todos os anos a discutir 10 euros de aumento para pensões miseráveis, como se a dignidade de quem trabalhou uma vida inteira se resolvesse pagando-lhe mais uns quilos de arroz no final do mês.

Um país onde não se pode confiar num Estado cobrador que, na hora de pagar a quem descontou durante 40 anos e trabalhou até aos 65, lhe entrega uma espécie de esmola que não dá para viver até aos 70, a não ser que se tenha precavido antes. Ou seja, que tenha desconfiado do Estado.

Um país onde o salário mínimo é aumentado artificialmente, ignorando qualquer indicador de produtividade e sem qualquer estratégia económica que permita às empresas fazer crescer os salários para patamares muito acima dos míseros 705 euros que alguns partidos usam como bandeiras eleitorais.

Um país onde quem ganha 1000 euros é catalogado de classe média. E quem ganha acima de 2000 começa a ser rico, imaginem só. Como é que catalogamos quem ganha milhões?

Um país do “eles comem tudo e não deixam nada”. Onde trabalhar por conta de outrem já é um exercício de autoflagelação todos os meses, quanto mais ter dois ou três empregos que, no final do ano, só servem para engordar ainda mais o porco mealheiro do Estado, que passa, subitamente, a considerar-nos “ricos” contribuintes, quando na verdade nos devia dizer: “Mais vale estares quieto”.

Um país que não tem — nem nunca teve — uma política fiscal digna desse nome, mas antes uma máquina cada vez mais oleada, focada em tapar os falhanços das políticas económicas, e que só serve para espremer os desgraçados que não têm escape possível. E, se for preciso, ainda faz uma perninha a empresas privadas para ir buscar mais uns cobres a quem deixou 70 cêntimos por pagar numa portagem.

Um país que vive de leis, que, por sua vez, geram burocracias, que depois geram “serviços” capazes de empregar milhares de trabalhadores que disfarçam as estatísticas do desemprego, mas que ganham no pequeno poder que lhes é atribuído a retribuição que não têm no salário.

Um país que foi incapaz de construir uma economia com um pensamento de longo prazo. Que, primeiro, matou a agricultura, depois as pescas, depois a indústria e agora não sabe o que fazer a tantos arquitetos, doutores e engenheiros.

Um país que não é para velhos, mas também não é para crianças. Porque não há creches — sim, claro —, mas sobretudo porque é difícil ganhar para ter mais do que um ou dois filhos, pagar a casa, o carro e… o Estado. O maior credor das nossas vidas.

Um país que vive numa democracia, mas onde a palavra liberdade significa cada vez menos. Que liberdade tem alguém que vive subjugado ao monstro do Estado, onde a iniciativa privada só existe para quem tem dinheiro para a contornar? Que liberdade tem um jovem saído da universidade, se o que ganha, no primeiro emprego, mal dá para sobreviver? Que liberdade tem um empreendedor, se é esmagado pelo rolo compressor do Estado antes mesmo de começar a ganhar dinheiro? Que liberdade tem uma família de classe média, que vive do trabalho e não tem onde deixar os filhos?

Estranho conceito de democracia este em que vivemos, onde os partidos que nos representam estão mais preocupados em sobreviver — ou em fazer demagogia com a vida das pessoas — do que em apresentar aos eleitores um projeto de país. Que nos retire da pobreza em que vivemos, apesar do fato de ricos que exibimos todos os dias na Europa.

É com ironia que o digo: ainda bem que os partidos quiseram tantos debates, porque eles têm exposto de forma clara o vazio total com que se apresentam a estas eleições. Não é este o país que eu quero. O que não significa que tenhamos de desistir dele.

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