Marinha, Exército e Força Aérea a desfilarem juntos não é, de todo, um dia normal em Portugal. Mas foi isso mesmo que aconteceu, com helicópteros no ar e vários soldados no chão, numa operação de segurança poucas vezes vista.
Para receber o presidente da Ucrânia estavam o Presidente da República, o primeiro-ministro e os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa. Volodymyr Zelensky saiu apressado – quase nem deu tempo para a porta do avião se abrir –, mas Marcelo Rebelo de Sousa quis abrandar-lhe o passo. Agarrou-o pelo braço, mostrou-lhe, uma a uma, todas as pessoas que estavam ali para o receber.
A ele, que escreveu “Viva Portugal!” no livro de honras da Presidência da República, já depois de ter destacado a “ligação forte” entre os dois países, até pela importância e dimensão da comunidade de ucranianos a viver em Portugal, dos quais alguns puderam conversar uns minutos com o seu presidente, à frente de uma nação em guerra há mais de dois anos.
E a vinda não foi pelo dinheiro. O próprio Luís Montenegro quis deixar isso claro, talvez justificando o menor apoio prestado por Portugal quando comparado com Espanha ou Bélgica, onde o presidente ucraniano tinha estado antes.
“Apreciamos muito a solidariedade de Portugal com o povo ucraniano numa altura dos maiores desafios causados pela agressão armada russa”, escreveu Zelensky antes do jantar oferecido por Marcelo Rebelo de Sousa, a quem agradeceu a amizade do nosso país.
02
Não foi pelo dinheiro
Uma amizade que se traduz no acolhimento de refugiados – foram mais de 50 mil num total de 60 mil pedidos – e no reforço da ajuda militar. Portugal já enviou carros de combate, blindados e drones, prometendo continuar a fazê-lo no futuro com um pacote total de 126 milhões de euros para este ano.
“Até ao momento, entregámos mais de mil toneladas de material militar”, incluindo carros de combate Leopard 2, sistemas de veículos aéreos não tripulados, veículos blindados de transporte pessoal M113 e veículos blindados de socorro médico M577, destacou o primeiro-ministro, acrescentando que “tentaremos acelerar os processos de entrega de material, porque estamos cientes das necessidades do povo e do exército ucraniano”.
“O nosso compromisso contribui para a interoperabilidade global das forças de segurança da Ucrânia com NATO e também visa o apoio a parcerias ao nível das indústrias de defesa. Esta é uma ajuda de Portugal multifacetada, que, do ponto de vista quantitativo – embora esse não seja o aspeto mais importante – ascende já hoje a mais de 250 milhões de euros”, acrescentou Luís Montenegro.
Na cooperação ao nível de aviões caças F-16, Luís Montenegro destacou a formação e apoio a técnicos e pilotos ucranianos. Portugal ajuda, assim, pilotos a receberem treino com os caças que ainda estão por chegar a Bruxelas.
Neste contexto, apontou que Portugal integra a coligação internacional de capacidades marítimas e os programas de aquisição conjunta de munições de grande calibre. A presença de Portugal nestes programas, segundo as estimativas do executivo de Lisboa, traduz-se num apoio na ordem dos 100 milhões de euros.
Luís Montenegro referiu depois que a ajuda humanitária nacional ronda os cinco milhões de euros e que Portugal destinou mais dez milhões de euros no quadro de iniciativas de auxílio à Ucrânia.
"No acolhimento de refugiados, em Portugal, foram destinados 92 milhões de euros para habitação, cuidados de saúde, apoio ao emprego, inclusão no ensino (inclusivamente no Ensino Superior) e para o apoio à integração de imigrantes. Nos últimos meses, tivemos mais de 60 mil pedidos de proteção temporária de cidadãos ucranianos, foram deferidos cerca de 50 mil. Mas não nos esquecemos de tantos milhares de ucranianos que já tinham escolhido Portugal para viver mesmo antes desta guerra", observou.
04
10 anos de acordo, 10 anos de guerra?
Talvez para sossegar os mais aflitos, o presidente ucraniano quis deixar de fora esse fantasma. É que o primeiro-ministro português destacou que o acordo, com prazo de dez anos, até pode vir a ser estendido.
A dúvida ficou no ar... quer isso dizer que a guerra vai durar 10 anos? "Isso não quer dizer que a guerra se vai prolongar dez anos", garantiu Zelensky, esclarecendo que o apoio português também poderá, e deverá, incidir na reconstrução da Ucrânia e noutro tipo de ajudas.
"Caso contrário, não haverá justiça e o mundo será governado por pessoas como [o presidente russo, Vladimir] Putin, o que seria uma loucura", comentou Zelensky, respondendo ao lado do primeiro-ministro português.
05
Suécia anuncia pacote de apoio militar à Ucrânia de mais de 12 mil milhões de euros
A Suécia anunciou, esta quarta-feira, um pacote de apoio militar à Ucrânia de mais de 12 mil milhões de euros. Este é o maior pacote de ajuda deste país aos ucraniamos, até ao momento, segundo o próprio governo nórdico, escreve a Reuters.
06
Ucrânia: Michel otimista sobre cimeira da paz e negociações de adesão à UE em junho
O presidente do Conselho Europeu diz estar "relativamente confiante" sobre a participação internacional na cimeira de paz na Ucrânia, estando em contacto com o Brasil, e estipula junho para arranque das negociações da adesão ucraniana à União Europeia (UE).
"Estamos muito ativos, juntamente com o Presidente [ucraniano Volodymyr] Zelensky, e em estreita coordenação com a sua equipa na preparação da cimeira de paz que terá lugar na Suíça. […] Nesta fase, estamos relativamente confiantes, mas vigilantes", afirma Charles Michel, em entrevista à agência Lusa.
No dia em que se desloca a Portugal para participar na reunião anual da organização Concordia Europe, o presidente do Conselho Europeu assinala que "a Rússia está a desenvolver uma série de instrumentos para minar esta reunião".
"Sabemos que a Rússia está muito ativa ao nível político e diplomático para convencer os países a não participarem ou a não participarem a um alto nível. É por isso que é fundamental contactar alguns líderes nos próximos dias porque alguns países ainda não se pronunciaram sobre a sua participação", elabora o responsável.
Vincando que "isto é vital para maximizar a mudança para que a reunião seja bem-sucedida", Charles Michel adianta estar "a dialogar" com países como Qatar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
Além disso, "vou ter uma chamada telefónica muito em breve com o Presidente Lula [da Silva], do Brasil" e "estamos em estreito contacto com os Estados Unidos", destaca.
"É um primeiro passo importante. A Rússia não gosta dessa iniciativa e é por essa razão que estão a tentar minar essa iniciativa, mas o nosso interesse é fazer com que essa reunião seja um sucesso", vinca.
Até ao momento, mais de 70 chefes de Estado e de Governo confirmaram presença na Conferência para a Paz na Ucrânia, que decorrerá entre 15 e 16 de junho na Suíça, entre os quais se incluem os principais líderes latino-americanos com a exceção do Brasil, que ainda não confirmou.
No total, 160 Estados receberam um convite para participar no evento, no qual se admite a presença do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que nos dias anteriores estará na vizinha Itália para participar na cimeira do G7.
O Governo russo não foi convidado, suscitando duras críticas do Kremlin. Moscovo tem assinalado que sem a sua participação não será possível qualquer avanço em direção a uma solução política da guerra na Ucrânia.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Nesta entrevista à Lusa, o presidente do Conselho Europeu diz também ser sua "determinação pessoal" que os líderes da UE avancem no próximo mês com uma conferência intergovernamental para arranque formal das negociações de adesão ucraniana ao bloco comunitário.
"Não estou sozinho, mas estou absolutamente motivado para fazer tudo para tornar possível esta decisão até ao final de junho", disse Charles Michel, quando se fala da data de 25 de junho para tal iniciativa.
Apesar de "algumas preocupações legítimas" dos Estados-membros da UE sobre tal processo, nomeadamente por parte da Hungria que se tem oposto à adesão ucraniana, o responsável adianta ter garantido ao Presidente ucraniano estar "determinado a fazer tudo para que seja uma decisão possível".
"Nunca temos a certeza de que vai resultar, mas usarei toda a minha influência para que isso aconteça", adianta Charles Michel à Lusa.
A Ucrânia tem estatuto de país candidato à UE desde meados de 2022, meses depois do início da invasão russa.
Ana Matos Neves, da agência Lusa
08
Putin nomeia ex-guarda-costas como secretário do Conselho de Estado
Segundo avança a agência Reuters, o Kremlin disse esta quarta-feira que o presidente Vladimir Putin nomeou Alexei Dyumin, seu assessor e ex-guarda-costas, como secretário do Conselho de Estado, um órgão consultivo do chefe de estado russo.
Logo após ter sido reeleito para mais um mandato de seis anos, já este ano, Putin já tinha nomeado Dyumin um assessor especializado na indústria da defesa.
09
Novo ministro da defesa russo agradece aos militares pelo progresso no campo de batalha
O recém-nomeado ministro da Defesa, Andrei Belousov, enviou telegramas às forças russas na Ucrânia agradecendo-lhes o progresso no campo de batalha. A informação foi avançada pelo meio de notícias oficial do exército, Zvezda, escreve a Reuters.
Putin destituiu o aliado Sergei Shoigu do cargo de ministro da Defesa e substituiu-o por Belousov, numa decisão surpresa.
10
Autoridades retiram mais de 11.000 pessoas da região de Kharkiv
As autoridades ucranianas anunciaram esta quarta-feira a retirada de mais de 11 mil pessoas de três distritos da região de Kharkiv (nordeste), fronteira com a Rússia e constantemente atacada pelo exército russo.
“No total, retirámos 11.253 pessoas dos distritos de Chugüív, Kharkiv, onde está localizada a capital regional com o mesmo nome, e Bogodúgiv”, escreveu o chefe da administração militar regional, Oleg Siniegubov, na sua conta no Telegram.
Nas últimas 24 horas, a Rússia atacou em diversas ocasiões estes três distritos no nordeste da Ucrânia.
Em Chugüív, uma bomba guiada lançada pela aviação russa causou danos em dezenas de edifícios civis, segundo balanço fornecido pelo próprio Siniegubov.
No distrito de Kharkiv, uma quinta e uma instituição de ensino sofreram danos devido aos ataques do exército russo, que na terça-feira lançou quatro bombas aéreas na zona. Um homem de 40 anos ficou ferido nesses ataques.