Ribbeck recorda Sérgio Conceição: «Naquela noite nem dormi»

15 jun 2014, 14:50
Sérgio Conceição

Selecionador alemão ficou em choque com 3-0 do Euro 2000. Foi a última vez que Portugal venceu a Alemanha

*Enviado-especial ao Brasil
*Em parceria com a 11 Freunde

O histórico de confrontos entre Portugal e Alemanha não tem muitas passagens felizes para as cores nacionais. As que há, contudo, são memoráveis. O golo de Carlos Manuel em Estugarda, que carimbou o passaporte para o México 86, será a primeira. Mas a mais retumbante aconteceu na viragem do milénio, em pleno Euro 2000.


O famoso jogo do «hat-trick» de Sérgio Conceição, em que um Portugal já apurado deixou em cacos a Alemanha campeã da Europa em título entrou diretamente para o livro de ouro das memórias da seleção nacional.


O golpe foi tão profundo que motivou mesmo uma reformulação profunda de todo o futebol alemão, com os resultados que se conhece.


Depois daquela noite de pesadelo, os alemães estiveram na final do Mundial 2002 e Euro 2008, para além de terem chegado às meias-finais nos Mundiais de 2006 e 2010 e no Euro 2012. Faltam, portanto, os títulos à
mannschaft
.


O selecionador naquele desastroso Euro 2000 era Erich Ribbeck, que não guarda, naturalmente, boas recordações.


«Confesso que naquela noite fui deitar-me mas não consegui dormir. Estava tudo ainda muito fresco. Foi um impacto muito forte», descreveu.


Ribbeck, atualmente com 76 anos, encerrou ali a sua carreira de treinador. Um final inglório, num jogo que, diz, até poderia ter sido diferente.


«É estranho dizer isto quando perdemos 3-0, mas não tenho a certeza que tenha sido totalmente justo», considera. «Claro que perdemos e o resultado é pesado mas poderia ter sido ao contrário. Aos 20 minutos, com 0-0, o Marco Bode atirou uma bola ao poste», exemplifica.


Portugal viria a adiantar-se a dez minutos do intervalo e consumou o resultado na segunda parte, com um frango de Oliver Kahn à mistura.


«Se tivéssemos ganho aquele jogo, acho que aquela equipa teria sido encarada de outra forma», lamenta Ribbeck.


Alemanha eliminada…jogadores a festejar?


Tão ou mais problemático que o resultado e a eliminação foi o rescaldo. Alguns jogadores alemães foram vistos em bares naquela noite. A informação passou para os jornais e a Alemanha ficou em choque com a insensibilidade.


«Quando me deitei naquela noite não me apercebi que os jogadores tinham saído do hotel para festejar. Havia jornalistas no jardim e viram-nos. A polémica foi grande», conta.


Um deles foi Dietmar Hamann, na altura jogador do Liverpool, que tinha sido titular nessa noite. O antigo central conta que a repercussão daquele jogo no Estádio De Kuip «permaneceu durante meses». «Não podíamos fugir daquilo», descreve.


«Para todo o lado onde íamos as pessoas confrontavam-nos com o que diziam ser uma vergonha. A equipa ficou muito insegura naquela altura. Depois o Rudi Voeller pegou no grupo e foi o homem certo no sítio certo e na altura certa. Carismático e muito popular. Deu a volta à situação e os jogadores ficaram muito mais comprometidos com a seleção nacional», conta Hamann.


Ribbeck garante que nunca se preocupou com o escândalo que se seguiu ao jogo. «Para mim não tem qualquer importância o que os jogadores fizeram. Se se embebedaram ou não», atira.


«O que importava mesmo é que estávamos eliminados. Isso já não dava para corrigir», lamenta. «Por isso, no dia seguinte disse que para mim chegava. A imprensa escreveu que eu assumi as responsabilidades por aquela tragédia. Estiveram mal! Eu era o líder, por isso tinha de assumir que não havia hipóteses de continuar depois do que aconteceu», remata.


A Alemanha, com Rudi Voeller, transfigurou-se e foi finalista do Mundial dois anos depois. Portugal teve mais três tentativas (Mundial 2006, Euro 2008 e Euro 2012), mas nunca mais voltou a vencer os germânicos. 


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