"Sinto-me abençoada por estar viva": Sobrevivente de incêndio em Maui relata luta pela vida após cinco horas no mar

CNN Portugal , AL/AM
13 ago 2023, 16:41
Annelise Cochran (Instagram)

Depois de não conseguir fugir de carro, Cochran conta que a única solução foi entrar no lago, de onde foi resgatada pela Guarda Costeira. Incêndios no Havai já fizeram mais de 90 mortos

"Foi o mais próximo que me senti da morte". As palavras são de Annelise Cochran, habitante de Lahaina, de 30 anos, que na terça-feira, enquanto as chamas avançavam velozmente pela ilha de Maui, não viu outra hipótese que não saltar para o lago juntamente com uma vizinha. Foi com ela que sobreviveu ao inferno em Lahaina, ao passar mais de cinco horas na água junto a uma parede rochosa nos limites da cidade.

Agarradas, para se aquecerem, ambas tiveram de lutar não só contra o frio, mas também para lutar para respirar entre o fumo e os vapores causados pelos incêndios que, até ao momento, já causaram pelo menos 96 mortos e mais de mil desaparecidos. 

"Não sei se foi o fumo, o frio ou os vapores. Foi o mais próximo que me senti da morte", afirmou Cochran em entrevista ao The Washington Post, acrescentando que houve momentos em que se sentiu a perder a consciência.

O incêndio foi rápido e brutal. Naquela manhã, Cochran, que trabalha como gestora de formação numa organização sem fins lucrativos para a conservação dos oceanos, tinha visto relatos de um incêndio florestal nas proximidades, embora não fosse invulgar em Lahaina, onde reside há sete anos.

À tarde, enquanto o vento ficava cada vez mais forte, Cochran estava longe de suspeitar do caos iminente. Quando saiu por volta das 16:00, a rua estava repleta de fumo e o som dos alarmes de incêndio ecoava pelos edifícios ao redor.

Sem qualquer alerta oficial para evacuar, e com as chamas num parque de estacionamento a cerca de um quarteirão de distância, Cochran correu para o seu apartamento em busca de alguns bens essenciais antes de tentar fugir de carro. No entanto, as ruas estavam bloqueadas por carros abandonados e a fuga tornou-se impossível.

Quando a situação se agravou, com o fogo a aproximar-se rapidamente, a solução acabou por ser dirigir-se para a água juntamente com os vizinhos - Edna, uma mulher de meia-idade e Freeman, um homem de 86 anos que tinha dificuldade em andar. Juntos, enfrentaram horas de agonia na água, numa luta desesperada para fugir das chamas e do fumo tóxico. Lá, viram pessoas agarrarem em destroços e flutuarem para águas mais profundas, consciente dos perigos que tal representava.

"As pessoas continuavam a optar por se deixar levar. Temi pela vida daquelas pessoas", contou ao mesmo jornal.

A situação piorou quando os carros ao longo da costa começaram a explodir, libertando fumo tóxico e calor intenso em direção à água. Nesse momento, Cochran e Edna quase colapsaram. Abraçaram-se, enquanto tremiam, esforçando-se para se manterem acordadas.

A certa altura, Cochran chamou Freeman, que estava um pouco mais afastado na praia rochosa, e perguntou-lhe como estava. Ele apenas sorriu e fez um gesto de shaka (cumprimento tipicamente surfista), um sinal de positividade havaiano, para indicar que estava bem, apesar do sofrimento que enfrentava. No entanto, Freeman não sobreviveu e Cochran acredita que o vizinho sucumbiu aos fumos tóxicos.

Depois de uma noite angustiante, Cochran e várias outras pessoas foram resgatadas da água pelos bombeiros por volta da meia-noite e no corpo tem várias nódoas negras e lacerações, enquanto os pés e a cara estão queimados. Apesar das lesões e do trauma emocional, a sobrevivente diz-se "abençoada por estar viva".

"Sinto-me abençoada por estar viva", garante.

Os incêndios florestais na ilha de Maui são o desastre natural mais mortal da história do estado, superando as 61 mortes confirmadas num tsunami em Hilo, em 1960.

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