Marta Crawford vai conduzir-nos numa "Viagem ao Prazer Sexual Feminino". Sem tabus e para todos

8 jun 2022, 21:25
Clitóris (Foto de Joel Saget/AFP via Getty Images)

Não é ainda o Museu Pedagógico do Sexo com que a sexóloga sonha há anos, mas no dia 25 deste mês é inaugurada no Palácio Anjos, em Algés, uma exposição dedicada ao clitóris. Para todas as idades e com objetivos que vão muito além do entretenimento

A história do Museu Pedagógico do Sexo começou em 2010, depois de a sexóloga Marta Crawford ter feito uma palestra no TedEx do Porto sobre "Os segredos do sexo feliz". "No dia seguinte, tive uma epifânia", conta à CNN Portugal. "Imaginei um museu onde pudessem ir crianças, jovens e adultos em simultâneo, que falasse para todas estas etapas, que ligasse a arte e a sexologia e que, ao mesmo tempo, permitisse uma intervenção na comunidade."

A ideia, tal como tinha dito nessa palestra, era mostrar a toda a gente que a vida sexual pode realmente ser feliz para todas as pessoas, independentemente daquilo que cada um sente como felicidade. O "pedagógico" do nome não tem só (nem principalmente) a ver com a explicação do lado biológico do sexo, isso já é ensinado nas escolas. Tem mais a ver com a aprendizagem da vivência da sexualidade. "Num combate à desinformação, usando a arte para desmistificar certos conceitos, quebrando tabus e preconceitos."

"Os museus do sexo que existem noutros países são quase como sex shops, são muito ligados à pornografia", explica Crawford. "Eu queria tirar a sexualidade do vão-de-escada e tratá-la com a dignidade que ela merece. Aliando a ciência e o conhecimento, que são a minha área de trabalho, com a arte. Com uma forte programação, que fosse um museu com uma bandeira, onde se pudesse falar da violência sexual, da mutilação genital feminina e da escravatura sexual, por exemplo. E que trouxesse pessoas muito diferentes, que fosse um polo agregador. Esse era o sonho."

Mas era um sonho difícil de concretizar. Marta Crawford começou a falar desta ideia a algumas pessoas e todas se mostraram entusiasmadas, mas no momento de concretizar as ideias havia sempre dificuldades. "As pessoas têm muita curiosidade e muitas opiniões sobre sexo mas depois também têm muito pudor", explica a sexóloga. "Chegámos a procurar espaços, parcerias, apoios. Mas nunca andou para a frente."

Mas ela nunca desistiu. Até que Isaltino Morais, presidente da Câmara de Oeiras, demonstrou vontade de apoiar o projeto. O que vamos ter agora ainda não é o sonhado Museu Pedagógico do Sexo mas é uma exposição dedicada ao prazer feminino e que é um bocadinho uma amostra do que esse museu poderá ser no futuro.

Com inauguração prevista para 25 de junho, a exposição "Amor Veneris - Viagem ao Prazer Sexual Feminino" vai transformar por completo o Palácio Anjos em Algés no corpo de uma mulher. "O edifício representa o corpo feminino e para entrar é preciso tomar decisões", avança Marta Crawford, que assume a curadoria juntamente com Fabrícia Valente. Com uma abordagem curatorial de carácter científico e artístico, numa perspetiva quer pedagógica quer lúdica, o percurso inicia-se com uma tomada de decisão por parte do visitante, que terá de optar por entrar com ou sem consentimento na exposição, ou seja, no corpo da mulher. "O objetivo é interpelar as pessoas, pô-las a pensar."

A expressão "Amor Veneris" foi usada pelo anatomista Matteo Realdo Colombo, o "descobridor do clitóris", em 1579 para descrever este órgão feminino. "Vamos ter uma parte dedicada ao cérebro, que é o principal órgão do prazer feminino, uma parte dedicada à pele, que é o maior órgão do prazer e, claro, uma parte dedicada ao clitóris, que é único órgão que tem como função o prazer da mulher", explica a sexóloga.

A exposição conta com obras de artistas muito diversos, como Alice Geirinhas, Álvaro Leite Siza, Ernesto de Sousa, Fernanda Fragateiro, Julia Pietri - Gang du clito, Julião Sarmento, Louise Bourgeois, Lourdes Castro, Maria Souto de Moura, Noé Sendas, Paula Rego, Polly Nor, Sara Maia, Sophia Wallace, entre outros. A partir de um convite para a criação de instalações site-specific para a exposição serão também apresentadas obras inéditas de Ana Pérez-Quiroga, de Ana Rocha de Sousa, de Error-43 e da perfumista Cláudia Camacho.

A programação paralela inclui performances, oficinas artísticas e pedagógicas, conversas e debates, visitas guiadas. A partir de outubro haverá também visitas de escolas. No espaço do Palácio Anjos vão estar disponíveis consultas de sexualidade, numa parceria com a Associação para o Planeamento da Família e todos os visitantes poderão participar num estudo sobre a sexualidade feminina - porque a intervenção na comunidade e a ligação ao conhecimento científico eram duas áreas que Marta Crawford queria muito ter associadas a este projeto. Mantém-se o objetivo de combater todas as formas de preconceito, descriminação e de ignorância sobre a sexualidade.

"Toda a gente vai poder entrar, não é uma exposição para adultos", garante Marta Crawford. Não tem nada que possa ser considerado ofensivo. "A exposição é totalmente informativa mas não é doutrinária, queremos que as pessoas fiquem esclarecidas e façam as suas próprias leituras." Sem tabus.

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