P. Ferreira-Sporting, 4-0 (crónica)

15 set 2002, 00:05

A humilhação de um leão desnorteado O Sporting foi uma sombra do que produziu na época passada e acabou por ser humilhado pelos Paços.

Por muito que os adeptos do Sporting se tivessem beliscado no final do jogo, quem sabe até pisado a pele, o que se passou esta noite não foi nenhum pesadelo mas a realidade crua e dura no seu estado mais puro. Nem parecia que os leões eram o campeão nacional em título quão pobre foi a exibição da equipa de Lazlo Bölöni, a anos de luz do que mostrou na temporada passada. Faltou tudo ao conjunto de Alvalade: fio de jogo, referências, oportunidades, entendimento e acerto nas situações defensivas. Foi mau de mais para ser verdade, por isso este resultado nem sequer peca por ser muito dilatado. É inteiramente justo. Os golos foram limpos e só não esbarraram na fronteira da mão-cheia por mero acaso do destino. Depois de 28 jogos consecutivos sem perder, a derrota não podia ter sido mais pesada.

A questão é inevitável: o Sporting é uma equipa transfigurada sem Jardel e João Pinto, dois avançados que estão a fazer muita falta ao xadrez. São eles que fazem a diferença do meio-campo para a frente e conseguem milagres quando nada resulta da linha média para trás. Por muito que Niculae e Kutuzov tivessem trabalhado juntos, aquilo que produziram apenas teve consequência num par de correrias e algumas desmarcações. Só no início do segundo tempo, a formação leonina conseguiu desenhar um ataque digno de registo, mas o guarda-redes Pinho defendeu para canto um remate do avançado bielorusso. Por aqui se vê a confusão de ideias e o desacerto latente em campo diante de um adversário superior em todos os aspectos, tanto a destruir como a construir.

Notou-se que a equipa de Lazlo Bölöni foi uma desgraça não só no aspecto colectivo ¿- os jogadores falharam passes e faltou articulação entre os três sectores -, mas também em termos individuais. Os génios, os artistas que costumam tirar coelhos da cartola não tiveram arte nem engenho para um único momento de inspiração. Pedro Barbosa nunca assumiu o jogo nos pés, perdeu bolas e andou nitidamente desamparado no terreno; Quaresma foi apenas uma mercearia de fintas, mas fechada para balanço. Por isso, o leão tem motivos para esconder a cara de vergonha, porque nunca teve um rasgo digno de registo nem sequer conseguiu ter mais tempo a bola em seu poder. Uma desgraça completa. E ponto final.

E os heróis?

Se o Sporting não funcionou deveu-se à acção do adversário. O Paços de Ferreira soube impor o seu jogo desde o primeiro minuto graças a um princípio que escapa à maioria das equipas e dos treinadores portugueses: sem medo assumiu o risco, jogou ao ataque, sem complexos e desde cedo deliciou os espectadores com um futebol do mais fino puro corte. Vingou completamente a desgraça do resultado da temporada passada (goleada por 6-0) e assinou uma marca histórica sem precedentes desde que os dois clubes medem forças na divisão principal.

A formação de José Mota soube jogar pelas alas, impôs velocidade e assim descoseu o esquema pouco funcional de três defesas centrais utilizado pelo treinador romeno. O meio-campo era a imagem perfeita de como devia funcionar a equipa, os trincos roubavam bolas (os sportinguistas falharam inúmeros passes) e Júnior construía as jogadas de ataque com uma mestria de fazer inveja aos melhores médios organizadores de jogo. Os remates certeiros dos pacenses foram praticamente tirados a papel químico: cruzamento das alas e entrada felina do homem da área. Foi assim duas vezes antes do intervalo e com resultados muito práticos.

Gerir a vantagem e... marcar

Na segunda parte, apesar de Lazlo Bölöni não ter mexido na equipa, o Sporting entrou mais empenhado em chegar ao golo, mas todos os propósitos foram contrariados à medida que o tempo ia passando. O Paços de Ferreira defendia bem, jogava de forma tranquila e geria a vantagem com enorme sapiência. Dava gosto ver jogar esta equipa, descomplexada, mas sem estar muito obcecada com questões de ordem defensiva. A ideia era deixar os leões esgotarem a forças e depois balançar o futebol para o ataque. Assim foi. Mauro marcava o terceiro golo da sua equipa e matava o jogo aos 55 minutos. Duro golpe para quem estava do outro lado.

A partir daqui o jogo terminou. Pouco ou nada havia a fazer, porque os jogadores não tinham motivação para muito mais. O quatro golo o desafio, o terceiro de Mauro (excelente exibição) aconteceu no período de descontos e foi o coroar de uma ideia interessante: os pequenos podem humilhar os grandes por muito poderosos que eles sejam. Basta não ter medo e jogar de igual para igual como tanto gosta José Mota, um treinador que está a fazer história e pode colocar a sua formação em rotas mais ambiciosas.

Arbitragem discreta e eficiente. O jogo não teve casos e isso ajudou muito Pedro Henriques, que teve sempre o encontro na mão e ajuizou os lances de forma justa e responsável. Se todas as arbitragens (e se todos os jogos) fossem assim o futebol português era um paraíso perfeito.

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