Demência está ligada à menopausa prematura nas mulheres, mostra estudo

CNN , Sandee LaMotte
6 mar 2022, 21:00
Cérebro.

Entrar na menopausa antes dos 40 anos está ligado a um risco 35% maior de desenvolver demência mais tarde, segundo um estudo preliminar.

A menopausa prematura, como é denominada, ocorre quando os ovários da mulher deixam de gerar hormonas e o ciclo menstrual termina por volta dos 40 anos. Isso é cerca de uma dúzia de anos antes do típico início da menopausa, que é aos 52 anos, nos Estados Unidos, segundo o Gabinete de Saúde Feminina do Departamento de Saúde e Serviços dos EUA.

"O que vemos neste estudo é uma associação modesta entre a menopausa prematura e um risco subsequente de demência," disse Donald Lloyd-Jones, presidente da American Heart Association. Ele não esteve envolvido no estudo.

Porque é que as mulheres passam pela menopausa prematura? A não ser que a mulher tenha sido submetida a uma cirurgia para remover ovários e útero, "tem mais que ver com um envelhecimento biológico mais rápido dos tecidos corporais, incluindo o envelhecimento prematuro dos nossos órgãos e das suas funções," afirmou Lloyd-Jones, professor de medicina preventiva, medicina e pediatria na Feinberg School of Medicine da Northwestern University em Chicago.

"É um sinal de alerta a vários níveis, quando uma mulher passa pela menopausa prematura, porque indica que pode haver alguns comportamentos subjacentes ambientais ou de saúde em que temos de nos concentrar", acrescentou.

Menopausa antes dos 45

O estudo, que não está publicado, mas é apresentado na conferência de 2022 da American Heart Association, examinou dados de mais de 153 mil mulheres que participaram no UK Biobank, um estudo contínuo que examina informação genética e sanitária de meio milhão de pessoas residentes no Reino Unido.

"O âmbito e amplitude dos dados é importante e impressionante, mas não nos fornece os pormenores de que necessitamos para compreender todas as implicações do estudo," afirmou Lloyd-Jones.

O estudo foi ajustado por idade, raça, peso, nível de escolaridade e rendimento, consumo de cigarros e álcool, doença cardiovascular, diabetes e atividades físicas. Concluiu que as mulheres que entraram na menopausa antes dos 45 anos eram 1,3 vezes mais propensas a serem diagnosticadas com demência precoce aos 65 anos.

A menopausa precoce, que ocorre entre os 40 e 45 anos, é categorizada separadamente da menopausa prematura antes dos 40 anos, mas ambas podem ser provocadas por muitos dos mesmos fatores: historial familiar; doenças autoimunes, incluindo o síndrome da fadiga crónica; VIH e sida, quimioterapia ou tratamentos de radiação pélvica para o cancro; cirurgia para remover os ovários e útero; e tabagismo.

"A menopausa funcional devido à cirurgia é menos arriscada do que a menopausa biológica que ocorre precocemente, pois pode ser um sinal de alerta de que outros tecidos estão a envelhecer mais rapidamente, nesse caso, a mulher deve consultar o seu médico para conceber um plano que otimize todos os fatores de saúde," afirmou Lloyd-Jones.

O papel do estrogénio?

Quando as mulheres entram na menopausa, os níveis de estrogénio caem a pique, o que pode ser uma razão para as conclusões do estudo, afirmou o autor do estudo Wenting Hao, doutorando na Universidade de Shandong em Jinan, China.

"Sabemos que a falta de estrogénio a longo prazo aumenta o stresse oxidativo, o que pode aumentar o envelhecimento cerebral e levar à insuficiência cognitiva", afirmou Hao em comunicado.

O stresse oxidativo ocorre quando as defesas antioxidantes do corpo não conseguem acompanhar uma superabundância de radicais ou átomos instáveis que podem danificar as células. Os radicais livres surgem naturalmente no corpo como um subproduto do metabolismo celular, mas os níveis podem ser aumentados pela exposição ao fumo, toxinas ambientais, pesticidas, corantes e poluição do ar.

"Contudo, penso que a menopausa prematura é um indício mais significativo do que apenas relativa ao estrogénio," afirmou Lloyd-Jones. "Tal como a diabetes gestacional ou a pré-eclâmpsia deve ser um sinal, a menopausa prematura significa que é uma mulher que está a aproximar-se mais rapidamente de ter um problema no coração ou no cérebro."

"Vamos controlar tudo o resto que podemos controlar na dieta, na atividade física, no peso e no tabagismo, com mudanças de estilo de vida e medicação, se necessário," acrescentou Lloyd-Jones.

Há vários métodos para as mulheres que experienciam menopausa precoce conseguirem reduzir o risco de declínio cognitivo, segundo Hao.

"Incluem exercícios de rotina, participação em atividades de lazer e educacionais, não fumar e não beber álcool e manter um peso saudável," afirmou Hao. "Ter noção desse aumento do risco pode ajudar as mulheres a criarem estratégias para prevenir a demência e para trabalharem como os seus médicos a fim de acompanharem de perto o seu estado cognitivo, à medida que vão envelhecendo."

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