As reações à morte de Paula Rego, "uma perda nacional"

Agência Lusa , CF
8 jun 2022, 15:39

Uma das mais aclamadas e premiadas artistas portuguesas a nível internacional morreu esta manhã, em Londres, aos 87 anos

A pintora Paula Rego, uma das mais aclamadas e premiadas artistas portuguesas a nível internacional, morreu na manhã desta quarta-feira em Londres, aos 87 anos.

As reações e homenagens à pintora já começaram a multiplicar-se.

Marcelo destaca "projeção no mundo" de uma artista "muito completa"

O Presidente da República lamentou a morte da pintora Paula Rego, destacando a sua projeção no mundo.

Questionado pelos jornalistas, em Braga, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que "tinha acabado de saber" da notícia da morte de Paula Rego, artista plástica portuguesa "com a maior projeção no mundo desde que nos deixou [Maria Helena] Vieira da Silva".

"É uma perda nacional. Certamente eu falarei com o senhor primeiro-ministro [António Costa] para ponderar como assinalar em termos de luto nacional essa perda, porque tem uma projeção muito longa, muito rica e muito prestigiante para Portugal", disse o chefe de Estado. Foi posteriormente confirmado pelo Ministério da Cultura que será decretado luto nacional

Segundo o Presidente da República, era uma artista plástica "muito completa", com projeção mundial durante "longas décadas".

"Há longas décadas que Paula Rego não é só muito importante em Portugal, em Inglaterra, onde vivia e onde eu pude visitá-la no seu estúdio em 2016, mas por todo o mundo", reforçou.

Marcelo mencionou que esteve com o filho da pintora recentemente "na inauguração da exposição em Londres, depois em Haia e em Espanha, Málaga" e que essa exposição "era uma recolha e uma homenagem numa altura em que se sabia que Paula Rego estava já doente, bastante doente".

"Nenhum de nós podia imaginar que pudesse desaparecer", acrescentou.

O Presidente da República transmitiu à família da pintora "os sentimentos de todo o povo português".

Nestas primeiras declarações depois da morte de Paula Rego, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que o anterior chefe de Estado Jorge Sampaio "tomou a iniciativa única de a convidar para fazer uma coleção de representações para a capela do Palácio de Belém, que foram na época revolucionárias, vendo Maria, mãe de Cristo, de uma perspetiva do papel da mulher, não direi feminista, mas do papel da mulher".

"É um caso único na própria sede da Presidência da República ter uma artista com uma coleção notável de retratos por iniciativa do Presidente Jorge Sampaio", salientou.

Cada quadro "é um dardo atirado contra o preconceito", diz Santos Silva

O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, lamentou a morte da pintora e considerou que cada quadro seu constituiu “um dardo atirado contra o preconceito, a dominação e a indiferença".

Na sua conta na rede social Twitter, o presidente da Assembleia da República escreveu: “Paula Rego soube explorar os nossos sonhos, os nossos medos, as nossas histórias, a nossa condição.”

“Muito, muito obrigado, Paula Rego”, acrescentou Augusto Santos Silva.

As suas obras "encerram imagens poderosas que ficarão sempre connosco", afirma António Costa

O primeiro-ministro também se pronunciou na sua conta da rede social Twitter:  "Paula Rego era uma artista de qualidade excecional, cuja obra alcançou um grande reconhecimento internacional. As suas pinturas, desenhos e gravuras encerram imagens poderosas que ficarão sempre connosco e com as gerações por vir. Aos seus familiares e amigos, o Primeiro-Ministro apresenta as mais sentidas condolências."

Em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro acrescentou: "Nascida durante a ditadura salazarista, Paula Rego fez a sua formação artística em Londres, onde residiu grande parte da vida, mantendo sempre intacta a ligação a Portugal. A sua obra alimenta-se de referências e memórias portuguesas, como os contos populares ou a literatura de Eça de Queirós, e Paula Rego foi uma artista atenta à nossa realidade social. Autora de um universo figurativo singular, as suas obras não se parecem com mais nada do que com Paula Rego"

Ministro da Cultura lembra “artista da metáfora e do real”

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, lembrou Paula Rego como uma “artista da metáfora e do real”, realçando a sua “forte ligação à experiência portuguesa”.

Pedro Adão e Silva “manifesta profundo pesar pelo falecimento de Paula Rego e presta a sua homenagem à artista, destacando a qualidade maior da sua obra, tanto no plano nacional quanto internacional”, lê-se na nota de pesar divulgada.

“Artista da metáfora e do real, explorou o humano com múltiplas ressonâncias sociais, psicológicas e existenciais. Foi uma artista fortemente comprometida com as grandes causas do seu tempo”, acrescentou.

“Paula Rego desempenhou um papel fundamental na internacionalização da cultura portuguesa”, salientou o ministro, referindo que a artista “deixou como particular legado ao seu país a Casa das Histórias, em Cascais”.

Centro Nacional de Cultura manifesta "grande desgosto"

O Centro Nacional de Cultura (CNC) manifestou “grande desgosto” pela morte de Paula Rego.

“O Centro Nacional de Cultura manifesta o grande desgosto pelo falecimento da sua sócia efetiva, hoje ocorrido. Apresentamos sentidas condolências à família e amigos”, lê-se numa nota publicada no site do CNC.

O CNC recorda que Paula Rego era “uma das mais aclamadas e premiadas artistas portuguesas a nível internacional”.

Cascais promete honrar memória na Casa das Histórias

Numa nota publicada no Facebook, o autarca Carlos Carreiras e o presidente do conselho diretivo da Fundação D. Luís, Salvato Teles de Menezes, lamentam a morte da pintora e reiteram condolências à família.

“Tudo faremos para honrar a sua memória através das atividades programadas e a programar na Casa das Histórias Paula Rego”, referem.

No comunicado, Carlos Carreiras e Salvato Teles de Menezes destacam que a “cultura portuguesa perde assim uma das suas mais importantes e irreverentes criadoras, alguém que se distinguiu como mulher, ser humano e artista”.

Destacam igualmente a sua vida, o percurso profissional e o seu estilo artístico.

“Em 2009, foi inaugurada em Cascais a Casa das Histórias, com projeto do arquiteto Eduardo Souto Moura, um museu dedicado à obra de Paula Rego, que, desde então, acolheu inúmeras e importantes exposições da sua obra”, é referido na nota.

A Casa das Histórias Paula Rego é um equipamento que integra o Bairro dos Museus de Cascais (distrito de Lisboa), sendo gerido pela Fundação D. Luís I.

Na mesma nota, é ainda expressado que será decretado um dia de luto municipal na quinta-feira.  

Câmara de Lisboa garante que criações artísticas "ficarão para sempre gravadas no panorama das artes" 

“Nome maior da pintura contemporânea mundial, começou aos 17 anos a estudar em Londres, na Slade School of Fine Art. A capital britânica seria a sua residência mais duradoura, mas a sua ligação a Portugal sempre se manteve, onde vinha, de resto, com regularidade. De sublinhar os traços da identidade portuguesa, nomeadamente o imaginário, os contos populares e recordações de infância vividas em território nacional, que marcam de forma evidente a sua obra”, lê-se na nota divulgada da autarquia.

“As suas criações artísticas são inconfundíveis, com um percurso singular, ficarão para sempre gravadas no panorama das artes dos séculos XX e XXI, caracterizadas por uma abordagem figurativa, destacando-se das correntes vigentes da época, com uma opção preferencial pela combinação da abstração e figuração, bem como um tom satírico que se faz sentir”, é acrescentado na nota do município.

PSD recebeu notícia "com consternação" 

O PSD também expressou o pesar do partido e do seu presidente, Rui Rio, pela morte da pintora Paula Rego, que classificou como “figura de referência da pintura nacional”.

“Foi com consternação que o Partido Social Democrata recebeu a notícia do falecimento de Paula Rego”, refere o partido em comunicado.

No texto, os sociais-democratas recordam-na como “figura de referência da pintura nacional”, que se destacou “no panorama internacional pelo seu trabalho, tendo recebido várias distinções e deixando uma marca indelével” na cultura nacional.

“Nesta hora de pesar, a direção do Partido Social Democrata, na figura do seu presidente, Rui Rio, expressa a toda a família o seu mais sentido pesar”, acrescenta a nota.

Fundação Calouste Gulbenkian classificou-a como "uma das mais extraordinárias artistas nacionais"

A Fundação Calouste Gulbenkian lamentou “profundamente” a morte da pintora Paula Rego, classificando-a como “uma das mais extraordinárias artistas nacionais”, com quem manteve estreitos laços desde sua bolseira, nos anos 1960.

Em comunicado, o conselho de administração da Fundação Gulbenkian relembrou a “ligação histórica” da entidade a “uma artista ímpar no panorama internacional, que deixa um legado inesquecível”.

A instituição exprime ainda “orgulho pela recente aquisição da sua icónica pintura ‘O Anjo´” (1998), que em fevereiro deste ano reforçou a coleção do Centro de Arte Moderna (CAM), a par de “O Banho Turco” (1960), "tornando a Gulbenkian na instituição privada com o maior e o mais significativo acervo da artista", constituído por 37 obras, entre pintura, desenho e gravura.

“Unida pela coerência e consistência dos temas e pela inconfundível marca da sua identidade, a obra de Paula Rego - desde o final dos anos 1950, ainda enquanto estudante na Slade School, até aos dias de hoje -, tem atravessado uma compulsiva necessidade de se renovar formalmente, com vários ciclos identificáveis e temporalmente definidos”, assinalou o comunicado enviado à Lusa.

"Uma obra poderosíssima, cheia de originalidade e vigor” afirma Fundação EDP

“Criadora de uma obra poderosíssima, cheia de originalidade e vigor, Paula Rego fez da sua memória pessoal e da nossa memória coletiva um impulso renovado para a sua arte de contadora de histórias. Aliando uma mestria técnica a uma imaginação indomável e a uma liberdade insubmissa, na sua obra estão o nosso passado e o nosso futuro”, lê-se na nota divulgada.

Paula Rego é “a artista portuguesa contemporânea que alcançou maior reconhecimento, prestígio e consagração internacionais”, sublinha a Fundação.

A Fundação EDP tem “a certeza de que a sua obra permanecerá para as gerações vindouras como testemunho insubstituível de um tempo a que o seu nome ficará para sempre ligado”.

Centro Português de Serigrafia recorda "obra gráfica notável"

“A perda de Paula Rego toca-nos no âmago da nossa atividade. Com uma obra gráfica notável, iniciada nos anos 50, a artista sempre aplicou à gravura, nas suas múltiplas expressões, a mesma dedicação e importância que ao desenho ou à pintura. Pelo seu legado, gratidão”, referiu João Prates, citado num comunicado partilhado pelo CPS nas redes sociais Facebook e Instagram.

Na nota, o CPS revela ter recebido “com grande pesar” a notícia da morte de Paula Rego, “uma das mais relevantes e acarinhadas artistas portuguesas de sempre”.

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