«4x4x3»: uma questão de fuga ao risco

24 nov 2015, 10:03
4x4x3

Um Benfica demasiado amarrado ao equilíbrio uma vez mais

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. 
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Tendo em conta as circunstâncias da derrotas anteriores com o Sporting (sobretudo a última, na Luz), e considerando também os problemas físicos de Jonas, Rui Vitória traçou uma estratégia para Alvalade que tinha a preocupação de equilibrar forças na zona central do terreno.
 
O treinador do Benfica procurou encurtar a equipa em largura e profundidade, num povoamento do corredor central que gerava um duelo mais musculado e que retirava espaço entre linhas a jogadores como João Mário, Bryan Ruiz ou mesmo Fredy Montero.



Isto ao mesmo tempo que Gaitán gozava a liberdade nas costas de Mitroglou, com um raio de ação superior de Jonas, criando uma preocupação constante não só para William como para os laterais (sobretudo Jefferson, mais ofensivo). No lance do golo o argentino sai precisamente da zona de ação do médio defensivo leonino para o flanco direito, aproveitando que o lateral brasileiro ainda estava a recuperar posição.


 
Reforçada por esse tento de Mitroglou, logo aos seis minutos, a estratégia surpreendeu o Sporting. A ponto de ter obrigado Jesus a mexer ao intervalo, lançando Gelson na direita e confiando em João Mário para ajudar William e Adrien na zona central. Isto apesar do golo do empate surgido já em período de descontos.
 
Mas se a nível defensivo a estratégia de Rui Vitória acabou por ter sucesso, mesmo tendo em conta o resultado final, no plano ofensivo a equipa acabou por ficar ainda mais limitada. A prova disso é que este foi o dérbi em que o Benfica fez menos remates, mesmo tendo em conta que o jogo teve mais trinta minutos do que os anteriores. Na Supertaça as «águias» fizeram nove remates à baliza, e no jogo da Luz, para a Liga, foram dez. No passado sábado contaram-se apenas seis, os mesmos que tinha feito no Dragão.
 
Incapaz de sair com a bola controlada, mesmo em contra-ataque, o Benfica usou e abusou do jogo direto para Mitroglou, sem qualquer proveito. A alternativa mais próxima ao habitual jogo exterior, perante a dificuldade para jogar no meio-campo ofensivo.
 
Sem sobressaltos a nível defensivo, o Sporting foi ganhando confiança para ir arriscando na frente. Perante um rival que, por norma, evita tudo o que implique risco. Não foi apenas no dérbi.
 
Mesmo em jogos em que assume claro favoritismo, o Benfica tem sido uma equipa demasiado cautelosa. E não é por acaso que o momento mais alto da época, até ao momento, tenha sido o jogo em que menos responsabilidades tinha para assumir as despesas do jogo, a vitória em Madrid.
 
Claro que o equilíbrio tático é fundamental, mas uma equipa não pode ficar amarrada a essa preocupação. Sobretudo quando se trata de uma equipa que luta por títulos. Quem está obrigado a assumir riscos tem de antecipar o mais possível aquele momento em que vai perder a bola. Proteger-se. Mas o plano de emergência não pode ser o plano principal.
 
O Benfica não pode renunciar à intenção de desequilibrar o adversário com receio de colocar em causa o seu próprio equilíbrio.
 
Até porque, mesmo com todas estas cautelas, a equipa não tem estado muito equilibrada defensivamente. 

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