Ghost Shark e Manta Ray: os drones que podem vir a decidir as próximas guerras

CNN , Brad Lendon
29 mai 2024, 08:00
Um veículo Manta Ray à superfície da água entre mergulhos de teste ao largo da costa do sul da Califórnia (Northrop Grumman/Defense Advanced Research Projects Agency via CNN Newsource)

O Tubarão Fantasma e a Raia Manta protegem o reino submarino. Parece o enredo de um futuro filme da Marvel, mas, na verdade, é o que poderá ser o futuro das defesas navais do Pacífico.

Ghost Shark e Manta Ray são os nomes dos protótipos de veículos submarinos não tripulados - ou drones - apresentados recentemente pela Austrália e pelos Estados Unidos, respetivamente.

Os especialistas dizem que os submersíveis podem representar o futuro da guerra submarina, mostrando a capacidade de exercer poder, minimizando o perigo para a vida humana.

A utilização de drones na guerra aérea tornou-se um lugar-comum. Os EUA utilizaram-nos extensivamente durante os conflitos no Iraque e no Afeganistão, a partir da década de 1990, e os drones mais recentes e mais baratos tornaram-se peças-chave do equipamento militar de ambas as partes na invasão russa da Ucrânia.

Kiev também construiu drones navais de superfície, que infligiram pesadas perdas aos navios muito maiores e mais caros da frota russa do Mar Negro.

Os drones aéreos e de superfície podem ser controlados por satélites e por ondas de rádio e de luz. Mas estes não funcionam da mesma forma nas profundezas.

Um estudo de 2023 publicado na revista suíça Sensors salienta que as comunicações subaquáticas requerem mais energia, mas continuam a registar uma perda significativa de dados devido a variáveis como a temperatura da água, a salinidade e a profundidade.

Os fabricantes da nova geração de drones militares ainda não revelaram como irão ultrapassar os problemas de comunicação.

Mas quando a Austrália apresentou o Ghost Shark no mês passado, chamou aos protótipos "os veículos submarinos autónomos mais avançados do mundo".

"O Ghost Shark proporcionará à Marinha uma capacidade de guerra submarina autónoma, furtiva e de longo alcance, capaz de conduzir operações persistentes de informação, vigilância, reconhecimento (ISR) e ataque", refere um comunicado do Ministério da Defesa da Austrália, acrescentando que espera que os primeiros modelos de produção sejam entregues até ao final do próximo ano.

As autoridades australianas e as do fabricante Anduril Australia disseram que não podiam partilhar nenhuma das especificações do Ghost Shark, uma vez que estas permanecem confidenciais.

Ainda assim salientaram a rapidez com que o submersível passou da ideia aos testes, tendo o programa sido iniciado há apenas dois anos.

"Estar à frente do prazo, dentro do orçamento, é algo inédito", admitiu Shane Arnott, vice-presidente de engenharia da Anduril, aos jornalistas.

"Entregar o primeiro protótipo do Ghost Shark antes do prazo estabelecido estabelece um novo padrão para o desenvolvimento de capacidades à velocidade da necessidade", acrescentou a cientista-chefe de defesa da Austrália, Tanya Monro, num comunicado.

Emma Salisbury, membro do grupo de reflexão britânico Council on Geostrategy, explica que o Ghost Shark se parece muito com o drone de grandes dimensões Orca que está a ser desenvolvido nos EUA.

"Presumo que todos eles se destinam a conjuntos de missões mais ou menos semelhantes - inteligência persistente, vigilância, reconhecimento e capacidade de ataque, particularmente no domínio antissubmarino", acrescenta Salisbury.

A Marinha dos EUA chamou ao Orca, construído pela Boeing, "um submarino diesel-elétrico de ponta, autónomo e não tripulado, com uma secção de carga útil modular para executar uma variedade de missões", num comunicado de imprensa de dezembro sobre a entrega de uma primeira plataforma de teste Orca, um protótipo inicial.

Ter uma carga útil modular significa que o Orca pode, em teoria, transportar diferentes variedades de armas, dependendo da tarefa, ou ser equipado com equipamento especializado para reconhecimento ou possivelmente recolha de informações.

O comunicado refere que o Pentágono irá adquirir mais cinco drones, sem indicar um calendário. Mas o Orca dos EUA está a ser desenvolvido há mais de uma década, segundo o comunicado da Marinha, o que contrasta com a rapidez com que a Austrália desenvolveu o Ghost Shark.

Chris Brose, diretor de estratégia da Anduril, diz que a empresa e a Austrália estão no "processo de provar" que "este tipo de capacidades pode ser construído muito mais rapidamente, muito mais barato e de forma muito mais inteligente".

A Anduril Austrália refere ainda que o Ghost Shark, desenvolvido inteiramente a nível nacional, será disponibilizado para exportação depois de integrar a frota naval australiana.

Ensaios do Manta Ray

Entretanto, do outro lado do Pacífico, o Orca não é o único drone que está a ser desenvolvido nos EUA.

O mais recente destes objetos a ser desenvolvido nos Estados Unidos é o Manta Ray da Northrop Grumman, cujo protótipo foi testado ao largo do sul da Califórnia em fevereiro e março.

A Agência de Produtos de Investigação Avançada da Defesa (DARPA), o ramo do Pentágono responsável pelo desenvolvimento de novas tecnologias, afirma que a força do Manta Ray reside na sua modularidade, ou seja, na capacidade de mudar as cargas úteis consoante a missão.

De acordo com a Northrop Grumman, pode ser desmontado e colocado em cinco contentores de transporte normais, transportado para o local onde vai ser instalado e remontado no terreno.

O protótipo foi construído em Maryland e depois remontado na costa da Califórnia, do outro lado do país.

"A combinação do transporte modular através do país, a montagem no terreno e a subsequente utilização demonstra uma capacidade inédita para um drone de grandes dimensões", afirmou Kyle Woerner, que dirige o programa Manta Ray na DARPA, num comunicado de imprensa da agência.

Também referiu que o método de transporte modular significa que o Manta Ray pode poupar energia interna para a sua missão, em vez de a utilizar para chegar ao local de implantação.

Tal como o Orca, o Manta Ray não se desenvolveu tão rapidamente como o Ghost Shark. O seu programa começou em 2020 e a DARPA não deu um objetivo para o Manta Ray - ou alguma variante do mesmo - se juntar à frota dos EUA.

"A DARPA está a colaborar com a Marinha dos Estados Unidos nas próximas etapas de teste e transição desta tecnologia", refere o comunicado da agência.

Entretanto, a China, apontada pelas forças armadas dos EUA como a sua "ameaça de ritmo" no Pacífico, também está a fazer progressos nos drones, avisa Salisbury.

"Embora os pormenores sejam escassos, como acontece com a maioria das capacidades chinesas, eles têm estado a desenvolvê-los há pelo menos 15 anos e é provável que tenham agora algo semelhante ao Orca (mas com torpedos) em fase de testes", sublinha.

O especialista em submarinos H. I. Sutton afirma no seu website Covert Shores que, de acordo com uma análise de informações de fonte aberta, se crê que Pequim tem em desenvolvimento pelo menos seis drones extragrandes.

Para além da Austrália, dos EUA e da China, outros países que trabalham em drones incluem o Canadá, a França, a Índia, o Irão, Israel, a Coreia do Norte, a Noruega, a Rússia, a Coreia do Sul, a Ucrânia e o Reino Unido, segundo Sutton.

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