A comida picante deixa-nos mesmo mais ‘calientes’? Apimente as suas dúvidas

11 jun 2023, 12:00
Pimenta (Pexels)

O picante pode não ser para todos, embora traga nele muitos benefícios. Ao comê-lo, o nosso corpo reage. Mas isso deixa-nos imediatamente mais disponíveis para o sexo?

O que seria da vida sem um lado picante? Há quem goste dele em doses desmedidas e quem ceda à mínima gotinha. Na comida, dizem os nutricionistas, não há limites na quantidade a pôr ou no número de vezes por semana que o prato leva picante. Os únicos critérios são mesmo a resistência e o gosto de cada um.

“Tudo o que é em excesso, mesmo o bom, pode prejudicar a saúde”, sintetiza Magda Roma, da Lisbon Plastic Surgery. Já lá vamos a essa parte. Porque antes é preciso perceber o que traz a comida mais apimentada.

Há muita coisa boa no picante?

Capsaicina. Já ouviu falar nela? É este composto que faz toda a diferença na hora de falar de picante. Ele estimula a produção de enzimas digestivas, tem um efeito termogénico, propriedades anti-inflamatórias, antimicrobianas e vasodilatadoras.

Ena, tanta coisa! Se calhar está a perguntar-se o que é o efeito termogénico. Magda Roma explica de forma simples: “aumenta a temperatura corporal, promovendo oxidação de gordura, logo auxilia na melhor gestão do peso”.

Mas não é isso que vai ajudá-lo a perder peso miraculosamente. “A famosa aceleração do metabolismo pela ingestão de comida picante será apenas temporária, não apresentando qualquer efeito individual a nível do peso corporal. Um alimento por si só não poderá ser responsável pela redução de peso”, completa Paula Beirão Valente, nutricionista da Clínica Espregueira.

A ciência, lembra esta especialista, já provou que há efeitos benéficos do picante para a rinite, diabetes, vários tipos de doenças cardiovasculares, gastrointestinais e dermatológicas.

“A ação na proteção cardiovascular deve-se ao facto de o maior consumo de especiarias estar associado a uma redução da adição de sal nos alimentos durante a confeção”, junta.

E se era dos que achava que o picante prejudica a sua digestão, fique a saber que está enganado. “Um dos mitos associados aos ingredientes picantes é que podem contribuir para o desenvolvimento de úlceras gástricas, mas a evidência científica aponta exatamente para o contrário. Vários estudos indicam que em alguns casos podem mesmo prevenir as úlceras, devido à presença da capsaicina”, diz a coach nutricional Nicole Setton, da Clínica Pilares da Saúde.

(Pexels)

Põe-me mesmo ‘caliente’?

Já alguém o avisou para se conter na comida picante porque ela é afrodisíaca, certo? É uma associação quase imediata: muitas vezes falamos que é preciso apimentar a relação. Mas o picante tem mesmo esse poder de nos estimular a libido?

Bem, pelo menos diretamente, a ciência diz que não. “Cientificamente, não existe relação entre o consumo de alimentos picantes e a libido. No entanto, como os alimentos picantes são vasodilatadores pode aumentar a sensação de excitação”, diz Magda Roma.

Ou seja, é pela sensação de calor que o picante promove, com a frequência cardíaca e a circulação sanguínea mais aceleradas, que o desejo pode nascer. O cérebro – e depois o resto do corpo - lê os sinais. E ficam criadas as condições para outras cenas picantes.

O picante não é para todos?

O picante não é para todos. E aqueles que se queixam do estômago ou do intestino irritado quando abusam na dose têm a sua razão.

“No estômago, para as pessoas que são sensíveis ou que já têm sintomas de irritação gástrica, pode acentuar-se acidez, logo azia, pode haver refluxo ou mesmo dor de estômago. Já a nível intestinal, além de poder piorar o estado hemorroidal e até provocar sangramento, pode irritar a mucosa intestinal agravando alguma situação intestinal já diagnosticada como síndrome do intestino irritável ou colite ulcerosa ou qualquer outra situação relacionada com a mucosa intestinal”, traça Madga Roma.

Não é no picante em si que está o problema, é antes no seu corpo. Ao ingeri-lo, ele pode acentuar algum quadro pré-existente.

“Pessoas com a mucosa gástrica irritada e doenças inflamatórias intestinais deverão reduzir o consumo de alimentos picantes. É também muito questionado o impacto direto da comida picante na doença hemorroidária. Neste caso, não existem dados suficientes que comprovem a ligação do seu consumo com a doença, mas apenas com o agravamento da sintomatologia. Por isso, quem sofre desta doença deverá evitar o picante, sob risco de agravar os sintomas”, atesta Paula Beirão Valente.

(Pexels)

Quem deve evitar?

A resposta é simples para Nicole Setton: “grupos que contenham alergia ou algum problema de saúde associado e que possa agravar alguma doença já detetada”, incluindo quem “naturalmente já sofre de úlceras”, devem evitar ou diminuir o consumo de alimentos picantes.

“Pessoas com gastrite, refluxo gastroesofágico, hemorroidal, em estados de desequilíbrio intestinal, como no caso de diarreia, síndrome do intestino irritável, colite ulcerosa, pessoas alérgicas a alimentos picantes”, completa Magda Roma.

Como se mede o picante?

Nem todo o picante é igual. E há uma escala para medi-lo: é a escala de Scoville. Porque o grau de picante de um alimento é definido pela quantidade de capsaicina que apresenta.

A escala foi criada pelo químico e farmacologista norte-americano Wilbur Scoville em 1912, podendo ir de zero a cinco milhões de unidades Scoville.

Vamos lá ao exemplo dado por Paula Beirão Valente: o pimento verde está representado com a classificação mais baixa, zero. Já o chileno Naga Viper, que em 2011 foi distinguido pelo Guinness como o mais picante do mundo, tem entre 1,3 e dois milhões.

(Pexels)

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