Certidão de óbito diz que Abolfazl Adinezadeh morreu depois de ter sofrido "danos no fígado e no rim direito, provocados por tiros de caçadeira"
Os protestos no Irão, provocados pelo assassinato de Mahsa Amini, continuam e as mortes sucedem-se. Um estudante de 17 anos foi morto a tiro na segunda maior cidade do país, Mashhad. Abolfazl Adinezadeh morreu a 8 de outubro, mas só agora foi conhecida a certidão de óbito.
De acordo com o relato de um jornalista da BBC Persian, Parham Ghobadi, o estudante foi morto a tiro à queima-roupa pelas autoridades iranianas. Os disparos foram feitos a menos de um metro de distância.
Na certidão de óbito, a que o jornalista teve acesso, é dito que Abolfazl Adinezadeh morreu depois de ter sofrido "danos no fígado e no rim direito, provocados por tiros de caçadeira".
Até ao momento, a polícia iraniana não fez qualquer tipo de comentário em relação à morte do jovem de apenas 17 anos. No funeral, o pai de Abolfazl, emocionado, questionou: "Que crime é que ele cometeu para que atingissem o estômago dele com 24 tiros de caçadeira?".
“What crime had he committed, that you sprayed his stomach with 24 birdshots?,” Abolfazl’s father asked at his funeral in this video.
— Parham Ghobadi (@BBCParham) October 20, 2022
The family was put under pressure to say their son was a member of basij, a notorious Iranian malitia to “show he was killed by protesters”.
4/5 pic.twitter.com/F60c96QK7c
A 8 de outubro, Abolfazl Adinezadeh juntou-se aos protestos contra a morte de Mahsa Amini - a jovem de 22 anos que foi morta enquanto estava sob custódia policial por estar a usar o hijab de forma incorreta - e ainda contra a corrupção no país. No dia seguinte, os pais de Abolfazl foram chamadas para irem buscar o filho a uma esquadra. Mas quando lá chegaram, ele já estava morto.
De acordo com o The Guardian, os pais foram pressionados a dizer que o filho era membro da Basij - uma milícia paramilitar iraniana - sugerindo, assim, que este tinha sido morto por manifestantes e não pela polícia.
Mais de 20 menores mortos durante os protestos
Na terça-feira, Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, disse que pelo menos 23 menores já tinham sido mortos no Irão desde o início dos protestos, a 16 de setembro.
Numa conferência de imprensa em Genebra, na Suíça, revelou que todas estas mortes foram provocadas por munições reais, disparos à queima-roupa e espancamentos. Ravina Shamdasani disse que estes relatos são "profundamente preocupantes".
Para além disto, existem ainda vários relatos de escolas invadidas por autoridades iranianas, que feriram e prenderam vários menores de idade.
Estes números não batem certo com as estimativas da Iran Human Rights (IHR) avançadas esta semana. Em comunicado, a organização não-governamental referiu que os protestos já provocaram pelo menos 215 mortes, das quais 27 são crianças e adolescentes.
Estas mortes foram registadas em 19 províncias: Sistão-Baluchistão (93 pessoas); Mazandarão - historicamente chamada Tabaristão (28); Curdistão (16); Teerão (15); Guilão (14); Azerbaijão Ocidental (13); Quermanxá (10); Alborz (6); Coração Razavi (4); Isfahan (3); Kohkiluyeh e Buyer Ahmad (2); Zanjan (2); Qazvin (2); Azerbaijão Oriental (2); Semnã (1); Ilam (1); Bushehr (1); Khuzistão (1); e Ardabil (1).
O maior número de mortes foi registado nos dias 21, 22 e 30 de setembro.