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Lágrimas, sangue e Queiroz ao ar. Estes rostos contam a história do Irão

25 nov 2022, 20:14
Vitória do Irão no Mundial. Foto: AP

A vitória do Irão sobre o País de Gales foi emocionante e sofrida, como têm sido os últimos meses de protestos após a morte de Mahsa Amini. Era dela a camisola que esta adepta iraniana na fotografia acima levava. E também terá sido por ela que acabou a chorar

Desta vez, os jogadores iranianos cantaram o hino. Estavam emocionados, como os adeptos que choravam nas bancadas, e certamente motivados para serem falados por algo mais do que as corajosas posições que têm tomado sobre os protestos no seu país. Já de véspera Carlos Queiroz tinha avisado: menos política, mais futebol.

E, no futebol, o Irão foi mais. Foi mais do que o País de Gales, certamente, mas também foi mais do que esperávamos. Foi a terceira vitória de sempre em Mundiais, foram uns minutos finais de loucura e emoção, foi tão bonito que nos deixou a todos (bem, menos aos galeses, suponho) a torcer por eles.

O jogo acabou 2-0, teve a primeira expulsão da competição e ainda o primeiro golo fora da área, e o Irão está na luta por aquela que poderá ser a primeira qualificação de sempre para uns oitavos de final de um Mundial. Atirem o homem ao ar, que isto realmente não é para todos.

Carlos Queiroz já tinha treinado a seleção iraniana durante oito anos e voltou este ano "a casa". Foto: Richard Heathcote/Getty Images

Do ar para o chão, porque Queiroz não foi o único "português" a fazer parte desta história. Mehdi Taremi, uma das vozes mais insistentes em defesa dos seus compatriotas que protestam contra o regime no Irão, merece que alguém também fale por ele. O avançado do FC Porto já é uma das figuras deste Mundial e exatamente por aquilo que deve ser: ou marca, ou ajuda a marcar, ou joga que se farta, ou incomoda guarda-redes que se lançam para cima dele com tudo - e com o respetivo cartão vermelho

Conhecemos-lhe bem o rosto, mas nunca lhe vimos tantas lágrimas. No fim do jogo, Taremi lançou-se ao chão - sim, sim, agora foi mesmo - e chorou copiosamente. O que lhe terá passado pela cabeça naquele momento? Mais política, mais futebol, mais tudo ao mesmo tempo. Neste Mundial, queremos - e precisamos de - mais Taremi. 
 

Taremi deita-se no relvado no fim do jogo e chora de emoção. AP Photo/Francisco Seco

Depois da derrota pesada contra a Inglaterra (2-6) e desta vitória sobre o País de Gales (2-0), o próximo jogo do Irão será contra os Estados Unidos e julgo que não será difícil adivinhar que política e futebol cruzar-se-ão novamente. A história do Irão neste Mundial faz-se disto, é inevitável, como será inevitável continuarmos a querer ver Queiroz feliz nas alturas e Taremi com a bola no chão. 

Estes rostos iranianos merecem mais Mundial. Ficamos a torcer por Alireza Beiranvand, Amir Abedzadeh, Payam Niazmand, Hossein Hossein, Majid Hosseini, Hossein Kanaani, Shoja Khalilzadeh, Morteza Pouraliganji, Sadegh Moharrami, Milad Mohammadi, Ehsan Hajsafi, Ramin Rezaeian, Abolfazl Jalali, Saeid Ezatolahi, Ali Karimi, Ahmad Nourollahi, Rouzbeh Cheshmi, Vahid Amiri, Saman Goddos, Alireza Jahanbakhsh, Ali Gholizadeh, Mehdi Torabi, Sardar Azmoun, Mehdi Taremi e Karim Ansarifard. Por Carlos Queiroz.

Por Mahsa AminiAsra PanahiNika ShakaramiAbolfazl AdinezadehErfan Rezaei e por todas as jovens meninas que querem andar pelas ruas de Teerão em liberdade, celebrando uma vitória da seleção. Bem merecem.

Rapariga iraniana festeja a vitória da seleção, em Teerão. Onde as mulheres não podem entrar em estádios de futebol. AP Photo/Vahid Salemi

 

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