O Conselho Europeu concordou em reconhecer as aspirações da Ucrânia de aderir à UE. Momentos depois, Dnipro e Lutsk, cidades que ainda não tinham sido bombardeadas, sofreram violentos ataques aéreos que fizeram pelo menos um morto
Enquanto os militares ucranianos vão resistindo aos avanços dos militares russos em Kharkiv e ao cerco em Kiev e Mariupol, nas últimas horas o governo de Zelensky conseguiu uma vitória em Versalhes. O Conselho Europeu reconheceu as aspirações do país em se juntar à União Europeia - o passo inicial de um longo processo para dar início às negociações de adesão.
A declaração do Conselho Europeu foi publicada pouco depois das 3:00 horas, no final do primeiro de dois dias de reuniões entre líderes comunitários, no entanto o documento partilhado por Charles Michel não foi totalmente ao encontro dos desejos do presidente ucraniano que queria que Kiev fosse colocada num caminho rápido para a adesão à UE.
“… without delay, we will further strengthen our bonds and deepen our partnership to support Ukraine in pursuing its European path”. #Ukraine️ #WeStandWithUkraine #EUCO https://t.co/tNsriqVPtK
— Charles Michel (@eucopresident) March 11, 2022
Ainda assim, os representantes dos 27 Estados-Membros uniram-se numa condenação à Rússia pela “agressão militar não provocada e injustificada” e prometeram um apoio inabalável à Ucrânia e aos refugiados que fogem da guerra. “Uma noite histórica em Versalhes”, definiu o presidente da Lituânia após a primeira ronda de negociações, sublinhando que o processo de integração europeia da Ucrânia "já começou". "Agora, resta à Ucrânia conseguir uma rápida integração. A nação heróica ucraniana merece saber que é bem-vinda à União Europeia", escreveu Gitanas Nausėda no Twitter.
A historic night at Versailles. After five hours of heated discussions EU leaders said yes to Ukrainian eurointegration. The process started. Now it is up to us and Ukrainians to accomplish it fast. Heroic Ukrainian nation deserves to know that they are welcome in EU.
— Gitanas Nausėda (@GitanasNauseda) March 11, 2022
Mas enquanto a instituição chefiada por Charles Michel se comprometia a aproximar a Ucrânia da Europa, as cidades de Dnipro e Lutsk foram bombardeadas intensamente pelos russos - pela primeira vez - atingindo um jardim de infância, uma fábrica de sapatos e um aeródromo.
Os ataques aéreos russos destruíram zonas residenciais, informaram os serviços de emergência ucranianos, acrescentando que pelo menos uma pessoa perdeu a vida. Antes das explosões serem ouvidas, sirenes soaram nas duas cidades e em Lviv, que faz fronteira com a Polónia.
Russian strikes also hit Dnipro in central Ukraine pic.twitter.com/6Gn7WymkoJ
— Michael A. Horowitz (@michaelh992) March 11, 2022
Este é o primeiro ataque russo em ambas as cidades, mas não é o primeiro que atinge infraestrutura civil, segundo o ministério da Defesa ucraniano que, num discurso esta quinta-feira, afirmou que mais civis foram mortos do que militares das forças armadas.
“A 10 de março, os ocupantes haviam morto mais civis do que o total de mortos em combate por todos os membros do setor de defesa ucraniano. O Kremlin está a bombardear escolas, hospitais e maternidades.Eles não são capazes de lutar contra o nosso exército. Portanto, atacam os mais vulneráveis”, disse Oleksiy Reznikov, acrescentando “todos os terroristas russos vão ser responsáveis por crimes contra a humanidade”.
❗Around 06:10 in Novokodatsky, a district of #Dnipro, there were three #airstrikes on the city, namely a hit near a kindergarten and an apartment building, and a hit on a two-story shoe factory with subsequent combustion.
— NEXTA (@nexta_tv) March 11, 2022
Preliminarily one person was killed. pic.twitter.com/IBOvw05m0T
Centenas de milhares regressam à Ucrânia
Para o ministério da Defesa ucraniano, a prioridade é agora organizar corredores humanitários para retirar os cidadãos das cidades mais vulneráveis. “Em primeiro lugar, é Mariupol, cidades na região de Sumy, região de Kharkiv, alguns subúrbios de Kiev. Bem como a entrega de bens humanitários”, disse. Nas últimas 24 horas, cerca de 118.000 pessoas cruzaram a fronteira, segundo Andriy Demchenko, porta-voz do Serviço de Guarda de Fronteiras do Estado.
Mas enquanto milhares de pessoas abandonam o país - incluindo cerca de 222 mil que terão chegado à Rússia nos últimos dias, segundo a agência TASS -, outros milhares voltam à pátria-mãe para a defender de uma invasão em curso desde o dia 24 de fevereiro.
“Até ao dia de hoje, 215.000 ucranianos voltaram para casa do exterior. Claro, a maioria deles são homens, principalmente 80%”, disse Demchenko, acrescentando que o tráfego de passageiros nas fronteiras com a União Europeia e Moldova "continua intenso".
Por cá, durante a madrugada, um avião com cerca de 131 refugiados ucranianos aterrou no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Foi o segundo voo humanitário a chegar a Portugal, depois de na tarde desta quinta-feira também terem chegado a Lisboa 217 ucranianos que partiram da Polónia.
China diz que situação na Ucrânia é “desconcertante”. Biden vai pedir fim das relações comerciais normais com a Rússia
O presidente dos EUA, Joe Biden, vai aumentar a pressão económica contra Vladimir Putin esta sexta-feira, pedindo o fim das relações comerciais normais com a Rússia, segundo avança a agência Reuters e a Bloomberg.
A medida vai abrir caminho para o aumento das tarifas sobre as importações russas e surge após as sanções generalizadas contra a Rússia e a decisão desta semana de proibir as importações de petróleo da Rússia pelos EUA e Reino Unido.
Por parte da China não há sanções, mas o primeiro-ministro, Li Keqiang, afirmou esta sexta-feira durante uma conferência de imprensa em Pequim que a situação na Ucrânia era “desconcertante” e que era importante apoiar os dois países nas negociações de cessar-fogo.
No encerramento de uma sessão parlamentar anual, Li Keqiang não respondeu diretamente às perguntas dos repórteres sobre se a China se vai abster de condenar a Rússia, segundo a Reuters. O primeiro-ministro também não se pronunciou sobre se a China está preparada para fornecer mais apoio económico e financeiro à Rússia, que enfrenta sanções.
Conselho de Segurança da ONU reúne-se esta sexta-feira a pedido de Moscovo
Para esta sexta-feira está ainda prevista nova reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas - a pedido da Rússia - para discutir as alegações de Moscovo sobre o uso de armas químicas norte-americanas na Ucrânia.
Os Estados Unidos já rejeitaram estas alegações, considerando-as "risíveis" e alertaram para a possibilidade de Moscovo estar a preparar-se para usar armas químicas ou biológicas na guerra na Ucrânia. Também o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Dmuytro Kuleba, comentou as declarações russas, manifestando preocupação com a "obsessão maníaca" dos russos quanto à possibilidade de os ucranianos utilizarem armas químicas ou biológicas no conflito.
Para Kuleba, esta "fantasia" pode mesmo "indicar que a Rússia está a preparar outra operação de bandeira falsa".