"Isto não é uma boa forma de viver". Como a menopausa afeta o sono e qual a melhor forma de combater as insónias

1 nov 2023, 21:00
Uma boa noite de sono é extremamente importante para o sistema imunitário. Foto: Wodicka/ullstein bild via Getty Images

Entre 35 e 51% das mulheres tem um aumento dos distúrbios do sono na meia-idade. Uma dessas mulheres é a bicampeã olímpica Kelly Holmes que tem relatado o seu sofrimento

A bicampeã olímpica Kelly Holmes tem deixado nas suas redes sociais vários desabafos sobre o problema que a tem atormentado recentemente: as insónias. As dificuldades em dormir resultam da perimenopausa, o período que antecede a menopausa, porque está a passar a antiga corredora de meio-fundo britânica.

Ao procurar ajuda Kelly Holmes, de 52 anos, percebeu que os problemas de sono são um dos sintomas desta fase da vida da mulher. Entre os vários desabados, a antiga atleta revelou ter chegado ao limite. "Isto não é uma boa forma de viver", garantiu, adiantando que, entretanto, pediu ajuda para enfrentar o problema

O especialista em sono Anselmo Pinto explica à CNN Portugal que “as insónias são sintomas comuns" na menopausa e no período que a antecede e alertou para o facto de serem desvalorizadas por muitas mulheres que não sabem a origem das insónias. "Não devia acontecer porque pode trazer implicações graves”, alerta.

O que é perimenopausa e quais os sintomas?

É o momento de transição que ocorre antes de menopausa. Segundo a neurologista Teresa Paiva, este período inicia-se “quando os níveis de estrogénio começam a baixar, normalmente 12 meses antes da menstruação parar por completo”. No entanto, a duração da perimenopausa não tem um prazo igual para todas as mulheres. “Pode durar alguns meses ou até vários anos, dependendo do caso”, refere a especialista, explicando que se trata de um período de menstruação irregular.

Existem vários sintomas que dão a entender que uma mulher pode estar a entrar na perimenopausa. O especialista Anselmo Pinto dá-nos alguns exemplos, nomeadamente “afrontamentos" (sensações repentinas de calor), "insónias" (dificuldade em iniciar ou manter o sono), "menorragias" (elevados fluxos menstruais)” e "alterações na líbido" (provocado por alterações hormonais).

A possibilidade de engravidar continua, porém, a existir na perimenopausa. Só “quando chega a menopausa é que a capacidade de reproduzir desaparece, o desejo sexual modifica-se ligeiramente e a situação de desejo altera-se" esclarece ainda Anselmo Pinto. 

A perimenopausa ou a menopausa afetam a qualidade do sono? Porquê?

Existem estudos que revelam que entre 35 e 51% das mulheres apresentam um aumento dos distúrbios do sono na meia-idade, ou seja, na transição da perimenopausa para a menopausa. “A menopausa ou a perimenopausa afetam a qualidade do sono devido às variações hormonais existentes no corpo da mulher nesta fase”, diz Anselmo Pinto. Os casos variam de pessoa para pessoa, mas “a queixa mais comum é a ocorrência de frequentes despertares durante a noite, resultando num sono interrompido”. 

Porque é que a menopausa interfere no sono?

Anselmo Pinto clarifica que as insónias podem surgir porque “durante o sono a atividade hormonal vai-se modificando”. No entanto, não está ainda totalmente comprovado “se é na fase ‘rem’ (última fase do ciclo do sono, que dura cerca de 20 minutos) ou na fase ‘não rem’ (fase em que os músculos ficam mais relaxados e as ondas cerebrais ficam ainda mais lentas dando origem a um sono mais profundo)", explica, notando que toda a influência se deve a "alterações hormonais”. A comandar estas alterações está "o cérebro, que acaba por ser influenciado pelo estado da pessoa". O período onde os distúrbios do sono são mais acentuados é "no pós-menopausa, pois a idade é mais avançada e existe uma variação brusca das hormonas", refere Anselmo Pinto. 

Além das insónias, que outros problemas do sono estão ligados à menopausa?

A médica Ana Santa Clara acrescenta que “47  a  67% das mulheres na menopausa têm Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (distúrbio respiratório do sono causado pelo breve bloqueio das vias respiratórias) devido ao aumento de peso, que se manifesta por um aumento do perímetro cervical e alteração da distribuição da gordura corporal, com obesidade central”, pois a perimenopausa corresponde também a um desacelerar do metabolismo, o que leva ao aumento de peso.

Quando é que as insónias começam a ser problemáticas?

As insónias podem classificar-se em duas fases: a fase aguda, quando é inferior a quatro semanas, ou crónica, quando é superior a esse tempo. A neurologista Teresa Paiva avisa que “se uma pessoa tiver insónia durante três meses consecutivos aumenta o risco de depressão”.

Ou seja, quando a insónia se classifica como crónica é já uma situação alarmante.

O agravamento das insónias pode trazer implicações graves. Teresa Paiva frisa que “ao não dormirem bem, as pessoas têm menos qualidade de desempenho no dia a dia, estão mais irritadas e desenvolvem uma certa ansiedade”. A especialista sublinha que se estas são “consequências diretas do dia a dia, posteriormente podem causar problemas cardiovasculares e enfartes, tensão alta. "São fatores resultantes da pessoa não dormir aquilo que precisa” alerta.

O que fazer para melhorar a qualidade do sono?

A psiquiatra Ana Santa Clara, especialista em Medicina do Sono, sugere algumas práticas que podem restabelecer a qualidade do sono durante a perimenopausa ou menopausa:

1. Manter hábitos de vida saudável, com especial atenção à alimentação e à prática diária de exercício físico, de modo a prevenir o aumento de peso.

2. A Terapêutica Hormonal de Substituição (THS), isto é, conjunto de medicamentos hormonais que podem ser tomados por via oral, via transdérmica ou até via vaginal. Estes medicamentos têm um efeito benéfico sobre o sono, para além de tratar os sintomas vegetativos (perda de líbido, obstipação, fadiga).

3. Quando a THS está contraindicada, existem alguns fármacos, particularmente alguns antidepressivos, que podem reduzir os sintomas vasomotores, isto é, os afrontamentos, e melhorar a qualidade do sono.

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