Noite histórica em Versalhes, madrugada de explosões em Dnipro e Lutsk

11 mar 2022, 07:56
À esquerda, Macron e Charles Michel caminham no Palácio de Versailles, à direita: explosão captada na cidade de Lutsk (AP)

O Conselho Europeu concordou em reconhecer as aspirações da Ucrânia de aderir à UE. Momentos depois, Dnipro e Lutsk, cidades que ainda não tinham sido bombardeadas, sofreram violentos ataques aéreos que fizeram pelo menos um morto

Enquanto os militares ucranianos vão resistindo aos avanços dos militares russos em Kharkiv e ao cerco em Kiev e Mariupol, nas últimas horas o governo de Zelensky conseguiu uma vitória em Versalhes. O Conselho Europeu reconheceu as aspirações do país em se juntar à União Europeia - o passo inicial de um longo processo para dar início às negociações de adesão. 

A declaração do Conselho Europeu foi publicada pouco depois das 3:00 horas, no final do primeiro de dois dias de reuniões entre líderes comunitários, no entanto o documento partilhado por Charles Michel não foi totalmente ao encontro dos desejos do presidente ucraniano que queria que Kiev fosse colocada num caminho rápido para a adesão à UE. 

Ainda assim, os representantes dos 27 Estados-Membros uniram-se numa condenação à Rússia pela “agressão militar não provocada e injustificada” e prometeram um apoio inabalável à Ucrânia e aos refugiados que fogem da guerra. “Uma noite histórica em Versalhes”, definiu o presidente da Lituânia após a primeira ronda de negociações, sublinhando que  o processo de integração europeia da Ucrânia "já começou". "Agora, resta à Ucrânia conseguir uma rápida integração. A nação heróica ucraniana merece saber que é bem-vinda à União Europeia", escreveu Gitanas Nausėda no Twitter.

 

 

Mas enquanto a instituição chefiada por Charles Michel se comprometia  a aproximar a Ucrânia da Europa, as cidades de Dnipro e Lutsk foram bombardeadas intensamente pelos russos - pela primeira vez - atingindo um jardim de infância, uma fábrica de sapatos e um aeródromo. 

Os ataques aéreos russos destruíram zonas residenciais, informaram os serviços de emergência ucranianos, acrescentando que pelo menos uma pessoa perdeu a vida. Antes das explosões serem ouvidas, sirenes soaram nas duas cidades e em Lviv, que faz fronteira com a Polónia.

 

 

Este é o primeiro ataque russo em ambas as cidades, mas não é o primeiro que atinge infraestrutura civil, segundo o ministério da Defesa ucraniano que, num discurso esta quinta-feira, afirmou que mais civis foram mortos do que militares das forças armadas.

“A 10 de março, os ocupantes haviam morto mais civis do que o total de mortos em combate por todos os membros do setor de defesa ucraniano. O Kremlin está a bombardear escolas, hospitais e maternidades.Eles não são capazes de lutar contra o nosso exército. Portanto, atacam os mais vulneráveis”, disse Oleksiy Reznikov, acrescentando “todos os terroristas russos vão ser responsáveis por crimes contra a humanidade”.

 

 

Centenas de milhares regressam à Ucrânia

Para o ministério da Defesa ucraniano, a prioridade é agora organizar corredores humanitários para retirar os cidadãos das cidades mais vulneráveis. “Em primeiro lugar, é Mariupol, cidades na região de Sumy, região de Kharkiv, alguns subúrbios de Kiev. Bem como a entrega de bens humanitários”, disse. Nas últimas 24 horas, cerca de 118.000 pessoas cruzaram a fronteira, segundo Andriy Demchenko, porta-voz do Serviço de Guarda de Fronteiras do Estado.

Mas enquanto milhares de pessoas abandonam o país - incluindo cerca de 222 mil que terão chegado à Rússia nos últimos dias, segundo a agência TASS -, outros milhares voltam à pátria-mãe para a defender de uma invasão em curso desde o dia 24 de fevereiro.

“Até ao dia de hoje, 215.000 ucranianos voltaram para casa do exterior. Claro, a maioria deles são homens, principalmente 80%”, disse Demchenko, acrescentando que o tráfego de passageiros nas fronteiras com a União Europeia e Moldova "continua intenso".

Por cá, durante a madrugada, um avião com cerca de 131 refugiados ucranianos aterrou no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Foi o segundo voo humanitário a chegar a Portugal, depois de na tarde desta quinta-feira também terem chegado a Lisboa 217 ucranianos que partiram da Polónia.

China diz que situação na Ucrânia é “desconcertante”. Biden vai pedir fim das relações comerciais normais com a Rússia

O presidente dos EUA, Joe Biden, vai aumentar a pressão económica contra Vladimir Putin esta sexta-feira, pedindo o fim das relações comerciais normais com a Rússia, segundo avança a agência Reuters e a Bloomberg.

A medida vai abrir caminho para o aumento das tarifas sobre as importações russas e surge após as sanções generalizadas contra a Rússia e a decisão desta semana de proibir as importações de petróleo da Rússia pelos EUA e Reino Unido.

Por parte da China não há sanções, mas o primeiro-ministro, Li Keqiang, afirmou esta sexta-feira durante uma conferência de imprensa em Pequim que a situação na Ucrânia era “desconcertante” e que era importante apoiar os dois países nas negociações de cessar-fogo.

Primeiro-ministro chinês Li Keqiang fala durante uma conferência de imprensa após o final da sessão de encerramento da Assembleia Popular Nacional da China

No encerramento de uma sessão parlamentar anual, Li Keqiang não respondeu diretamente às perguntas dos repórteres sobre se a China se vai abster de condenar a Rússia, segundo a Reuters. O primeiro-ministro também não se pronunciou sobre se a China está preparada para fornecer mais apoio económico e financeiro à Rússia, que enfrenta sanções.

Conselho de Segurança da ONU reúne-se esta sexta-feira a pedido de Moscovo

Para esta sexta-feira está ainda prevista nova reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas - a pedido da Rússia - para discutir as alegações de Moscovo sobre o uso de armas químicas norte-americanas na Ucrânia.

Os Estados Unidos já rejeitaram estas alegações, considerando-as "risíveis" e alertaram para a possibilidade de Moscovo estar a preparar-se para usar armas químicas ou biológicas na guerra na Ucrânia. Também o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Dmuytro Kuleba, comentou as declarações russas, manifestando preocupação com a "obsessão maníaca" dos russos quanto à possibilidade de os ucranianos utilizarem armas químicas ou biológicas no conflito.

Para Kuleba, esta "fantasia" pode mesmo "indicar que a Rússia está a preparar outra operação de bandeira falsa".

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